Todos somos chamados para a missão pela graça do Espírito Santo. Ninguém pode ficar de fora da missão. “Tal como Cristo é o primeiro enviado, ou seja, missionário do Pai (cf. Jo 20,21) e, enquanto tal, a sua “Testemunha fiel” (Ap 1,5), assim também todo o cristão é chamado a ser missionário e testemunha de Cristo. A Igreja, comunidade dos discípulos de Cristo, não tem outra missão senão a de evangelizar o mundo, dando testemunho de Cristo. A identidade da Igreja é evangelizar” (Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões 2022).
A primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, que nos impele a amá-Lo cada vez mais em todas as coisas. A resposta a este dom revela-se através da vocação, o chamamento por excelência, anunciando a todos a Boa Nova da salvação com alegria e ousadia como os primeiros cristãos. A missão evangelizadora da Igreja na proposta do Papa Francisco na mensagem missionária, coloca diante de nós o mandato de Jesus: “Sereis minhas testemunhas” (Act 1,8), “até aos confins do mundo” e “recebereis a força do Espírito Santo”, constituindo estas três expressões-chave, os três alicerces da vida e da missão dos discípulos. A vocação missionária convida-nos a levar ao mundo a Boa Nova de Jesus Cristo com palavras e obras, na identificação da vocação, da consagração e da missão universal da Igreja.
Os missionários de Cristo não são enviados para comunicar-se a si mesmos, mostrar as suas qualidades e capacidades persuasivas ou os seus gestos de gestão. Têm a sublime vocação de na evangelização caminharem juntos: o exemplo da vida cristã e o anúncio de Cristo. Um serve ao outro. São os dois pulmões com que deve respirar cada comunidade cristã para ser missionária.
O Papa Francisco exorta todos os missionários “a retomarem a coragem, a ousadia, aquela parresia dos primeiros cristãos, para testemunhar Cristo, com palavras e obras, em todos os ambientes da vida” (Mensagem para o Dia Mundial das Missões 2022).
A palavra chave do sucesso da vocação e da missão é o ser “testemunha” de Cristo ressuscitado. São Paulo VI afirmava: “O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres (…) ou então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas” (EN 41).
O Concílio Vaticano II, no Decreto Ad Gentes, sobre a atividade missionária da Igreja afirmou, que esta terá sempre de ir mais longe, mais além das próprias fronteiras para testemunhar a todos o amor de Cristo. O ir mais além como pede o Papa Francisco é ser uma Igreja “em saída” ao encontro de todos, principalmente dos mais pobres, excluídos e vulneráveis da sociedade, que vivem nas “periferias” existenciais do nosso mundo. Uma Igreja em missão está sempre “em saída” para anunciar até aos confins do mundo a “Alegria do Evangelho e a novidade da salvação: “Recebereis a força do Espírito Santo”.
Receber a alegria do Espírito Santo é uma graça que devemos proporcionar a todos os jovens e adultos da nossa Diocese, que estão em preparação catequética e caminhada espiritual para receber ao longo deste Ano Pastoral o Sacramento da Confirmação e caminhar juntos rumo às Jornadas Mundiais da Juventude de 1 a 6 de agosto de 2023 em Lisboa.
Ajudemos cada um a encontrar-se com a pessoa de Jesus Cristo, para que animados pelo Espírito Santo, descubram a grandeza e a dignidade da vocação cristã e o serviço ao próximo.
Nas últimas décadas a palavra vocação perdeu um pouco o sentido próprio que lhe era dado, quer fosse na dimensão eclesial como chamamento à vida consagrada, religiosa, missionária ou sacerdotal, quer ainda a vocação matrimonial e laical identificada muitas vezes com o caminho para assumir de modo responsável o dever de estado e a própria profissão assumida como vocação.
Perdeu-se, também o sentido da vida como chamamento, entrega, oferta a Deus e ao próximo, onde se vivia a realização da existência humana como vocação ao serviço abnegado dos outros e da sociedade.
A profissão era vista muitas vezes como uma vocação, a realização e a missão, a profissão do médico, do professor, do engenheiro, do gestor, do operário, do agricultor, da família era assumida como compromisso em liberdade e responsabilidade para toda a vida.
Falar de vocação significava participar num processo de discernimento e orientação para a vida, tendo em vista a escolha de sentido, a opção fundamental, a decisão básica, a realização da pessoa e o serviço prestado a Deus e ao próximo. As correntes de pensamento da nossa sociedade, as mudanças vertiginosas de valores, o materialismo e ateísmo teórico e prático levaram a pessoa humana a perder o sentido cristão da vida, o valor sobrenatural das coisas e a buscar a felicidade no horizonte das coisas terrenas, levando à banalização do sagrado, à laicização da pessoa humana e da sociedade contemporânea.
Perante este mundo em mudança, torna-se urgente revitalizar a missão evangelizadora da Igreja e levar a Boa Nova de Jesus Cristo até aos confins da terra. É preciso ter a audácia de caminhar com alegria na missão evangelizadora pela autoestrada do desenvolvimento tecnológico, dos grandes desafios sociais, das novas redes digitais de comunicação, para lutar contra a guerra, a pobreza, a economia sem escrúpulos, a indiferença, o individualismo e a apatia da relação que leva à solidão.
Exorto a todos os Diocesanos a vivermos o novo Ano Pastoral com alegria e esperança: “Animados pelo Espírito Santo com os jovens a caminho”.
Neste mês do Rosário e Missionário, convido-vos a olhar para Maria, a Mulher Missionária e peço-vos a generosidade das vossas orações pelos bons frutos do Ano Pastoral, pela Formação Permanente do Clero, que decorre a 11 e 12 no Seminário de Viseu, pelas intenções da Peregrinação de 12 e 13 de outubro a Fátima, pelo Congresso Missionário a realizar em Lisboa na Universidade Católica no dia 14 e 15, pela caminhada pela Defesa da Vida, pelo Dia Mundial das Missões, pelos grandes problemas da Igreja e do mundo, pela renovação da Diocese de Viseu e pelo aumento das vocações missionárias.
A missão é de todos e para todos. Todos somos chamados a ser discípulos missionários, Todos! Tudo e sempre em missão, em todas as paróquias, comunidades e serviços, para testemunharmos no mundo de hoje a Boa Nova de Jesus Cristo, o Missionário do Pai.