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Observatório Pastoral

 

Aquilo que prezávamos como mais humano – a nossa inteligência – passou a ser uma das caraterísticas mais fáceis de copiar, de artificializar e de usar contra nós mesmos. A fé não é um conhecimento intelectual e sim uma experiência e um caminho.

Para Filipe e Tomé “basta” conhecer (Deus). Mas o conhecimento é uma forma de poder. Daí o investimento e a corrida altamente competitiva das grandes empresas na gestão inteligente do conhecimento. Filipe e Tomé esperariam que Jesus dissesse: “Eu sei o caminho e é isso que vos dou a conhecer.” Jesus, em vez, disse “Eu sou o caminho.” E parece que a religião ainda não entendeu isto.

Mas há algo de “intrinsecamente” bom em Filipe e Tomé: há neles uma espécie de pressentimento ou presságio, como a sede é sinal de que, de algum modo, água existe: “Mostra-nos o Pai (o destino)!”. Eles sabem que há um caminho que conduz à própria verdade profunda.

O caminho para Deus é o da plena humanidade. Jesus fez com que toda a pessoa entrasse em relação com Ele e experimentasse um espaço de infinito. Ou seja, Jesus foi tão humano que deixou transparecer n’Ele qualquer coisa de divino. Jesus mostrou aonde leva uma vida vivida no amor mais profundo e verdadeiro: a Deus.

Assim, o caminho por ti percorrido diz mais de ti do que o destino por ti atingido. Aliás, falar demais de um destino ainda não totalmente atingido pode levar-nos ao risco da gnose: a autorreferencialidade e a exterritorialidade. A gnose é como se tivéssemos um problema com o nosso GPS. Se desaparecesse o mapa por detrás daquela seta que indica a nossa posição, passaríamos a ser o centro de tudo.

Muitos cristãos adquirem uma falsa segurança porque estão habituados a fazer uma navegação por cabotagem, de vista-curta, seguindo uma espécie de mapa de rotinas. O problema é quando as jazidas onde exercíamos a nossa atividade primordial de recolectores se esgotam e ficamos com aquela sensação de desorientação!

E o que o fazer neste momento? Jesus tem uma proposta. E, o que encontramos n’Ele? O que se encontra em Jesus não é uma religião, mas sim um caminho. Um caminho não é linear. É feito de altos e baixos: umas vezes avança ligeiro, outras vezes, encontrará dificuldades. Jesus é aquele referencial que o meu GPS precisa para que eu não fique “seta” isolada no centro de um ecrã vazio, sem mapas. A fé é confiança nas promessas de Alguém: “Não se perturbe o vosso coração” (Jo 14, 1-6).

Por vezes, o caminho tem curvas que podem impedir-te de veres a meta diretamente. É normal que a cidade para a qual nos dirigimos, por estar no alto, se cubra com um nevoeiro que a esconda momentaneamente.

Alguém escreveu o seguinte: “Os seres humanos deixam rastos enquanto caminham: sinais de passagem feitos na neve, areia, lama, relva, orvalho, terra ou musgo. Esquecemo-nos facilmente de que somos marcadores de pegadas!”

Numa Igreja que define essencialmente o estar dentro ou fora dela, consoante o conhecimento (da fé), faz falta recordar que a fé é uma experiência de caminho, pelas pegadas de Jesus: como vive Ele, como se comove e como toca, como vai, como morre. Pondo as minhas pegadas sobre as marcas das suas, preferirei o que Ele preferiu e renovarei as suas escolhas com as minhas.

É um caminho feito juntos porque “sozinho podes ir mais depressa, mas juntos podemos ir mais longe”. Por isso, um caminho do cuidado, da compaixão e do apoio; é um caminho transformador e que une em ti “as diversas dimensões” de que és feito; porque se corpo, mente e alma não chegarem ao mesmo tempo e à mesma morada poderás experimentar o pior que o humano experimenta.

 

Pe. Humberto Martins
Sacerdote Dehoniano
CategoryDiocese, Pastoral

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