Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

Alguns acontecimentos marcaram a última semana do ano de 2022, nesta quadra festiva da Oitava do Natal. O agravamento da guerra na Ucrânia, tantos conflitos em diversas nações, tragédias e tempestades em vários lugares do mundo, a morte do jogador Pelé no Brasil, outros acontecimentos marcantes para instituições e nações, o encerramento do quarto centenário da morte de São Francisco de Sales e a morte do Papa Emérito Bento XVI foram alguns momentos marcantes dos últimos dias.

Destes, recordo apenas os dois últimos acontecimentos, que pela dimensão eclesial, social e universal, tiveram eco no seio da Igreja.

No primeiro evoco a pessoa e a figura São Francisco de Sales, Bispo de Genebra, Fundador das Irmãs Contemplativas da Visitação, padroeiro dos Jornalistas e dos Profissionais dos Meios de Comunicação Social. A grandeza deste Pastor e Doutor da Igreja, faz-nos refletir e pensar na fonte da nossa própria existência, o “Amor”, que Ele bem expressou nas suas obras.

São João ensina na sua primeira carta: “Deus é Amor” (1 Jo 1) e quem acredita no Amor, vive no Amor, pertence ao Amor, deve ser testemunha do Amor, pois, na ternura e na contemplação de Deus: “Tudo pertence ao amor”.

Por ocasião da celebração do IV centenário da sua morte (1622-2022) em Lyon, França, o Papa Francisco recorda a sua memória ao publicar a Carta Apostólica “TOTUM AMORIS EST”, como sendo um testemunho eloquente do amor, como refere em “Tudo pertence ao amor”.

“O amor é o princípio da nossa vida devota ou espiritual, por meio da qual vivemos (…) Não é possível ter a vida sem o amor; nem o amor sem a morte do Redentor”.

A fé é uma atitude do coração que nos leva ao amor de Deus derramado nos nossos corações.

No final da sua vida São Francisco de Sales entrega às Irmãs da Visitação fundadas por Santa Joana Chantal e por ele a seguinte recomendação: “Nada pedir, nada recusar”.

Nos últimos momentos da sua vida no mosteiro de Lyon, num último encontro com as Irmãs disse como gostaria de ser lembrado por elas. “Resumi tudo nestas duas palavras, quando vos disse para não recusar nada, nem desejar nada; não tenho mais nada para vos dizer”. “Não devemos desejar nada, nem recusar nada”.

Palavras sábias envolvidas no amor e na esperança da bem-aventurança eterna.

Dizia aos que o rodeavam: “A caridade e o amor é que dão valor às nossas obras”. Não se cansava de lembrar, “onde se encontra o maior amor”. Deus é amor, o maior amor é possuir Deus e todo o ato de amor tem a sua fonte em Deus, vem de Deus e leva-nos de novo a Deus pelo caminho da santidade.

“Na santa Igreja, tudo pertence ao amor, vive no amor, faz-se por amor e vem de amor” (Tratado do amor de Deus).

Que sejamos capazes de imitar o testemunho de mansidão e de doçura que inflamou o coração e a vida de São Francisco de Sales.

O segundo acontecimento refere-se à morte do Papa Emérito Bento XVI, ocorrido no dia 31 de dezembro de 2022.

Depois do agravamento do seu estado de saúde na quarta-feira passada o Papa Francisco pediu orações pelas suas intenções e saúde. A notícia da sua morte surpreendeu os cristãos, embora todos esperássemos que um dia a candeia acesa da sua vida a brilhar pela vida da Igreja e do mundo, se extinguiria. Ficamos com o seu testemunho de fé, de oração, de silêncio e de contemplação de um Pastor, que entregou a vida a Deus na fidelidade e sofrimento pelas intenções da Igreja, do Pontificado do Papa Francisco e pela renovação espiritual dos cristãos e transformação do mundo.

Pastor exemplar um “simples e humilde trabalhador da vinha do Senhor”, serviu a Igreja com espírito de fé, de sabedoria e prudência, alimentando-a com a sua cultura teológica em grau elevado e com a sua vasta cultura e conhecimento do mundo atual. Ficará sempre lembrado na Igreja e no mundo como um verdadeiro Pastor da Igreja Universal, um teólogo eminente, um mestre da doutrina e da fé, um professor de teologia referenciado, um servidor do amor, da esperança e um buscador permanente da verdade. Acredito e espero, que um dia a Igreja o apresente aos fiéis como Doutor e Mestre da fé.

Rezemos todos pelo seu eterno descanso, que Deus o recompense pelas suas boas obras e o torne nosso intercessor na glória celeste.

Acolhamos o seu testamento espiritual e unidos à Santíssima Trindade, façamos crescer o Corpo de Cristo, a Igreja e não tenhamos medo de testemunhar no mundo a nossa fé em Jesus Cristo. “Permaneçam firmes na vossa fé” (Bento XVI).

 

† António Luciano,
Bispo de Viseu
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