Aos que se preparam para responder à vocação do matrimónio cristão costumo perguntar, desafiando: «Como é que te vês e te imaginas (realisticamente) daqui a dez anos? Pensem, tentem responder: mas, primeiro, em separado, durante alguns dias: “como me quero ‘ver’ no futuro?” Depois, comuniquem-no ao outro, com pormenores, as ‘certezas’ e os ‘medos’, sem se interromperem. Meditem o que ouviram, sem estar a julgar. E, por fim, dialoguem para chegar a um sonho comum, mais realista e purificado».
Sonhem a vossa família! O que acontecerá daqui a dez anos só pode ser melhor se quiserem. Da qualidade da vossa relação depende a vossa felicidade.
A vida não é uma questão de sorte; é importante saber lidar com a «sorte» e com as circunstâncias. Mas, será que é «o sonho que comanda a vida»? Abre horizontes, estimula, mas é «o querer» humilde e confiante que constrói o futuro. A vida é gostar e entender-se: é amar em todas as circunstâncias; é querer e agarrar o compromisso de construir uma história de felicidade, construindo, passo a passo, uma história de amor.
É importante ter projetos, sonhos, mas sem deixar de ter os pés na terra. O sonho pode puxar pela vida… mas com os pés na terra. Formar uma família cristã é ter projetos, mas construídos com tempo e discernimento, com vontade firme e, ao mesmo tempo, com a consciência de que, por razões imponderáveis, eles podem não se realizar como se desejou. Mas isso não é falha, é ocasião de redimensionar o ideal. Não confundir um ideal com um idealismo: um ideal é uma força ascensional que não para. Um idealismo é uma meta teórica que até pode estar «mal sonhada» e ser perigosa: um idealista nunca está bem com a realidade.
O ideal é formar uma família cristã, segundo determinados valores. E é cada casal que vai orientando a sua vida. Se o casal se demite de construir a própria vida, então não é possível perseguir um ideal. A ideia do projeto é delinear, desenhar o futuro que se pretende a dois, como casal, como família, como Inter-familias (há que contar com a família alargada, de um lado e do outro).
É preciso ter o realismo de olhar para a vida e ver que há sempre coisas em aberto. (…) Há muitas situações e muitas saídas. Antes de mais, parar: dialogar, ver e ponderar bem a realidade toda e o que fazer. Procurar as ajudas certas. O que o casal sonha não está sempre garantido, mas está garantido que, com Deus e boa vontade, há um caminho bom, ainda que muito diferente do que se tinha pensado.
Por um lado, o casal pode e deve sonhar os seus projetos; por outro, tem de empregar os meios realistas para concretizá-los, não desistindo quando surgem os problemas ou as dificuldades, não tendo medo de pedir a ajuda da experiência de outros e da técnica e confiando na graça de Deus, que nunca falta.
O amor conjugal deve ser necessariamente fecundo. Se não o é, é porque não é amor autêntico, nem conjugal. Numa verdadeira família, a fecundidade tem três dimensões: se amar é dar vida e comunicar-se, a primeira dimensão está na vida que o marido e a mulher dão um ao outro. A segunda está na vida que os dois dão a terceiros, gerando e educando os filhos. A terceira está na vida que essa família comunica à sociedade com a sua presença, testemunho e serviço, para a transformação e enriquecimento do mundo.
Pe. Vasco Pinto Magalhães, SJ
In O que não cresce, decresce