Observatório Pastoral
No retrovisor da Igreja percebemos hoje que o Papa Francisco delineou na Exortação apostólica Evangelii gaudium, o projeto do seu pontificado, muito além de uma síntese das proposições do Sínodo dos Bispos, sobre o tema: “A nova evangelização para a transmissão da fé cristã” (7 a 28 de outubro de 2012).
Com a proposta de uma “Igreja em saída”, o Papa mudou a perspetiva pós-sinodal. Na EG ele diz-nos que o futuro da Igreja não aparece no retrovisor. Precisamos reaprender a ser livres e a recuperar a alegria e a capacidade de sonhar. Precisamos localizar, através de um binóculo, novos horizontes do Cristianismo.
A mensagem do Papa Francisco era e continua a ser a transformação missionária da Igreja, e ela é possível! E somente através dessa transformação haverá uma nova Evangelização: “Ninguém deita vinho novo em odres velhos, senão, o vinho rompe os odres e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; o vinho novo deve ser deitado em odres novos!” (Mc 2,22). O Evangelho não prevê uma Igreja cristalizada no “cômodo critério pastoral: ‘fez-se sempre assim’” (EG 33) nem uma Igreja enrijecida em formas medievais e sem vontade de “repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores” (ibid.).
O conteúdo desta exortação é claro. Trata-se da construção de uma Igreja missionária, transformadora e sempre em transformação. Não se trata de uma transformação organizacional, técnica e mais eficiente, mas de conversão pastoral. A conversão pastoral é concreta, comunitária, revolucionária. “Tenham coragem de ‘ir contra a corrente’”, pediu Francisco ao despedir-se dos voluntários da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro: “Sejam revolucionários!”. Ir ao encontro significa colocar-se na estrada da contracorrente social e da contramão cultural da nossa época. “Saída”, “conversão”, “proximidade” e “encontro” são a chave para a nova evangelização.
O Papa latino-americano introduz na Igreja a proposta de um novo modelo do discípulo missionário. O discípulo missionário será cada vez menos protagonista da missão e mais interlocutor convertido da mensagem que recebeu em vasos de barro. É enviado a interlocutores e não a destinatários da missão, porque ele mesmo é destinatário. Ser missionário faz parte do ADN do Cristianismo e da normalidade do ser cristão. “Os discípulos missionários acompanham discípulos missionários” (EG 173). O “dinamismo evangelizador atua por atração” (EG 131) e por interlocução e não por proselitismo ou doutrinação. Ele não substitui o anúncio da Boa-Nova, mas está sempre em busca do essencial, da tradução cultural (inculturação), da inserção social e do assentamento vivencial da mensagem. E tudo o que venha a contribuir para diminuir a distância entre os interlocutores e para intensificar a sua empatia, facilita a comunicação e o anúncio dessa atrativa oferta de vida mais digna, em Cristo, para todos.