Jesus Cristo, a Testemunha fiel, fez de nós um reino de sacerdotes para Deus seu Pai.
A celebração festiva da “Missa Crismal”, presidida pelo Bispo da Diocese, na manhã de Quinta-Feira Santa, concelebrada pelos sacerdotes diocesanos e religiosos, manifesta ao mundo a visibilidade da Igreja, povo sacerdotal constituído também por diáconos, consagrados e leigos.
Os sacerdotes, unidos em presbitério por um vínculo sacramental recebido no dia da sua ordenação, testemunham a caridade do próprio Cristo, vivendo o amor fraterno como irmãos, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Saúdo com amizade fraterna e caridade sacramental os sacerdotes que celebram o Jubileu Sacerdotal. Os que celebram 25 anos de Ordenação Sacerdotal são: O Cónego António Jorge dos Santos Almeida, o Padre Eurico José Pereira Teixeira de Sousa e o Padre Vasco Miguel de Castilho Moreira Gil (da Opus Dei). Os Sacerdotes que celebram 60 anos são: o Padre José dos Santos Quinteiro Lopes, o Padre Álvaro Dias Arede, o Padre António da Costa Ferreira de Carvalho, o Padre António de Sousa Fernandes e o Padre Manuel Cardoso Júnior. Os sacerdotes que celebram 70 anos são: o Padre Jerónimo Rodrigues Coutinho e o Padre Francisco da Cunha Marques, ambos a residir no Centro Sócio Pastoral de Viseu. Felicito-os e dou-lhes os meus sinceros parabéns, com muita gratidão e reconhecimento pelo trabalho pastoral realizado.
A Diocese de Viseu está empenhada em viver os desafios do Programa Pastoral: “Animados pelo Espírito Santo com os jovens a caminho”. Todos juntos, somos convidados a “escutar com docilidade o Espírito Santo”, tanto os presbíteros, consagrados e leigos, chamados a viver a fé na expressão visível da “comunhão, da participação e da missão”.
Esta celebração, rica de significado teológico, cristológico, eclesial e pastoral para toda a Diocese, mergulha na profundidade do mistério Pascal de Cristo, Profeta, Sacerdote, Pastor, Rei e Mestre, e oferece-nos uma “linhagem de sacerdotes do Senhor”, Jesus Cristo, o “Primogénito dos Mortos”, “Aquele que é, que era e que há de vir, o Senhor do Universo” (Ap 1,8), e que fundou a Igreja, mistério de comunhão e de unidade, verdadeiro ícone da Santíssima Trindade.
Jesus chamou os doze para andarem com Ele e constitui-os apóstolos, a quem confiou o pastoreio da própria Igreja. Depois chamou os discípulos e convidou-os a fazer juntos o caminho sinodal, no discernimento vocacional para O seguir. Seguidamente, enviou-os a todas as aldeias, vilas e cidades, aonde Ele havia de ir, dando-lhes a missão de anunciar o Reino de Deus. À luz deste texto do Evangelho, olhemos para a nossa missão de pastores nas nossas paróquias, com as dificuldades e esperanças que temos, com os sucessos e as fraquezas, o envelhecimento do clero e a falta de vocações ao sacerdócio, e criemos juntos uma verdadeira cultura vocacional nas nossas paróquias. Rezemos pela perseverança dos seis seminaristas que frequentam o nosso Seminário Inter-Diocesano de São José, em Braga. Rezemos pelos acólitos e pré-seminaristas a Jesus, que continua a chamar jovens e adultos para que, com liberdade interior e responsabilidade cristã, sejam preparados para receber o ministério ordenado, em benefício do povo de Deus.
O ministério sacerdotal não pode ser vivido sem a luz da esperança, sem a alegria da fé e sem o bom odor da caridade de Cristo. Ser padre hoje é uma missão que exige muito desprendimento, nobreza de alma e generosidade interior, para seguir a pessoa de Cristo e imitar as virtudes do Bom Pastor. A “Ratio Fundamentalis”, documento da Igreja, importante para a Formação dos Sacerdotes, dá-nos orientações importantes e linhas sérias de ação e formação sobre o estilo atual da vocação e vida do padre.
Precisamos de ganhar confiança no Senhor e no seu povo. Procuremos viver sempre o ministério sacerdotal em espírito fraterno, em comunhão, dando atenção à vida comunitária dos sacerdotes, ajustada ao nosso estilo próprio de vida e às exigências do nosso tempo. A solidão e o isolamento sacerdotal destroem a imagem de Cristo, o Bom Pastor, e levam-nos a uma busca desordenada do ter, do poder e do parecer, pondo em risco a verdadeira liberdade e identidade humana e sacerdotal. O padre deve ser sempre imagem do Bom Pastor, seguindo os passos de Cristo no caminho da Cruz e da Ressurreição com disponibilidade, alegria e entusiasmo pastoral.
O Papa Francisco adverte-nos muitas vezes para termos cuidado com o carreirismo, o clericalismo, o mundanismo espiritual e o abuso do poder, formas gastas de viver e servir a Deus e a Igreja. Procuremos exercer o ministério sacerdotal com proximidade, numa relação sadia com todos. Destes males e de outros, que não educam para a responsabilidade criativa do ser humano, nem para o exercício do ministério sacerdotal como verdadeira experiência de “opção fundamental”, livrai-nos Senhor.
Podemos perguntar-nos qual é o maior bem que um sacerdote pode e deve realizar? Não há desculpas possíveis, resta-nos o brio e o brilho da verdade, da autenticidade, da espiritualidade, da ética e da fidelidade recebida e vivida como dom na nossa ordenação sacerdotal. E, na verdade, “transportamos um tesouro em vasos de barro”. A gratuidade do dom sacerdotal manifesta-se na obediência a Cristo e à sua Igreja, na pobreza evangélica, num coração puro e generoso, reto e sóbrio, transparente e coerente, pacífico e manso, com dinamismo e testemunho de paz.
