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Observatório Pastoral

Observando as dificuldades mundiais até às crises políticas nacionais, a alegria pode não ter sido considerada a melhor palavra para a Quaresma 2024, a não ser que esta nos remeta diretamente para as nossas raízes como Cristãos.

A etimologia da palavra no latim refere-se a felicitas e no grego phyo, que quer dizer “produzir”, conotação de “fecundo” ou “algo que é produtivo”. Deste modo, a alegria aparece relacionada não só a um sentimento, mas a um comportamento típico de um indivíduo quando está alegre.

Pasme-se como foi o início da minha Quaresma: vestir um casaco e encontrar perdida no bolso uma nota de 20 euros! A alegria sentida foi “frisante” com muita espuma e barulho, qual garrafa de champanhe que se inaugura, partilhada espontaneamente entre comunidade e colegas, tal não foi o feito gratuito! Ainda que esta alegria tenha durado pouco, ou melhor, terminado rapidamente, logo após o relato do acontecimento, o momento deixou em mim ressonância e tem orientado a minha Quaresma na medida em que fui interpelada pelo lema da minha diocese de Viseu:” Raízes da alegria.”

Por experiência humana sei agora que o sentimento de alegria me levou a “produzir”, “agir” à minha volta. Há quanto tempo não me lembrava que viver Jesus é ALEGRIA? Esta experiência da alegria não há como escondê-la!  Esta Alegria existencial e profunda é seguramente das poucas linguagens performativas que o mundo consegue não só perceber, mas perseguir: encontrar a fonte de uma alegria perene que não depende de estímulos externos.

Se algo nos fica da JMJ é a alegria sentida, vivida e narrada por todos aqueles que estiveram em Lisboa ou que nos chegou através dos variados canais e continua ainda hoje a contagiar! Uma alegria profunda que brilhantemente expôs como é o agir de toda uma massa de gente, de uma comunidade, quando contagiada por algo profundo: a não-violência, a capacidade de silêncio e contemplação…

Esta alegria serena, elegante que tudo torna mais transparente, luminoso e belo e que Jesus propõe a cada um, a mim e a ti, é a que efetivamente vivemos? Permito que esta alegria deixe emergir em mim a gratidão e oriente espontaneamente para o serviço?

É que esta é a alegria que nos faz perceber a nós mesmos como a nossa melhor versão! Esta é a alegria que gera em nós a confiança na graça e no trabalho que Deus continuamente opera!

Como alguém dizia, “Quem vive esta alegria, até o falar se processa serenamente como quem reza confiando algo de muito querido e precioso.”.

Conscientes desta realidade, estou convicta que a Quaresma terá ajudado a enraizar na identidade cristã. A este propósito, o Papa Francisco não se cansa de repetir e exortar à alegria: “Não se trata de levar uma alegria passageira, uma alegria do momento, trata-se de levar uma alegria que crie raízes.” (Papa Francisco, discurso na vigília JMJ Lisboa 23)

Esta é a alegria que celebramos na Páscoa: uma alegria que é para sempre! Quando permitimos que a alegria de Jesus crie raiz dentro de nós é preciso muito pouco para que ela brote continuamente:  bastará uma palavra de Deus, um encontro com alguém, o perfume de uma flor, o trinado de uma guitarra ou até mesmo a densidade do silêncio. Esta, é uma certeza muito bela de ser vivida: Eu sei qual a Alegria que me habita! Eu sei qual é a Alegria que vive em mim, à qual pertenço e que nunca me abandonará!

Uma boa e alegre Páscoa 2024

Ana Coimbra, Missionária Verbum Dei, Diocese de Viseu

CategoryDiocese, Igreja, Papa

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