Na Igreja é assim: há cada vez mais trabalho e cada vez menos trabalhadores. Não me refiro, obviamente, aos trabalhadores possíveis, que são todos os batizados. Refiro-me, sim, aos trabalhadores disponíveis, aos que mostram vontade de trabalhar na vinha do Senhor. Consequência: há mais trabalho para menos trabalhadores ou – o que é o mesmo – há menos trabalhadores para mais trabalho.
Uma quantidade mais reduzida de sacerdotes tem de executar (pelo menos) o mesmo trabalho do tempo em que havia muitos. Mas se a situação já é complicada no presente, ela ameaça tornar-se ainda mais difícil no futuro. Dada a rarefação vocacional que se verifica, os padres do futuro verão a sobrecarga de tarefas aumentar consideravelmente.
Neste contexto, o seminário é chamado a preparar sacerdotes para desempenharem uma missão mais extensa e mais intensa, mais pesada e mais desgastante, embora mais apaixonante também.
O primeiro impulso é ficar pelo mero plano quantitativo: a mais trabalho, responder com mais atividade. Será inevitável, mas será o mais correto? Bento XVI remete-nos para a Carta aos Filipenses (2,5-8), «na qual São Paulo diz a todos e, de modo particular, a quantos trabalham na sara de Deus que devemos “ter em nós os sentimentos de Jesus Cristo”».
Ou seja, mais do que agir, o importante é sentir. Acima da ação está a atitude, o testemunho: «O sentimento de Jesus Cristo consiste no facto de Ele permanecer sempre radicado profundamente na comunhão com o Pai, imerso nela».
A sua obra nasce «do seu estar imerso no Pai: exatamente por este seu estar imerso no Pai, Ele deve sair e percorrer todas as aldeias e cidades para anunciar o reino de Deus, isto é, a sua presença, o seu “estar presente” no meio de nós». Isto acarreta duas implicações fundamentais que hão de matriciar a orientação do Seminário: «É necessário que estejam unidos o zelo e a humildade do reconhecimento dos próprios limites».
Antes de mais, o zelo: «se verdadeiramente encontramos Cristo sempre de novo, não podemos tê-lo para nós mesmos. Sentimo-nos compelidos a ir ao encontro dos pobres, dos idosos, dos fracos, das crianças e dos jovens, das pessoas em plena vida; sentimo-nos impulsionados a ser “anunciadores”, apóstolos de Cristo.» Acontece que este zelo, «para não se tornar vazio e extenuante para nós, deve unir-se à humildade, à moderação e à aceitação dos nossos limites».
O padre não pode – nem deve – fazer tudo. Deverá «aprender a fazer o que pode e deixar o resto para Deus, dizendo: “Definitivamente, és Tu que deves fazer, pois a Igreja é tua. E tu dás-me somente a energia que possuo».
Esta humildade é decisiva. Ela impele-nos a ir constantemente à fonte, a Deus: «Podemos servir os outros, somente na medida em que recebermos, isto é, se nós mesmos não nos esvaziarmos». (…)
Acima de tudo está a celebração quotidiana da Santa Missa, não como uma rotina, mas como algo que nos afeta a partir de dentro. (…) Daí o imperativo de cultivar a interioridade do seminarista para que o padre, que dela nasce, não se deixe dissolver na multiplicidade de encargos que sobre ele pendem. Ele é chamado a fazer muito. É fundamental, porém, que se habitue a fazer bem.
Pe. João António Pinheiro Teixeira
In O Seminário na vida da Igreja, Paulinas