Louvado seja na terra o Senhor e Sua Mãe, a Virgem Imaculada, que nos seus santos concedeu a Santa Beatriz o dom elevado da contemplação.
Caríssimas Irmãs Concepcionistas, noviça, sacerdotes, diácono, seminarista e leigos, é com alegria, confiança e amor a Deus, a Nossa Senhora, a São José, a São Francisco de Assis, a santa Beatriz e a todas as beatas da Ordem da Imaculada Conceição, que vos saúdo neste dia de festa e de felicidade espiritual.
À luz da Palavra de Deus, peçamos o dom da sabedoria, caminhemos segundo o Espírito Santo e vivamos no amor de Jesus. Meditemos sobre a vida de Maria Imaculada e o carisma de santa Beatriz, transmitido às suas filhas espirituais.
A partir da minha reflexão, convido-vos a: “Buscar o Senhor com alegria” (Pedro Finkler, Lisboa, 1984), título de um livro de espiritualidade publicado pelas Edições Paulistas. Logo na Introdução, afirma o autor: “Não é fácil falar de espiritualidade ao atarefado homem de hoje. Vivemos numa época de degradação do humanismo que construiu a vida cristã durante vinte séculos. O homem contemporâneo está de tal maneira envolvido pelos valores materiais que perdeu grande parte da sua sensibilidade natural para os valores mais elevados do espírito” (p. 5).
Desenvolverei apenas dois elementos da vida contemplativa: A oração e a contemplação. Vividos em clausura e em silêncio interior, fazem parte da vossa vida e missão de monjas, desenvolvidas no interior deste Convento de santa Beatriz.
Para quem está no meio do mundo, às vezes é difícil compreender, aceitar e falar de oração e contemplação, e pergunta se é preciso deixar o mundo para encontrar a verdadeira riqueza espiritual destas palavras.
A experiência do “Vinde e vede”, proposta no convite feito aos seus discípulos, é fundamental para seguir Jesus. Só a oração unida à contemplação pode fazer esta experiência cristã, mística e apostólica. “0ração é também o meio por excelência de libertar o homem de ontem, de hoje e de amanhã de tantas cadeias que lhe tolhem a liberdade de viver” (p. 6). São Paulo ensina que nós fomos criados para a liberdade e “só a verdade que é Cristo nos libertará”. A “vida de oração é sempre uma inefável experiência pessoal, apostolicamente eficaz” (p.7).
Na vida de Maria Imaculada e no seguimento de Jesus, plasmou e forjou santa Beatriz a sua vocação e espiritualidade, e aprendeu a meditar e a contemplar a vida da graça, que é o “fruto bendito do Seu ventre, Jesus”.
Maria é fonte de graças, que jorra como a água viva, pura e cristalina, que vem da nascente e cresce para formar os ribeiros, os rios e chegar ao mar. A esta graça, São Luís Monfort chama-lhe Maria. Ela é a cheia de graça que brota da nascente divina.
A Igreja, peregrina nos seus fiéis: pastores, consagrados e leigos, vive intensamente o compromisso da sua vocação à santidade (LG 11), procurando caminhar na presença de Deus na silenciosa atenção, para em tudo fazer a sua Santíssima vontade.
Com santa Beatriz, cantemos um hino de louvor e de ação de graças à Santíssima Trindade, no mistério da contemplação da sua essência, uno e trino, na sua relação divina da pessoa do Pai, do Filho e do Espírito Santo, mistério insondável de vida e de amor em comunhão sobrenatural.
Mergulhar na vida e na santidade de santa Beatriz com o olhar da esperança através da oração. “O caminho da oração consiste no “silêncio da Fé, no despojamento interior da alma que sente a sua total pobreza e que, por isso mesmo, se entrega sem reserva a Deus num ato de abandono, de submissão e de profunda humildade diante d`Ele” (3). Para explicar a sua vida íntima, santa Teresa de Jesus fala de simples e estreita união com Deus num abandono quase natural a todas as suas vontades” (p.208).
– A vida de santa Beatriz e a sua recusa formal ao luxo da corte e à vida de riqueza, de prazer e fantasias do mundo foi o momento alto do seu discernimento espiritual. As palavras de Jesus tocaram o seu coração: “Que importa ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma”. Se há algo de verdadeiramente bom em alguém, é certo que foi Deus, quem o fez (cf. p. 174). A autêntica bondade é sempre uma obra do amor e da confiança em Deus.