Queremos pedir ao Senhor a graça de estarmos disponíveis para prevenir, defender e cuidar os inocentes, as crianças, os indefesos e os mais vulneráveis, preservando-os de toda a espécie de mal.
Como presbitério, estamos todos sob suspeita de graves erros e crimes, levamos na nossa vida a dor e o mistério da Paixão, carregando a nossa cruz, a dos nossos irmãos e também a das vítimas. Sofremos com Cristo a dor do abandono e do escárnio, envolvidos no mistério salvífico da Cruz, para com Ele ressuscitarmos no mistério da Páscoa, e, com energia nova, cuidarmos das vítimas de abusos sexuais de crianças na Igreja Católica em Portugal. Peçamos juntos ao Senhor e a todas as vítimas perdão pelos abusos sexuais cometidos a crianças e adultos vulneráveis no seio das instituições da Igreja. Com firmeza, façamos tudo o que estiver ao nosso alcance, para que, através da prevenção, da formação e do cuidado, as vítimas recuperem a saúde que lhes foi roubada. Rezemos para que tão nefastos males e crimes hediondos nunca mais aconteçam na vida da Igreja e da sociedade.
Todos juntos, pedimos às famílias, às crianças, aos adolescentes e aos jovens que não tenham medo de vir à Igreja, de celebrar com alegria a fé, a Eucaristia, de viver em comunidade com os outros, de frequentar a catequese e de participar nas atividades dos grupos paroquiais e movimentos eclesiais. Façamos da Igreja uma bênção, uma Instituição e Casa Comum segura para todos, onde todos se sintam bem, sejam sempre acolhidos e felizes.
As crises do mundo de hoje, da vida, dos presbíteros e da Igreja não são indiferentes aos discípulos de Cristo, que desejam ser fiéis no Seu seguimento. “Sim, é importante que os padres fujam da mediocridade na sua vida. Nós não recebemos a ordenação para sermos insípidos e sombrios” (A vocação do padre perante as crises). Eis algumas pistas para um caminho de renovação e de esperança, pois Jesus ensina-nos a pedir e a dar com gratuidade. O verdadeiro Mestre, Jesus Cristo, alimenta o seu Povo na fé, os seus sacerdotes através do estudo e escuta da palavra de Deus, da oração, do terço, da meditação, da “Lectio divina”, da formação humana, cristã, teológica e espiritual, do retiro anual, da pregação e da caridade sacramental e pastoral, meios eficazes para viver a fidelidade sacerdotal numa harmonia credível e saudável.
Coloquemos Cristo no centro da nossa vida, da missão eclesial e da liderança. Eis a questão principal e de fundo. Precisamos de ser padres felizes e santos, capazes de curar as feridas da Igreja e da humanidade.
Perante as dificuldades no exercício do ministério presbiteral e diante da crise mundial, visível aos olhos de todos, é necessário dar passos para erradicar a pobreza, a fome e as desigualdades humanas, económicas e sociais. A pastoral social, a evangelização e a catequese das famílias, das crianças e dos jovens e ainda a falta de vocações sacerdotais são as nossas principais preocupações pastorais, vividas à luz do Evangelho do Bom Samaritano.
O Bispo, reunido com o seu presbitério, consagrados e leigos na celebração da Eucaristia, convida os presbíteros a renovarem as suas promessas sacerdotais. Convoca os fiéis presentes a rezar pela sua santificação, pelos sacerdotes, pelas necessidades do povo de Deus e da Igreja, pelo aumento das vocações sacerdotais, pelos seminaristas, acólitos e pelos jovens em caminho para a Jornada Mundial da Juventude, nos dias da diocese e em Lisboa. Nesta Eucaristia, são também benzidos os óleos dos enfermos e dos catecúmenos e é consagrado o óleo santo do Crisma.
O Evangelho de Lucas diz que Jesus foi a Nazaré, onde Se tinha criado, pegou no Livro de Isaías e disse: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres. Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos, a proclamar o ano da graça do Senhor” (Lc 4, 16,21).
Nunca esqueçamos o Bispo que nos ordenou, ungiu e confirmou como presbíteros. O sacerdote foi escolhido para pregar, amar, abençoar, curar e servir à maneira de Cristo, o Bom Pastor, que nos manda apascentar as ovelhas do seu rebanho.
Perante o fenómeno da descristianização, da falta de vocações e do envelhecimento dos sacerdotes, a vida pastoral enfraquece e falta a participação das famílias e crianças nas comunidades; o afastamento dos jovens diminui a motivação para a participação das JMJ e outros eventos. A falta de espírito e fulgor missionário, a pobreza de meios e de pessoas, assim como o fenómeno da desertificação e da indiferença criam em muitas comunidades um vazio humano e espiritual. São precisas respostas novas para mudar o estilo de vida dos sacerdotes, através de uma verdadeira conversão eclesial, identificada com Cristo, o Cordeiro Pascal.
Entreguemo-nos e confiemo-nos à proteção da Santíssima Virgem Maria, a Rainha dos Apóstolos, a Mãe dos sacerdotes, para que cuide sempre de nós; a São José, para que nos dê a graça da vigilância e da prudência; a São Teotónio, para que nos dê a fortaleza, a coragem e a graça de sermos bons e santos; e a Beata Rita, para que nos dê a alegria de sermos um povo sacerdotal e missionário, em verdadeira sinodalidade. Ámen!
Missa Crismal, 6 de abril de 2023
+ António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu