Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

O ecumenismo é a busca da união, da comunhão e da harmonia entre cristãos, apesar das diferenças; procura este movimento a unidade da fé em Jesus Cristo, na diversidade de expressões e de ritos.

No tempo de São Vicente de Paulo, numa França dilacerada por guerras religiosas (Calvinismo, Jansenismo, …) cujas marcas continuavam bem vivas no coração das pessoas, a linguagem era dura e o preconceito dividia, em muitos casos, sem possibilidades de aproximação e muito menos de bom relacionamento. Expressões de vingança e de ódio apareciam em declarações, de parte a parte. Face a esta questão, o que pensava o Padre Vicente? Como agia?

O Padre Vicente de Paulo cedo teve contacto com homens de outros “credos”, pelas piores e pelas melhores razões: a sua ordenação sacerdotal ocorreu na capela da residência episcopal, em Château-l’Évêque, onde o bispo de Périgueux se encontrava exilado porque a catedral tinha sido incendiada pelos calvinistas; no cativeiro, teve contacto com a mulher do seu dono, cristã ortodoxa, ele, um apóstata, natural de Nice, e, através dela, o marido retorna à fé católica e dele se serve Deus para libertar o Padre Vicente, fugindo, de barco, com a família para Avinhão, no sul de França; quando nomeado pároco de Châtillon-les-Dombes, vai hospedar-se em casa de um calvinista e de quem se torna amigo; de São Francisco de Sales, bispo de Genebra, aprendeu como lidar com os que pensam de maneira diferente, sem fúria nem exaltação, mas com suavidade e compreensão. Nas cartas e conferências de Vicente de Paulo encontramos uma linguagem nada comum, no seu tempo, embora também não aquela a que estamos habituados, após o Concílio Vaticano II. A um missionário leigo embarcado para Madagáscar, em companhia de alguns huguenotes, e que exercia a profissão de cirurgião escreve: “Estou preocupado por saber que alguns huguenotes viajarão no mesmo barco e, por conseguinte, haverá muito que sofrer da parte deles. Mas, enfim, Deus é o dono desta obra e permitiu tudo isso por razões que nós desconhecemos. (…) talvez para o obrigar a si, a ser mais contido na presença deles, e mais humilde e mais devoto para com Deus, mais caritativo para com o próximo, para que, vendo a beleza e a santidade da nossa religião encontrem razões para a ela voltar. Evite, com muito cuidado, toda a espécie de discussão, mostre-se amável e afetuoso, ainda que o provoquem ou falem contra as nossas crenças e práticas religiosas.

Por vezes, abordavam-se estas questões a partir do preconceito: “se é como eu penso, é bom”, caso contrário, “é mau”; “se é católico, é bom, se não é católico, é mau”. Numa carta escrita ao Padre Guilherme Gallais, Superior de Sedan, enredado em algumas polémicas jurídicas, recomendava: “(…) Não é conveniente, padre, que nos metamos em negócios seculares ainda que tenham alguma coisa a ver com o espiritual. Ou os assuntos se referem somente a católicos, ou só a pessoas da outra religião; ou, então, dizem respeito a católicos e huguenotes. Pois bem, (…) se a questão é entre um católico e um huguenote, como sabe você que o católico tem justos motivos para a demanda? Há grande diferença entre ser católico e ser justo! Ainda que você esteja convencido de que a demanda em tribunal é justa, quem lhe garante que os juízes não julgaram de acordo com a sua consciência?” Toda a carta é, pois, uma chamada de atenção, quase repreensão, sobre algumas maneiras de agir desse missionário, metido em polémicas jurídicas em que entravam pessoas de confissão calvinista.

Vemos que no Padre Vicente de Paulo há uma preocupação ecuménica que vai fazer escola nos Padres da Congregação da Missão. É na aceitação da diferença, no acessório, que se constrói a comunhão no essencial: em Jesus Cristo.

Padre José Alves, CM

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