Voz do Pastor
A Palavra de Deus é a vida divina a revelar-se a cada um de nós, como povo eleito do Senhor, chamado a escutar as suas Palavras de Salvação para as pôr em prática na nossa vida.
A Palavra dirigida por Deus a todas as pessoas de boa vontade é “uma Palavra viva e eficaz”, Palavra que se escuta com o coração, “em espírito e verdade” para transformar e santificar a nossa vida, para libertar das consequências do mal, para curar as nossas enfermidades e salvar toda a pessoa humana.
A Palavra de Deus deve ser acolhida, escutada com fé e estudada como fizeram os patriarcas, os reis, os profetas, os apóstolos, os evangelistas, os discípulos de Jesus, as primeiras comunidades eclesiais e a Igreja em todas as dimensões, serviços e experiências pastorais. Sem a Palavra de Deus não há celebração da Eucaristia, nem sacramentos, nem sacramentais, não há nenhuma ação de formação na vida da Igreja.
A Palavra de Deus deve estar no centro do estudo e da reflexão de toda a vida da Igreja, das suas comunidades e na vida dos cristãos. O conhecimento e o estudo da Bíblia, do Antigo e do Novo Testamento é um desafio permanente para a Igreja, quer na celebração da Eucaristia, nas celebrações litúrgicas diversas, quer através de cursos de formação Bíblica.
Lugar principal e fundamental da Palavra
Temos na Igreja múltiplas atividades eclesiais e pastorais onde a Palavra de Deus tem o seu lugar principal e fundamental, porque o conhecimento da Sagrada Escritura e particularmente do Evangelho é importante para o conhecimento de Deus e da pessoa do próprio Cristo. São Jerónimo ensinava, dizendo: “Quem ignora as Escrituras, ignora o próprio Cristo”.
Já no Antigo Testamento o pequeno Samuel ao estar atento ao chamamento de Deus, nos deixou uma expressão importante, que devemos repetir todos os dias com fé e confiança: “Falai Senhor, que o vosso servo escuta” (1 Sam 3). Deus fala e revela-se através da sua Palavra criadora e santificadora.
“Aprouve a Deus manifestar-se por meio das suas palavras” (DV 12). O Domingo da Palavra, foi instituído pelo Papa Francisco para nos chamar atenção da importância da Palavra de Deus na vida da Igreja, da diocese, das paróquias, das comunidades, no serviço e dinamismo pastoral e na vida pessoal de cada cristão.
Por isso, devemos promover com zelo apostólico na Diocese e nas paróquias eventos sobre a riqueza e importância da Palavra de Deus na vida da Igreja, quer através de “Semanas Bíblicas”, “Jornadas de estudo sobre a Sagrada Escritura”, fins de “Semana sobre a Palavra de Deus”, dias de Retiro espiritual, estudo pessoal da Bíblia, aprendendo a rezar com a Bíblia, de modo especial criar Grupos Bíblicos nas paróquias e implementar a prática da “Lectio Divina”, de tanta tradição na Igreja e com tantos bons frutos dados.
Convido todos os diocesanos e comunidades, os fiéis, os pastores e os leigos a viverem com muita alegria e fé o Domingo da Palavra de Deus, de modo que este produza muitos bons frutos na “comunhão, na participação e na missão”.
Na comunicação divina à humanidade “Deus invisível, revela-se na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos e convive com eles, para os convidar e admitir à comunhão com Ele” (cfr DV 2). Por isso o Vaticano II ensinou: “Cristo está presente na sua Palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura” (SC 7).
A Palavra do Senhor é sempre luz e farol a guiar a Igreja e a vida de todos os crentes. “Cristo está sempre presente e operante na pregação da sua Igreja” (nº 24 dos Preliminares do Lecionário).
As vossas Palavras Senhor são espírito e vida. São mais doces que o mel.
“Ninguém ignora que entre todas as Escrituras, mesmo do Novo Testamento, os Evangelhos têm o primeiro lugar, enquanto são o principal testemunho da vida e doutrina do Verbo encarnado, nosso salvador” (DV 18). A Palavra do Senhor vem antes de toda a palavra da Igreja.
“A Igreja venerou sempre as divinas Escrituras como venera o próprio Corpo do Senhor, não deixando jamais, sobretudo na sagrada Liturgia, de tomar e distribuir aos fiéis o pão da vida, quer da mesa da palavra de Deus, quer da do Corpo de Cristo” (DV 21).
“É preciso que os fiéis tenham acesso patente à Sagrada Escritura” (DV 22). A Palavra de Deus deve estar sempre acessível a todos os cristãos.
No estudo da Palavra de Deus, na celebração da Eucaristia, na celebração dos Sacramentos, na homilia, na celebração da Liturgia da Palavra, mesmo na ausência do presbítero, na escuta e estudo pessoal da Palavra de Deus, num curso bíblico, em outras celebrações a liturgia da Palavra é portanto, a palavra, que Deus quer anunciar no seu plano de salvação para hoje.
A homilia deve ser o anúncio das maravilhas, que Deus opera hoje em nós, pondo-nos em contacto com a sua Páscoa. Deve ser uma Palavra de Deus atualizada, uma leitura da Palavra para hoje. Cristo está sempre presente e operante na pregação da sua Igreja, quando escutamos a sua Palavra. A Instrução Geral do missal Romano diz que a homilia deve ser “a explicação das leituras bíblicas, ou de qualquer outro texto do próprio, ou mesmo do ordinário da Missa”.
Escutemos sempre com fé e com amor a Palavra de Deus na nossa vida e deixemos que ela produza muitos frutos de caridade para a vida do mundo. Que Maria a mulher da escuta e da Palavra nos ajude a sermos cristãos em caminho sinodal para escutarmos com amor e alegria a Palavra do Senhor.
+ António Luciano, Bispo de Viseu