Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

A Quaresma que iniciámos com a imposição das Cinzas, convida-nos a fazer uma reflexão espiritual à luz da Palavra de Deus, contemplando o caminho de Jesus que se deixa conduzir pelo Espírito Santo para abraçar a cruz e nos oferecer a luz. Num tempo de tantas mudanças e contrastes, um mundo em pandemia e ameaçado pela guerra na Ucrânia, desafia-nos a viver estes quarenta dias em ambiente de escuta da Palavra de Deus, de oração, de penitência e de jejum pela paz. O cenário ameaçador da guerra provoca outras crises e dificuldades mundiais, que nos levam como seres humanos a olhar com esperança para Jesus crucificado e ressuscitado, como fonte da verdadeira paz e da harmonia pascal.

O “tempo favorável da salvação”, conduziu-nos a escutar no primeiro domingo da Quaresma o Evangelho das Tentações de Jesus, para nas suas respostas ao diabo encontrarmos a fortaleza e o remédio espiritual para superarmos na fé a tentação e a provação do pecado. Neste contexto a palavra provação deve ser entendida no sentido das dificuldades humanas, morais e espirituais que nos impedem de seguir Jesus no caminho da Cruz e sermos verdadeiros discípulos missionários.

O texto das tentações transmite-nos o sentido real da vivência de Jesus no deserto, agora como proposta de caminho espiritual para todos os crentes: o diabo tenta Jesus em três dimensões importantes da caminhada da fé e da nossa relação com as pessoas, as coisas e o mundo: o ter, o poder e o prazer.

Jesus sentiu fome e o diabo disse-lhe: “Manda a esta pedra que se transforme em pão”. Jesus respondeu: “Nem só de pão vive o homem”. É preciso acolher a Palavra de Deus e criar uma relação nova de amor e de esperança com o Pai. Jesus derruba o diabo com audácia e diz-lhe: “Ao Senhor teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto” (cf Lc 4,1-13).

A Quaresma é o tempo propício para invocar o Senhor na oração, para renovar a fé e acreditar no amor do Senhor, que está vivo na Igreja, na Palavra, na Eucaristia, nos Sacramentos, no seu Povo reunido, nos pobres e abandonados, nos perseguidos e refugiados deste mundo.

Este é o caminho da conversão pessoal e comunitária, que opera na nossa vida a verdadeira e autêntica renovação pascal. Quem acredita no Senhor Jesus será salvo e terá a vida eterna.

Com espírito de adoração, olhemos para Jesus e para a sua Cruz ao longo da Quaresma, para entendermos o seu caminho, a sua missão salvífica, a necessidade de retirar-se do meio do mundo para fazer silêncio no deserto, rezar e jejuar durante quarenta dias.

Façamos também nós a nossa travessia no deserto quaresmal, rumo à Páscoa da Ressurreição, porque este é “um tempo de jejum, penitência e vigilância sobre nós mesmos, estando convencidos de que a luta contra o pecado nunca termina, porque a tentação é uma realidade de cada dia, e a fragilidade e a ilusão são experiências de cada um de nós” (Papa Bento XVI). Por isso, sem luta espiritual contra o diabo, contra o mundo e contra nós mesmos, remando contra a maré, será difícil ressuscitarmos com Jesus Cristo na manhã da Páscoa.

Iniciámos a Quaresma ameaçados pela guerra na Ucrânia. A Rússia invadiu este povo, fazendo dispersar mais de um milhão e quinhentos mil refugiados por vários países da Europa. Um povo sacrificado que se defende dos inimigos e reza para alcançar a paz. Com este ataque à integridade de um povo, de uma nação está a criar-se instabilidade na Europa e no mundo. A olhar para um povo em sofrimento são muitas as manifestações de oração, de solidariedade, de partilha e de diálogo para pedir a paz.

Condenemos a guerra e digamos sim à paz! Surgem muitas perguntas na nossa mente e no coração, mas encontramos poucas respostas para o porquê deste conflito, que levou os responsáveis pela Rússia a atacar e a destruir de forma tão violenta e irracional o povo da Ucrânia e as suas instituições. A guerra nunca é solução para resolver conflitos, devemos promover o diálogo entre os povos para alcançarmos o progresso e a paz.

Da tentação da guerra, da violência, do ódio, da injustiça, da perseguição, do pecado individual, comunitário e social, da destruição e da morte, livrai-nos Senhor. “Caminhemos juntos, alimentados pelo Pão da Vida”. Eis o nosso programa pastoral, o caminho diocesano sinodal nesta Quaresma: “caminhar juntos, na comunhão, na participação e na missão”.

A subida ao monte Tabor e a proposta do mistério da Transfiguração de Jesus, que vamos celebrar no segundo domingo da Quaresma, insere-se no caminho que os discípulos de Jesus fazem com Ele. Depois da confissão de fé de Pedro, em que descobre que Jesus é o “Cristo de Deus” (Lc 9,20), Jesus anuncia, pela primeira vez, a sua paixão, morte e ressurreição (cf. Lc 9,22).

Num contexto de oração, já sem a presença de todos os seus discípulos, na companhia dos três escolhidos, Pedro, Tiago e João, Jesus transfigura-se e manifesta a sua glória de ressuscitado. A cena da Transfiguração de Jesus, no monte, a presença de Moisés e do profeta Elias pretendem trazer luz aos discípulos sobre os acontecimentos da Páscoa.

Vivamos intensamente a Quaresma na escuta da Palavra de Deus, na oração mais intensa, no jejum mais verdadeiro e na conversão com um coração transfigurado, aberto à partilha do pão com os irmãos mais necessitados. A nossa renúncia Quaresmal de 2022, destina-se a ajudar a Diocese de São Tomé e Príncipe, um projeto dos Combonianos no Congo e as necessidades pastorais da nossa Diocese.

Preparemo-nos para acolher a peregrinação dos símbolos da JMJ na nossa Diocese de Viseu, deixemo-nos transformar por Jesus Cristo transfigurado no monte Tabor e levemos a todas as pessoas e instituições a graça da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo e o ícone de Maria “Salus Populi Romani”.

Caríssimos jovens, como “Maria levantemo-nos e coloquemo-nos a caminho”, sejamos como sentinelas atentas para guardar a fé e servir a missão da Igreja de Jesus Cristo, no mistério da Cruz e da Ressurreição.

Rezemos a São José, pedindo para nos acompanhar com a sua presença paterna neste caminho para a Páscoa.

 

† António Luciano, Bispo de Viseu
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