A palavra resiliência é utilizada muitas vezes diante de cenários de crise e de dificuldades, como lenitivo para aceitar as provações da vida como inevitáveis formas de crescer e amadurecer a nossa humanidade e finitude.
Hoje são muitas as experiências na vida que, em vez de nos trazerem tranquilidade interior, serenidade e paz, nos causam inquietações, dores, sofrimentos físicos e morais como aconteceu com os incêndios, que causaram às pessoas medo, terror, angústia, ansiedade e nervosismo.
Este fenómeno, com chamas violentas que não pouparam ninguém e destruíram bens, alterou paisagens, causou mortes e danificou parte da Região Norte e Centro de Portugal, salpicando por muitas zonas do nosso país a tristeza e a dor.
Fala-se hoje das alterações climáticas, da falta de meios de prevenção, da limpeza das florestas, mas quando o fogo chega a um campo ou a uma casa, se não for dominado a tempo, destrói tudo e torna-se incontrolável.
Todos nós recordamos imagens recentes dos fogos que destruíram as regiões do nosso país, do sul da Europa e em tantas partes do mundo. Os cenários que visualizámos são para todos nós imagens inesquecíveis. As populações afetadas falavam, com grande dor, da sua perda, estando junto de si um cenário dantesco de um verdadeiro inferno.
Como dizia o Papa Francisco, estamos a destruir a Casa Comum, que juntos devemos cuidar com sabedoria, empenhamento e esperança. Além das medidas tomadas pelo Governo, precisamos de iniciativas públicas ou privadas e gestos que recriem novamente o verde das paisagens que foram destruídas e reduzidas a cinzas.
Também, neste percurso, nos auxilia e ajuda a fé, como motor de esperança e capacidade de fazer da resiliência uma vivência de gestos novos e solidários como ensinava Jesus. É preciso nascer de novo como foi dito a Nicodemos. Renascer na vida e na esperança para sermos construtores de um mundo novo e de uma nova civilização.
Agora é preciso cuidar com humanismo, caridade e proximidade daqueles que perderam os seus entes queridos, as suas casas, os seus bens, os seus campos, as suas empresas e tudo aquilo que representava para eles uma vida de trabalho, de sonhos e de esperanças. Agora, acauteladas todas as formas de distribuição, é preciso dar continuidade a uma vida de trabalho e de perseverança constante.
Embora não saibamos as causas que originaram muitos dos incêndios no nosso país, é agora um momento de reflexão no rescaldo que é necessário assumir para todos darmos as mãos e ajudar as pessoas e populações afetadas. O desejo de ultrapassar tão grande desgraça e de fomentar uma onda de solidariedade e partilha, não deve deixar ninguém de fora.
Diz-nos a fé que a “Esperança não Engana”, pois esta assenta na pessoa de Jesus Cristo, nosso Salvador e Redentor do Homem. O nosso povo acrescenta que a “Esperança” deve ser a última virtude a morrer. São Paulo ensina que tudo morrerá, só o amor permanecerá para sempre. Esta é a verdadeira esperança na vida além da morte.
Nesta hora de avaliação dos prejuízos, em que uma parte significativa do nosso país se encontra, principalmente a experimentar o sentido da perda e do luto, é preciso olhar com confiança para o interior do território, que com o peso dos anos levou muitos habitantes à pobreza de meios e serviços, que não pode ser ignorada pelas autarquias, governantes, Igreja, por crentes e pessoas de boa vontade.
Necessitamos de trabalhar e participar juntos na reconstrução do território para restituir a beleza e a dignidade às regiões tão apreciadas do nosso país.
Em caminho sinodal, demos as mãos, partilhemos os bens e façamos orações para pedir o dom da chuva para os nossos campos, a saúde integral para as pessoas e o dom de partilhar a vida e o pão com aqueles que o não têm. Só uma onda de verdadeira empatia pode levar a solidariedade e a fraternidade aqueles que nos rodeiam.
Todos unidos e resilientes, confiantes na esperança de um mundo melhor, façamos crescer em nós a prudência e a temperança, virtudes que com a fortaleza e a justiça, hão de animar as nossas vidas ao longo da peregrinação que vamos fazendo em cada dia.
Neste vale de lágrimas, todos esperamos uma primavera verdejante e florida para os campos e florestas destruídos pelo fogo. Caminhemos todos na “Esperança”, deste Ano Santo Jubilar, que a Igreja nos propõe viver.
+António Luciano, Bispo de Viseu
(Artigo publicado na edição 28.8.25 do Jornal da Beira)