Rino Fisichella, numa excelente conferência intitulada Fundamentos teológicos para a nova evangelização, apontou com sabedoria e clarividência que: «nas últimas décadas, dar as razões da fé não parece ter entusiasmado muito os crentes. […] A situação, em certo sentido, esclerosou; alguns pensaram que uma repetição insistente de fórmulas passadas poderia constituir um bastião de defesa, sem se darem conta de que constituíam apenas areias movediças. Pensar que a nova evangelização pode realizar-se com uma renovação superficial das formas passadas é uma ilusão de que devemos afastar-nos. Certamente a solução não está tampouco na extravagância de inventar novidades apenas para satisfazer o homem contemporâneo, sempre em movimento, pronto para qualquer experiência e carente do gosto de uma visão crítica».
Nem a repetição insistente de fórmulas passadas nem a sua renovação superficial, nem tampouco a extravagância de inventar novidades apenas para satisfazer o homem contemporâneo… Um primeiro desafio consiste em conseguir avançar evitando, por um lado, a insistente – e cómoda – repetição (e, portanto, a atenção apenas para «os de sempre») e, por outro lado, a tentação de «mudar por mudar», somando uma experiência após outra, sem ligação nem ordem ou coerência. Nestes anos do pontificado de Francisco assistimos ao reconhecimento da família como sujeito privilegiado da evangelização.
Na minha opinião, um segundo desafio consiste em ser capaz de entender e colaborar no projeto e no convite à conversão pastoral: «Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à auto preservação. (Evangelii Gaudium 27).
O terceiro desafio, que resulta precisamente da conversão pastoral, é constituído pela necessidade de oferecer uma verdadeira atenção à diversidade. Também na família nos encontramos com diferentes necessidades, com diferentes buscas, com momentos vitais mutáveis… Será que não chegou o momento de personalizar ainda mais a nossa atenção à família?
Um quarto desafio consiste em ajudar a todos a contemplar a família do modo a que o Papa Francisco nos convida: «Espero que cada um (…) se sinta chamado a cuidar com amor a vida das famílias, porque elas “não são um problema, são sobretudo uma oportunidade”» (Amoris Laetitia 7).
Outro dos desafios com que a Igreja se confronta no seu cuidado integral às famílias é o de se deixar orientar por dois elementos: o senso comum do Povo de Deus e, ainda mais importante, a capacidade tão presente em Jesus de Se comover perante a desgraça ou a infelicidade humana.
Finalmente, há dois desafios que brotam da Amoris Laetitia e que constituem uma «novidade», nos quais os agentes pastorais com formação pode prestar um serviço de qualidade: a ênfase na preparação para o matrimónio (e o acompanhamento nos primeiros anos de casamento) e o itinerário de discernimento oferecido às pessoas divorciadas que se encontram em nova união. Acompanhamento e discernimento.
Pablo Guerrero Rodríguez, Sj
In Alegria e Misericórdia. A teologia do Papa Francisco para as famílias.