Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

A realização de intervenções de conservação e restauro nos bens culturais da Igreja enquadra-se na dinâmica da sua preservação, não apenas pela sua importância histórica e artística, mas também por tudo o que eles representam como manifestação de fé e recurso de anúncio da Boa Nova. Acresce ainda que, como herdeiros de um legado tão valioso na sua materialidade e na sua carga espiritual, devemos assumir a responsabilidade de o preservar para as gerações futuras e de o acrescentar com património de qualidade.

Infelizmente, tudo isto é esquecido, quando o individualismo, os gostos subjectivos, a ausência de diálogo e a falta de humildade em aceitar que o contributo dos técnicos é importante, conduz a intervenções, realizadas por empresas não qualificadas e sem qualquer ética profissional, que são absolutamente destrutivas e que privam em definitivo a comunidade de uma paróquia dos bens culturais com valor patrimonial, e os esvaziam do sagrado da vida humana que lhe deu significado. Configura-se, assim, a falta de respeito para com a memória dos fiéis que ao longo dos séculos viveram a sua fé naqueles locais, a falta de respeito para com o artista de cujo processo criativo germinaram as obras de arte, a falta de respeito para com a obra de arte em si, que perde em absoluto esse estatuto, até porque na maioria das ocasiões as más intervenções são irreversíveis.

Poderíamos colocar em paralelo a imagem do antes e do depois da intervenção de muitas obras e facilmente multiplicaríamos os crimes contra o património que continuam a ser praticados por iniciativa de párocos e de comissões paroquiais, orientados por gostos pessoais e de fácil agrado para as comunidades locais. São inúmeras as igrejas que se encontram completamente descaracterizadas, com retábulos e imagens de coloridos exuberantes, douramentos desnecessários, tectos pintados sobre placas de platex, etc. Ao invés dos critérios científicos e técnicos que devem ser adequados à especificidade de cada obra, são os gostos do pároco e dos intervenientes no restauro que orientam a intervenção. Frequentemente, nestas situações, a comunidade paroquial fica agradada com a intervenção, porque as peças ficaram como novas, coloridas e brilhantes, mas ninguém lhes explicou que desta forma perderam o seu valor patrimonial e artístico e se desrespeitou os seus antepassados.

Não é por falta de informação que estas situações continuam a ocorrer. Mesmo depois de alertados e informados há párocos e paroquianos que, fundamentados num direito de propriedade e no espírito de autonomia, não procuram orientação e preferem actuar à margem dos procedimentos técnicos adequados, desprezando a herança que lhes foi legada pelas comunidades de fiéis e comprometendo o legado patrimonial para as gerações futuras.

Fátima Eusébio, Departamento dos Bens Culturais da Diocese de Viseu

(Artigo publicado na edição de 17.7.25 do Jornal da Beira)

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