Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

Observatório Pastoral

 

Como nós não fomos feitos para estarmos em espaços confinados, não se estranha a velha questão, “porque é que quando um homem constrói um muro, o homem seguinte precisa imediatamente de saber o que está do outro lado?”

Sim. Os espaços abertos ocultam perigos. Então o condomínio fechado vende-nos uma sensação de segurança se se conceder em seu lugar a nossa liberdade (que nos atrai para espaços abertos). A religião garante o ingresso na festa da vida, “se e só se…” E os crentes da religião experimentam uma liberdade condicional e condicionada.

Quem nos ensinou que o amor de Deus depende do agir das suas criaturas? Quem nos passou a ideia que a realização do coração de Deus depende da observância de preceitos? Por isso, atira Jesus: “Ai de vós especialistas de leis, porque atiraste fora a chave do conhecimento: vós não entrastes e impedistes os que estavam a entrar” (Lc 11,52). Aos mestres da utilização do medo, Jesus cita as suas próprias Escrituras: “Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: ‘[…] em vão me prestam culto, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens’” (Mc 7,7).

Mas não é o que acontece com o Bom Pastor, “que chama a todas as suas ovelhas pelo nome e as conduz para fora” desses recintos fechados onde estávamos a sufocar.

O Bom Pastor chama as suas ovelhas pelo nome (…). Não é bom pastor esse que nos chama a todos por “ó tu aí!” O “guardião” lida com todos como um “todo”, “standardizado”… Não conhece o nome das ovelhas, mas seguramente conhece todas as leis de cor pelas quais arbitra o rebanho. (E é tão fácil saltar para o sulco da pura arbitrariedade, porque quem é que arbitra o árbitro!) Em vez disso, Jesus diz que o verdadeiro pastor “chama cada uma pelo nome”… porque cada um é único para Ele.

E conduz-nos para fora, para espaços abertos. Cristo é passagem, é porta aberta, buraco na rede, pedra rolada… possibilitando todo o trânsito sem aduanas.

É que não são os lugares que definem a presença de Deus, mesmo os chamados “religiosos” ou “sagrados”: “nem neste monte, nem em Jerusalém” (Jo 4,21)… basta que “dois ou três estejam reunidos em meu nome” (Mt 18,20). A nossa fé é feita de coisas simples, amigos que se reúnem à volta da mesa. É na sacramentalidade do quotidiano, dos ritos caseiros.

Há uns tempos atrás recordo-me de ter visto um vídeo divertido de um cão duma dessas raças minúsculas (Yorkshire Terrier?) que olhava para um espelho e via um outro Yorkshire Terrier a pinchar divertido diante dele, querendo brincar com ele… então corria para trás do espelho para ver onde estava o cão… mas, misteriosamente, o cão desaparecia… aproximava-se novamente para a frente do espelho e o maroto reaparecia, mas se fosse para trás do espelho desaparecia novamente – QUE MISTÉRIO! – e andou nisto uma quantidade de tempo…

O pobre Yorkshire Terrier não entendeu que o espelho era a chave do problema, a porta… é que, sem espelho, sem esta “imagem”, este “reflexo” ou “ícone”, não aparecia cão nenhum… O que me fascina é sobretudo aquele tentar querer ver o que está por detrás!!! O que está para além!!! É isso a sacramentologia! É tentar agarrar o que está por detrás do símbolo, mas sem desfazer a magia, porque os sacramentos não esgotam a realidade… (se entendêssemos isto quanta dor e sofrimento tirávamos de sobre os ombros de tantas ovelhas).

 

Pe. Humberto Martins
Padres Dehonianos
CategoryDiocese, Pastoral

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