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Observatório Pastoral

 

Conta-se que dois homens, que não se conheciam, partiram juntos numa viagem porque ambos pretendiam chegar ao mesmo destino. Durante sete dias foram o suporte um do outro. Quando chegou a altura de seguirem caminhos diferentes, o primeiro disse ao segundo: “Irmão, partilhamos juntos a vida e um pedaço de estrada durante toda esta semana. Antes de me ir embora quero dizer-te que sou um bandido famoso, mas parece que tu és um bandido maior do que eu.” O segundo perguntou: “Como?” O primeiro disse: “Durante sete dias, sempre que me deixavas com as tuas coisas, eu procurava continuamente na tua mochila na esperança de encontrar alguma coisa, mas não encontrava nada. Depois de termos vivido juntos durante tanto tempo, fiquei a saber que és uma pessoa rica e que estás a fazer uma longa viagem. Então, como é possível que não tenhas nada contigo? Não trouxeste dinheiro contigo?” O outro respondeu: “Claro que trazia valores. Tenho um diamante precioso e algumas moedas de ouro comigo”. E o ladrão respondeu: “Se tinhas tudo isso contigo, como é que eu não consegui encontrá-los, apesar do meu esforço?” O homem rico respondeu: “É que, sempre que eu me ausentava, punha o diamante e as moedas no teu saco, sabendo que de seguida irias vasculhar a minha mochila. Pois se tu nem sequer te lembraste de mexer nas tuas próprias coisas, na tua própria mala, como é que podias ter encontrado alguma coisa?”

Jesus metamorfoseou-se diante dos discípulos.  A metamorfose é uma verdadeira passagem de limiar em que o que está no fim continua a ser o que estava no princípio, mas, ao mesmo tempo, deixa de o ser. Pense-se no exemplo da grafite e do diamante.

O diamante e a grafite são formas cristalinas do mesmo elemento: o carbono. Tendo em conta apenas este facto, pensa-se logicamente que ambos seriam semelhantes em muitos aspetos. Mas, na verdade, são bastante diferentes! O diamante é de uma incrível transparência, em vez a grafite é opaca. O diamante tem um valor incalculável por ser raro, a grafite é abundante na natureza pelo que se torna “banal”.

Nas nossas metamorfoses, muito da nossa antiga vida vai connosco. Nas nossas metamorfoses, em parte somos ladrões, mas, sobretudo, somos proprietários de algo eminentemente nosso: a nossa criatividade, a nossa adaptação à realidade, a improvisação. Quem não muda, fica tão escravo ao seu modo de proceder que nem consegue “mexer nas suas próprias coisas”. Por isso é que o homem transformado é transparente como o diamante e o homem incapaz da mudança é opaco como a grafite. Deus colocou dentro de nós uma riqueza imensa que só tem valor quando é investida nos outros. Entretanto, o incapaz de mudança continua a ser um invejoso, continua a olhar para os outros e a querer o que eles têm. A inveja nasce da perceção que temos de que o outro é mais abençoado do que nós (…).

Mas a verdade é que em tudo o que nos acontece, por mais pequeno que seja, temos ali uma oportunidade de transfiguração. (…) Não se trata de mudar de vida, de aceder a uma outra, mas de deixar transformar a que estamos a viver. Nascemos com potencialidade de ser grafite ou diamante, de ser proprietário ou ladrão, capazes de nos realizarmos como seres humanos completos.

 

Pe. Humberto Martins
Sacerdote Dehoniano
CategoryDiocese, Pastoral

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