Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

Celebrámos recentemente o “Dia Mundial do Refugiado”, promovido pela ONU. O meu coração bateu mais forte e na minha interioridade, no “sacrário íntimo” da minha consciência, senti um grito profundo, que me deixou em reflexão e com inquietação.

Não basta ser refugiado, migrante, peregrino ou alguém que procura ajuda, uma pessoa que deixou tudo o que possuía para passar a ser muitas vezes um número, um problema, um errante, que atravessa montanhas e vales, desertos e oásis, cidades e escombros, para arriscar a vida na travessia de mares e chegar a um porto seguro.

Desembarcar em qualquer lugar e ter as autoridades à sua espera, que desejam saber de onde vem e para onde vai, como pode ser acolhido e regularizar a sua situação de estrangeiro ou de refugiado.

O problema dos refugiados é um fenómeno decorrente da globalização, com dimensões mundiais de vulnerabilidade, de pobreza causado pelas mais diversas situações humanas, familiares, étnicas, sociais, religiosas e políticas. O fenómeno afeta milhões de pessoas deslocadas: crianças, jovens, adultos, pobres, abandonados e doentes.

Diante de cenários de guerra e de destruição, de morte e de fuga, provocada pelo medo, pela perseguição e pela falta de condições humanas, sanitárias e sociais, o número de refugiados aumenta em campos de ajuda humanitária.

É doloroso e dramático o estado do nosso mundo atual nesta matéria. A falta de paz entre os povos, a ausência de espírito de fraternidade e de solidariedade cria egoísmos e indiferenças, perdendo-se o sentido de ajuda e de partilha a quem mais precisa.

Num mundo e numa sociedade que criou barreiras estruturais e distâncias políticas e legislativas, onde o ter e o poder deixaram de ser referência identitária com a pessoa humana e a sua dignidade, surgiu uma barreira entre a riqueza e a pobreza difícil de ultrapassar e que se tornou incontornável.

O aumento dos pobres e a marginalização dos indigentes faz muitas vezes perder o sentido do outro como sujeito de partilha, protagonista da justiça social ou mesmo promotor dos princípios fundamentais da Doutrina Social da Igreja.

Diante de todos os seres humanos, que atravessam desertos, fogem dos escombros da guerra, da cinza da morte e arriscam a vida e o futuro na esperança da travessia segura dos mares em barcos frágeis, para chegar ao outro continente, apetece-me gritar com a riqueza de um coração humano e cristão: “Salvai-nos Senhor!”

Como gostaria de ser acolhido no meio de tanta burocracia necessária, mas na urgência e emergência de ser recebido como uma pessoa, que vem em busca de ser reconhecido na sua dignidade, nos seus direitos e nos seus deveres.

E se eu fosse um refugiado? Se fossemos nós, que vivemos no conforto de uma Europa civilizada, ou de um país membro, que vive em paz, em segurança, onde há trabalho e projeto de futuro? Que farias da tua vida se fosses refugiado, como viverias a esperança do teu devir e como esperas a realização do acolhimento do teu irmão.

São Mateus, diante da herança do Reino, preparada para cada um de nós, antes da criação do mundo, no texto das Bem-Aventuranças, afirma: “Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me de vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo” (Mt 25,34-36). Este texto do evangelho ajuda-nos a olhar para os refugiados com humanismo, com legalidade e com caridade fraterna.

O problema dos refugiados é hoje muito sério, complexo e um problema à esfera global. As causas são múltiplas e nem todas são conhecidas, pois o fenómeno das alterações climáticas, da guerra, dos conflitos armados, da falta de trabalho, de segurança, de condições mínimas de vida, a pobreza, a perseguição religiosa e política, a vida sem ideal e referência a valores leva muitas pessoas a abandonar a sua terra e o seu país, em busca de um futuro melhor num mundo desconhecido.

É difícil a vida de um migrante, de um refugiado, de alguém que se vê forçado a deixar a sua casa para ir procurar segurança, acolhimento, um trabalho num país que se dispõe a recebê-lo e dar-lhe um estatuto de acolhimento e de segurança.

Estas pessoas forçadas a sair do seu ambiente são obrigadas a deixar a terra, a família e os amigos em busca de lugares seguros. Por isso o Papa Francisco afirma: “rezo para que os estados se empenham em assegurar aos refugiados condições humanas e a facilitar os processos de integração”.

Neste mês dedicado aos santos populares, Santo António, São João, São Pedro e São Paulo, peço, por intercessão de Nossa Senhora, ao Coração de Jesus que acolha todos aqueles que caminham pelas estradas do mundo ao encontro de um Bom Samaritano, que os acolha, lhes dê hospedaria e cuide das suas feridas.

António Luciano, Bispo de Viseu

CategoryBispo

© 2016 Diocese de Viseu. Todos os direitos reservados.
Desenvolvimento: scpdpi.com

Siga-nos: