Observatório Pastoral
Praticar a arte espiritual do silêncio. O salmo 46(45),11 tem o 11º mandamento do Senhor que deveríamos levar mais a sério: “PARAI!” porque é na quietude e no abandono que o Senhor dá a conhecer a sua força (Is 30).
É um pouco paradoxal… aliás como no território, em que a interioridade parece sempre o parente pobre de um país a duas velocidades, na espiritualidade passa-se a mesma coisa… são considerados ociosos os que têm tempo para Deus! A interioridade parece não ser “útil”, “prática”. O silêncio deixa de ser procurado para ser um espaço vazio a ser ocupado e é a exterioridade que acaba por ter todo o espaço…
Mas, uma pessoa sem interioridade é uma pessoa desagregada, sem centro. A vida perde coesão. E falar do silêncio, e o direito a ele, é falar de um bem. Até ao séc. XX, o silêncio era norma e o rumor exceção… hoje, o silêncio é que é exceção! Em alguns espaços de lazer de qualidade encontramos a mais-valia “oásis de silêncio”. Vivemos num tempo em que para fazer experiência do silêncio temos de pagar. O silêncio é um luxo!
Fazer silêncio é criar espaço dentro de si para acolher, para praticar a hospitalidade. Precisamos de tempo de silêncio para nos dizermos… Por isso, o silêncio é indispensável. No princípio, era o silêncio! A cacofonia das palavras… sem tempo para a audição efetiva. Vivemos num contexto de comunicação contínua e ininterrupta; o fluxo de palavras e ruídos é ininterrupto e cada um de nós faz parte de uma rede de ligações cada vez mais carente de nós. Nesta rotina diária habitada por tantas conversas, sentimos o momento de paz, silêncio e desconexão como um oásis. Até nas nossas liturgias falamos demasiado… sobretudo o celebrante. Explicações contínuas que tornam sem graça o mistério inerente ao rito… e depois vêm os lembretes, admoestações, admonições e a Palavra a diminuir na proporção inversa… a perder eficácia!
Um desafio: vamos começar a fazer uma “missa sem pressa”, que aponte para todos os nossos sentidos… vamos pensar cada vez menos numa “missa dos aflitos” e a “da obrigação”! Uma missa com harmonia nas partes, onde o silêncio está presente como a Palavra, o rito e a explicação… e os hinos… Missas que tocariam na camada de tédio que tantas vezes nos imuniza diante de missas previsíveis… Mais curtas, em que nada nem ninguém fará de “velinha” no encontro pessoal com Cristo, mas adequado aos nossos ritmos de vida… missas em que não se olha para o relógio ou para o telemóvel… porque também a missa não será “ad libitum”, ou seja, consoante o celebrante, consoante a “inspiração” momentânea do celebrante. Nos nossos dias a nossa concentração reduz-se a mínimos históricos… uma missa do silêncio! “Vou a esta missa porque é rápida”… quem sabe está aí escondida uma “virtualidade”!
Rever os horários das missas… se combinarmos um horário mais moderno, talvez estamos a dar um passo – de humildade, de incarnação, de “aniquilamento”, ao jeito de Jesus – em direção aos cristãos do nosso tempo e às suas necessidades espirituais. Hoje pus-me para aqui a sonhar!