A importância e a necessidade do retiro anual na vida e no ministério dos presbíteros é inquestionável. A vida espiritual e pastoral precisa de ser alimentada e equilibrada.
Na Diocese de Viseu, decorre até amanhã o retiro anual dos nossos sacerdotes. É um momento na vida muito importante, necessário para a formação espiritual e permanente. É um dever de todos os sacerdotes participarem no retiro anual para parar, descansar, refletir, rezar, programar e converter a sua vida mais ao projeto de Jesus Cristo, o Bom Pastor.
É bom que todos sintam esta necessidade na sua vida de pastores. Deixar a rotina e abrir-se à ação do Espírito Santo é algo importante e fundamental na vida dos presbíteros.
Nos tempos em que vivemos, cheios de tantas solicitações pastorais, os padres precisam de parar na sua vida pessoal e espiritual para ir beber à fonte de água viva, escutar a Palavra de Deus, refletir, meditar, rezar, celebrar e colocar a sua vida segundo as orientações do Espírito.
O estilo de vida do sacerdote precisa de ser alimentado com a Palavra de Deus, centrado na celebração diária da Eucaristia, na vivência dos sacramentos, na oração da Liturgia das Horas, na oração pessoal e comunitária e na caridade pastoral.
Recentemente, num encontro com sacerdotes a nível mundial, o Papa Leão XIV deixava este apelo: “A igreja precisa de padres felizes”. François Xavier Bustillo no seu livro: “A vocação do padre perante as crises”, apela à fidelidade criativa do seguinte modo: “A alegria do padre, como vimos, pode estar ameaçada pelo excesso de trabalho, pela angústia ou pelas preocupações” (p.157). Estas palavras ligadas à unção com o óleo da alegria, no dia da ordenação sacerdotal, recordadas constantemente, fazem o padre sair da rotina que pode gerar um cansaço interior que os torna tristes e impacientes.
“Não esqueçamos que a alegria do ministério é crucial para avançar e testemunhar a alegria de Deus no mundo” (p.157).
O Papa Francisco, em 2014, na homilia da missa crismal afirmou “que a alegria do padre é um bem precioso para todo o povo, porque os padres são “ungidos com o óleo da alegria para ungir com o óleo da alegria” o povo de Deus (CF 157).
Ao falar de três tipos de alegria, afirmava: “A alegria que nos unge porque penetra no fundo do nosso coração e nos fortalece”; “A alegria incorruptível porque mesmo se ela está adormecida ou sufocada pelo pecado, ela continua intacta no fundo de nós e um dia será reavivada”; e “A alegria missionária porque, pela unção, o padre oferece à Igreja os sacramentos e através deles cuida, consagra, abençoa, consola e evangeliza o seu povo” (p. 157).
A alegria vivida pelos sacerdotes é sempre acompanhada pela pobreza, fidelidade e obediência. Se o padre conserva a sua alegria e vive a sua espiritualidade, permanece nele o dom da unção, que lhe dá a capacidade de cuidar dos fiéis com caridade pastoral.
Em presbitério, caminhando juntos, os padres são chamados a comunicar a salvação pela ação do Espírito Santo na Igreja e no mundo, à semelhança de Cristo, o Bom Pastor, que olhou para a multidão e a viu cansada e abatida, pois era como um rebanho sem pastor. Então Jesus disse à multidão: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos, pedi ao dono da messe, que envie trabalhadores para a sua messe”.
Recordo também que a Igreja em Portugal está a celebrar a Semana de Oração pelos Seminários Diocesanos, um tempo privilegiado para rezar, refletir e partilhar o pão com aqueles que nestas instituições eclesiais vivem, estudam, rezam, trabalham e fazem o discernimento vocacional.
O envelhecimento do clero, a diminuição de jovens e adultos candidatos ao sacerdócio nas nossas Dioceses, criam constrangimentos em relação à vida dos nossos Seminários, que se encontram na sua maioria vazios, à procura de novas formas de adaptação e respostas a novas necessidades pastorais.
A promoção das vocações sacerdotais é uma missão de toda a Igreja e deve ter um espaço privilegiado na vida das paróquias, em todas as comunidades, famílias e na catequese, através da oração, da reflexão e da partilha.
Todos os anos, para ajudar a refletir os cristãos das nossas paróquias e comunidades sobre a missão dos Seminários, as vocações sacerdotais, as equipas formadoras e os seminaristas, a Comissão Episcopal Vocações e Ministérios oferece-nos um conjunto de subsídios importantes para a vivência e dinamização desta Semana.
Caríssimos seminaristas, jovens e adultos em discernimento vocacional, deixo-vos uma palavra do Papa Leão XIV, que também faço minha: “A Cristo que vos chama dizeis sim, com humildade e coragem; a este vosso eis-me que lhe dirigis, germina no seio da vida da Igreja, acompanhado pelo necessário caminho de discernimento e formação.” Neste contexto, tem sentido o lema desta semana: “Precisamos de ti!”. Convido o santo Povo de Deus a rezar pelo aumento das vocações sacerdotais na Igreja.
+D. António Luciano, Bispo de Viseu