Observatório Pastoral
Um dia destes, veio-me parar as mãos uma Carta de João Paulo II, que ele publicou em 1998, no contexto da preparação que ele convidava toda a Igreja a fazer para celebrar o grande Jubileu do ano 2000.
Nesta carta, ele reflete de uma maneira que acho muito bonita sobre como somos convidados a viver o dia de domingo que ele chama justamente «o Dia do Senhor».
Ao repassar esta carta, veio-me à mente um episódio que vivi um domingo quando, na minha paróquia no Quénia, caminhava para ir celebrar a santa Missa na capela da zona da paróquia que me era confiada. Já nessa altura tínhamos ali umas vinte comunidades de base a funcionar bem, um fermento pequeno, mas com muita força, no meio de uma população que se calculava nessa altura já em cerca de 60 mil habitantes. Era uma das quatro zonas pastorais de uma paróquia típica das periferias das grandes cidades africanas.
Antes da Missa passei pelo lugar onde se reunia todas as quartas feiras à noite uma das comunidades mais ativa daquela zona. Ali perto, dei conta de uma pequena casa, nova, num lugar que antes estava vazio. Tinha sido construída como todas as casas ali: chão de terra batida, teto de folhas de zinco, e paredes feitas de um entrançado de varas verdes preenchido e coberto com terra batida. Uma casita assim era um bom dia de trabalho para uma dúzia de pessoas.
Perguntei ao chefe da comunidade que me acompanhava:
– Quem é que veio morar aqui?
-Não veio ninguém, já cá estava: era um velhinho abandonado que havia algum tempo vinha dormir aqui neste canto; cobria-se como podia, durante a noite. As famílias da nossa comunidade damos-lhe de comer à vez, um dia cada uma, e a semana passada falámos com as autoridades, que nos deram autorização para lhe fazermos uma casa. Assim, domingo passado fomos todos à primeira missa e depois passámos o dia a trabalhar aqui. E cá está a casa e o nosso novo vizinho.
– Mas ao domingo não se trabalha! – disse-lhe eu já seguro da resposta que ele deu logo:
– Ao domingo não trabalhamos para nós, para Deus podemos trabalhar!
Linda maneira de «santificar o Dia do Senhor».
Tinha muita razão aquele ancião: o domingo é para trabalhar para Deus, e para aqueles que O representam neste mundo: «Eu tinha fome e vós deste-me de comer, estava nu, na cadeia, etc.» (Mt 25).
João Paulo II, na carta que mencionei diz isso mesmo: o «Dia do Senhor» é para santificar antes de mais com a celebração comunitária da Eucaristia, porque o «Dia do Senhor» é também o dia da «missão da Igreja», o «dies homini» (dia do homem), o dia para dar uma atenção particular aos pobres, aos doentes, como também o dia para construir fraternidade e cultivar amizades.
É de facto uma graça poder descobrir a riqueza do «Dia do Senhor» e usá-lo para o nosso bem e para o bem de quem mais precisa.
Pe. Fernando Domingues, Missionários Combonianos