– O encontro de santa Beatriz com Jesus Cristo através da vida virginal de Maria, do seu Sim e do Magnificat torna-se a raiz do serviço à causa da evangelização. Beatriz sentiu-se feliz e, conduzida pelas mãos de Maria, descobriu a sua vocação de religiosa e de fundadora. Santa Beatriz mergulhou, através da oração e da contemplação, no mistério de Deus, na Eucaristia e na devoção à Santíssima Virgem Maria, de modo simples e puro, para ser feliz.
“Exteriormente nada de extraordinário. Estar com Deus e basta. Viver com Ele e estar nas suas mãos” (p. 208), permanecer juntos na sua presença. Aqui aparece santa Beatriz como uma mulher de fé e de confiança. “O conhecimento da bondade, da misericórdia, da paciência do Senhor connosco convencem-nos da grandeza do Seu amor…” (p. 209).
– Santa Beatriz é uma mulher que faz da experiência da provação e do sofrimento um caminho espiritual de comunhão, de silêncio interior e de discernimento para viver na fidelidade a perseverar na vontade de Deus.
Mulher de um sim generoso, serve a Deus e ao próximo através do seu carisma na oração, na caridade e na contemplação. A oração é um verdadeiro diálogo com Deus. Não se faz só com a cabeça, mas essencialmente com o coração e a alma, guiados pelo Espírito Santo. “Rezar não é só pensar coisas edificantes a respeito de Deus e de Nossa Senhora…” (p. 236), ou mesmo a respeito da vida de Santa Beatriz da Silva. Rezar é amar, e é preciso saber orar (p. 248). “Orar é ser autêntico” (p.250).
_ Uma mulher de disponibilidade interior, de escuta, de diálogo, de recolhimento espiritual, de clausura assumida na contemplação do mistério de Cristo, escondido. “Contemplativo é aquele que se sente atraído irresistivelmente pelo Senhor. Leva a pessoa a abrir-se a Ele e a deixar-se trabalhar por Ele, para uma progressiva transformação interior” (p. 259).
A dimensão contemplativa da vida religiosa e consagrada é um aspeto essencial e fundante da vocação de consagração a Deus. Uma mulher identificada com Maria, mergulhada na profundidade do Seu mistério de Mãe, Mestra e Educadora.
“Orar e contemplar são modos distintos de comunicar com Deus. Orar ou rezar é buscar comunicar com Deus, sobretudo por meio de palavras, de conceitos, de imagens e de pensamentos. Contemplar é buscar a mesma comunicação de outro modo, no qual se prescinde o mais possível de palavras, de conceitos e imagens. A contemplação pura é vivência de comunhão de comunicação com Deus sem uso de qualquer palavra, imagem ou conceito” (p. 260).
A autenticidade da vida religiosa é a pedra fundamental para a fidelidade da vocação e realização da verdadeira “opção fundamental”. A contemplação produz frutos de santidade no próprio(a) e contagia os outros. Orar é amar e é o melhor apostolado para fazer crescer o Reino de Deus.
– Santa Beatriz é uma mulher de bem-aventurança, de sinodalidade, empenhada em viver e caminhar em comunidade, na construção da paz, na oração pelo fim da guerra, na comunhão, participação e na missão da Igreja. Santa Beatriz, mulher de esperança e de alegria interior, serve a Deus e a Igreja com a “Alegria do Evangelho”.
É tempo de escolher e decidir. Eis o desafio que faço às crianças, adolescentes, jovens, adultos consagrados(as) e às famílias. Rezemos pelo aumento das vocações, apendendo a “ter a coragem de nos sentarmos aos pés do Senhor para só olhar… escutar e… amar e deixar-se amar. O contemplativo não faz nada. Deixa ao Senhor fazer com ele o que quiser. Limita-se a tomar consciência das maravilhas que o Senhor opera nele” (p.265).
“Vinde e vede” como o Senhor é bom na beleza dos seus santos. Que santa Beatriz toque profundamente a nossa vida de batizados na caminhada sinodal, que estamos a fazer juntos, em Igreja. Só na oração, conversão, zelo pastoral e entusiasmo missionário, acontece a conversão pastoral e a renovação da Igreja nas estruturas e nos corações dos fiéis.
Exorto as irmãs deste Convento a rezarem pela paz no mundo, pelo aumento das vocações e pela renovação da Igreja e da nossa Diocese. Interceda por nós a Virgem Imaculada, e a sua filha, humilde e predileta, santa Beatriz da Silva, nos guie como estrela em pleno dia, através do testemunho das virtudes da castidade, da pobreza e da obediência, na contemplação do Deus escondido, presente em tudo e em todos.
Viseu, 17 de agosto de 2024
+ António Luciano, Bispo de Viseu