“Buscai o Senhor com alegria” é o título de um livro de espiritualidade cristã, do autor Pedro Finkler onde desenvolveu muito a temática da espiritualidade cristã e da oração na Igreja, com particular atenção à vida consagrada e aos leigos empenhados numa vida de consagração secular no meio do mundo. Na introdução deste livro explica o seu aparecimento e atualidade. “Como estou um pouco metido no apostolado da formação permanente entre os Religiosos e dou bastantes cursos de pedagogia da oração pessoal e comunitária, acabei por gerar mais esta criatura”. Dizia ele então: “espero que ajude o leitor a encontrar o seu caminho para construir a sua própria vida de oração”. Na verdade, no seu livro sobre a oração: “Quando o homem reza”, ele afirma, que quando o homem reza, algo muda nele e à sua volta. É esta a finalidade da oração, a transformação interior da nossa vida, a nossa própria conversão, a receção da graça divina, que vem através da oração feita com humildade, sinceridade e simplicidade do coração e da alma do crente, seja ele leigo, religioso, consagrado, sacerdote, diácono ou Bispo.
A experiência do salmista imbuído da Palavra de Deus e com espírito de confiança divina, exprime na oração os seus sentimentos: “Senhor, sois o meu Deus, desde a aurora vos procuro, a minha alma tem sede de vós, por vós suspiro como terra árida, sequiosa, sem água” (Sl 62).
O grande teólogo moralista Bernard Haering, no final da década de oitenta do século XX, quando escreveu sobre o que devia ser a Teologia Moral Católica no Terceiro Milénio, fazia um grande desafio aos cristãos: serem “buscadores de Deus”. Quem busca o Senhor é feliz e oferece felicidade aos outros. O tema continua atualíssimo no processo da evangelização, da caminhada sinodal e da renovação da Igreja, pois o essencial do cristianismo é a verdadeira busca de Deus com alegria, através do encontro pessoal com Jesus Cristo, o filho de Deus, que morreu na cruz e ressuscitou para nos salvar.
Buscar o Senhor com alegria e viver como cristão o caminho dos discípulos de Emaús é descobrir o grande desafio teologal da fé e assim, promover a sua maior glória, através da catequese, da liturgia e da caridade num projeto vital, que deve proporcionar sempre um verdadeiro encontro com o Salvador do mundo.
Quem encontra Jesus na sua vida é feliz e pode cantar com o dinamismo a grandeza da sua fé: “Alegrei-me quando me disseram: Vamos para a Casa do Senhor! Nossos passos já se detêm às tuas portas, Jerusalém” (Sl 121, 1-2). Podemos dizer como Maria, “a minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador” (Lc 1, 46). Maria faz da sua oração um modelo por excelência. Ela é a Mãe e a Virgem orante, que intercede e cuida com alegria dos seus filhos neste Vale de Lágrimas.
Pedro Finkler afirma, que “a oração é também o modo por excelência de libertar o homem de ontem, de hoje e de amanhã de tantas cadeias que lhe tolhem a liberdade de viver”. O cristão é uma pessoa humana, que encontrou Jesus Cristo e aderiu ao seu projeto, procurando nele o modelo para ser verdadeiramente, discípulo missionário. O discípulo deve aprender a viver os ensinamentos do mestre e depois pô-los em prática. A vida de oração é sempre uma inefável experiência pessoal apostolicamente eficaz. Para que ela possa crescer exige sempre um clima de esperança, privilégio daqueles que se humilham para se darem ao Senhor e se colocarem ao serviço dos irmãos. Uma verdadeira vida de oração caracteriza o estilo de vida. O modo de orar corresponde ao modo de amar. O modo de orar ou de amar a Deus define o modo de pensar, de sentir e de agir da vida da pessoa. Vida de oração é como vida de amor e de graça. Não se começa a rezar verdadeiramente quando se quer, mas quando se pode, isto é, quando há condições para tal. O essencial dessas condições é a motivação interior para buscar a Deus, conhecê-Lo, amá-Lo e segui-Lo como o amigo verdadeiro. Podemos dizer, que a oração é uma descoberta de Deus em nós, um fruto da moção do Espírito Santo, que reza em nós com gemidos inefáveis. A vida de oração leva-nos ao nosso interior mais profundo, que sente necessidade de mergulhar no mistério de Deus e em nós próprios. Deixemo-nos conduzir pelo Senhor e viver a nossa vocação cristã animada pela graça do Espírito Santo.
