Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

Há cerca de duas décadas, realizou-se nalguns países centro europeus um estudo no âmbito sócio religioso, com base num inquérito de largo espectro, sobre o modo como, actualmente, se usufrui o tempo livre no seu dia tradicional: o domingo. Dos inquiridos, 40% consideravam-no o dia menos social, aborrecido, quase um dia do tédio. Aludia-se, inclusive, ao síndrome do domingo e à neurose do domingo. Tais conclusões, algo espectáveis, inquietaram várias instâncias, entre as quais a Igreja, e motivaram uma oportuna, propositiva e bem estruturada Carta Apostólica de João Paulo II, O Dia do Senhor (1998), no intuito de reaver os valores do domingo, no seu significado cristão, espiritual e humanista.

O domingo tem matriz cristã: comemorar, culturalmente, a ressurreição de Jesus, no primeiro dia da semana (cf. Mt 28,1; Mc 16, 2; Lc 24,1; Jo 20,1), segundo as fontes bíblicas, patrísticas e pagãs, como Plínio, o Moço (séc. I-II). Só posteriormente, e por decreto do imperador Teodósio (séc. IV), se instituiu também como dia de repouso. O que permaneceu.

Na sociedade de tradição cristã ocidental, o domingo manteve a configuração genética cristã, preceituada na assembleia eucarística, memorial da Páscoa, e repouso. Entretanto, por factores vários, foi-se perdendo esta mística e, sobretudo no séc. XX, secundarizou-se a dimensão originária cultual, tornando-se um dia de dispersão, trabalho, desporto, diversão, comércio, agitação, cansaço até, solidão, melancolia. Juliette Greco cantava: je hais le dimanche! (odeio o domingo). O domingo perdera o seu carácter identitário.

O que desencadeou tal mutação do domingo, tão desvinculada da sua génese? Com intuito não saudosista e nostálgico, mas esperançoso e revitalizador, expomos alguns tópicos analíticos, evocando a motivação que levava os primeiros cristãos, quem dera os de hoje, a afirmar: sine dominico non possumus (sem o domingo não podemos viver).

– A mudança de atitude em relação ao templo livre, sobretudo no fim-de-semana, alterou-se profundamente. O fim-de-semana é um bem em si mesmo, oportunidade de evasão do quotidiano banal, tempo de festa, de encontro. Contudo, formatou-se de tal modo que, pode dizer-se ironicamente, engoliu o domingo, tornando-se este um dia da ressaca. Como pode a comunidade reconfigurar e conjugar estes valores: domingo e fim-de-semana?

– A obsessão da produção e do consumo, tornou o domingo um dia laboral e comercial inevitável para muitos e, além dos serviços básicos, alguns trabalhos não essenciais dificultam a participação cultual e a fruição do tempo livre para outros. Que fazer?

– A onda secularista-subjectivista provocou em tantos cristãos a perda do espírito comunitário, escusando-se do culto dominical (‘não preciso de ir à missa!’). O preceito dominical dissipou-se, a Igreja perdeu influência social e os deveres cristãos, a necessidade da comunidade, não geram presença nem participação.

– Há assembleias pouco atractivas e festivas, marcadas por algum clericalismo rubricista, Reconheça-se, todavia, que no pós-concílio se valorizaram alguns serviços-ministérios: leitor, acólito, músico, acolhimento e outros. Se muito caminho se fez, muito há a percorrer.

Seja o ano Jubilar da Esperança uma oportunidade para redescobrir a riqueza do domingo como a “festa primordial, reveladora do sentido do tempo” (João Paulo II).

P. José Henrique Santos

CategoryDiocese, Igreja

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