A expressão “Nova Evangelização” não é assim tão nova como muitas vezes pensamos. Usada pela primeira vez por S. João Paulo II como forma de desafio para a Igreja, em Nova Huta, na Polónia, esta expressão, enquanto tarefa de todos os batizados – proclamar Jesus Cristo e viver o que se proclama -, é tão antiga como a Igreja.
Fazendo eco das palavras de Paulo VI, expressas na exortação Evangelii Nuntiandi (1975), o Papa Francisco deixou claro, que é Jesus «o primeiro e o maior evangelizador» (Evangelii Gaudium 12), missão que Ele continua a realizar através dos seus discípulos. De facto, a dimensão sobrenatural da evangelização sempre existiu na Igreja, desde a época apostólica até aos nossos dias. A missão evangelizadora pós-pascal começa a desenhar-se com o chamamento que Jesus faz aos discípulos, constituindo-os grupo para o acompanhar e continuar a sua missão, isto é, de anunciar a Boa Nova e de “chamar” e “atrair” pessoas.
Quando contemplamos a tradição cristã percebemos que, desde os inícios, a evangelização e a missão são o fundamento e vocação da própria Igreja. É por isso que S. Paulo exclama: «Ai de mim se não evangelizar» (1Cor 9,16). No seu longo peregrinar histórico a Igreja tem experimentado luzes e sombras. Se por um lado, tem escrito páginas da nossa história com grande sabedoria e santidade, por outro lado, foi-se confrontando com o problema do “como evangelizar”, dado que, «as maneiras de o fazer variam em conformidade com as diversas circunstâncias de tempo, de lugar e de cultura» (Evangelii Nuntiandi 40).
Em retrospetiva, percebe-se que nem sempre a Igreja soube lidar eficazmente com as mudanças circunstanciais dos tempos, refugiando-se, muitas vezes, nas tradições de sempre, nas formas do passado e em comportamentos pastorais gerados mais pelo instinto de conservação do que pelo Espírito de Cristo. O ponto de viragem dá-se com a realização do Concílio Vaticano II (1962-1965), que investiu na tentativa de um aggiornamento eclesial, isto é, num processo de revitalização da vida da Igreja na sua relação com o mundo. O Vaticano II, mais do que um “ponto de chegada”, passa a ser um “ponto de partida” para a “Nova Evangelização”. O contexto pós-conciliar, até aos dias de hoje, passou a exigir uma “nova evangelização” permanente como prioridade pastoral, com a capacidade de ler “os sinais dos tempos”, onde a fé cristã é desafiada a mostrar-se capaz de interpretar a existência e, de orientar nessa, os Homens do nosso tempo, num mundo onde somos peregrinos e não turistas.
É a partir desta constatação, que os papas dos últimos 60 anos, desde o Vaticano II, compreenderam a urgência da “Nova Evangelização” e a têm colocado como a grande prioridade das suas agendas pastorais. Para o atual Papa Leão XIV, continua a ser um grande desafio, na condução da Igreja, a aplicação da tríade pastoral apresentada por S. João Paulo II: uma “Nova Evangelização” revestida de «um novo ardor, de novos métodos e novas expressões». Exigindo uma conversão pastoral e pessoal, a mesma, não pode ser considerada um ornamento retórico ou decorativo, mas tem de ser um projeto existencial de cunho transformador, tem de envolver a vida dos cristãos, das comunidades e da humanidade em geral.
O importante é (re)ler o conteúdo do Evangelho a partir das circunstâncias da nossa época, e estar “sempre prontos a dar razões da nossa esperança” (1Pd 3,15).
Pe. João Zuzarte