Façamos em nós a verdadeira experiência da oração. Cultivemos a disponibilidade, pois basta confiar, dizer sim, não resistir, abandonar-se no coração de Deus e fazer a sua vontade. “Basta deixar-se buscar, deixar-se encontrar, deixar-se amar por Ele”. Santo Agostinho consciente da graça da sua conversão e da rica experiência da sua vida em Cristo, ao dar-se conta do amor insondável de Deus, acha inútil buscar outros tesouros na terra. “Tu nos fizestes para Ti, Senhor. O coração do homem está inquieto enquanto não repousar em Ti” (S. Agostinho, Confissões).
A semente da oração foi lançada no coração do ser humano no dia do nosso Batismo, continuando através da graça dos outros sacramentos. Por isso, a beleza dos sacramentos da iniciação cristã está na fecundidade da graça e da oração, enquanto qualidade de vida espiritual e força motriz do nosso apostolado. A vida cristã pode ser condicionada pela qualidade da nossa vida de oração e pelo nosso testemunho. Sem oração os cristãos somos como árvores de fruto estéreis. Inúteis na Igreja e no mundo.
As parábolas de Jesus sobre a oração ajudam-nos a entender a sua importância e o valor para progredir na vida espiritual. Jesus rezava sempre ao Pai e retirava-se muitas vezes para os montes para conversar e entrar em intimidade com o Pai.
Pedro Finkler sabe expor a doutrina de Jesus sobre a oração e explicá-la de modo simples. Recordemos o pedido feito a Jesus pelos seus discípulos: “Senhor ensina-nos a rezar”. Na verdade, a oração do Pai-Nosso é a oração por excelência, que Jesus ensinou. Só a oração humilde, verdadeira e sincera sustenta a nossa vida. O autor ensina os leitores a rezar, a ter gosto pela oração, a sentir necessidade dela e a perceber, que a oração é a respiração espiritual da nossa vida interior. Não se cansa de ensinar a rezar quem não sabe, ensina métodos, centra a oração na vida quotidiana e coloca em oração quem não sabe rezar.
A Igreja e o mundo precisa destes mestres, de Bispos, de sacerdotes, de diáconos, de consagrados e de leigos que façam o caminho sinodal como mestres e testemunhas, que ensinam a acolher, a escutar, a dialogar, a perdoar, a viver, a rezar e a amar a Deus e aos irmãos.
Esta semana realiza-se em Fátima, mais uma vez, o Simpósio do Clero. Nele participaram Bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos e seminaristas, que devem aprender a ser mestres de oração para ensinarem como pastores, animadores e líderes, o povo de Deus, particularmente os jovens a caminhar para a JMJ 2023 com vida de oração autêntica. Convido o povo de Deus a rezar por esta intenção, a fazer preces pelo fim dos incêndios, pelo fim da guerra e fazendo clemência ao Céu, para que Deus nos dê o dom da chuva urgente e necessária para pôr fim a tão grave seca no nosso país e em tantas partes do mundo. A dimensão grandiosa da Igreja, sinal do amor salvífico de Deus, forja-se na fé e na oração veículo da graça de Deus e realiza-se no serviço pastoral, cuidando dos fiéis. Sem fé e oração não há verdadeira vida interior, não há graça santificante, não há comunidade cristã, não há caminho sinodal, não há espiritualidade, nem prática sincera e generosa da caridade.
No final das férias para tanta gente, no regresso ao trabalho, à escola, à universidade, à catequese, à vida familiar, a tantas atividades pastorais, académicas, laborais e civis, não nos esqueçamos de levar na bagagem a especiaria da oração pessoal e comunitária. Imploremos a proteção de Maria, a mulher crente e orante do Evangelho, e rezemos com fé e confiança dizendo: “Senhor, ensina-nos a rezar”!