Quando dizemos “Natal”, de que falamos? Feriado, prendas, férias, família, viagens, convívio com fartas mesas, iluminações grandiosas, sorrisos, mensagens, mais ou menos pessoais ou institucionais, gente nas ruas e praças, pai natal, renas, aqui e ali um presépio tradicional, ou de feição artística mais contemporânea, árvores de Natal, crianças ansiosas, uma ou outra imagem do Menino Jesus… Sim, um pouco de tudo isto emoldura o que alguém apelidava, ironicamente, “tralha natalícia”. Tudo isto é muito e, na verdade, pouco, se é secundarizado ou escondido o essencial. A verdade é que o Natal não deixa ninguém indiferente. Quase espontaneamente, gera-se um clima interior, pessoal e social diferente, quando falamos de Natal e chega a sua quadra.
Este ambiente, por vezes artificioso e comercializado, provoca nos rostos, nas palavras e gestos das pessoas sentimentos e gestos de bondade, simpatia e sorrisos. São aspectos em si mesmo positivos, louváveis, bons e belos…a promover até.
Todavia, esta envolvência adquirirá sentido mais pleno se perspectivada à luz e como expressão visível de algo mais profundo, invisível e originário – a comemoração do nascimento de um Menino que veio para “transformar as espadas em relhas de arados e as lanças em foices” (Is 2,4), Ele que disse: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Se “embrulharmos” também este Menino, Homem-Deus tudo não passará de uma quimera ou simples emoção sem efeito, que passará tão rápido como o dia, o desembrulhar de uma requintada prenda de circunstância.
Natal é nascimento contínuo. Há motivos bastantes para todas as manifestações de alegria, de familiaridade, de comunhão, de festa. É o Natal de Jesus, celebrado pelos cristãos desde o séc. IV, na data convencionada de 25 de Dezembro, que correspondia à festa do deus Sol Invictus, na antiga civilização romana. E isso basta, por si só, para que não se reduza a um mero dia de calendário, sem mais. Importante é o acontecimento e o que pode suscitar: o nascimento desse Menino, numa família de Nazaré, Homem-Deus para os crentes, para os não cristãos, um Homem excepcional para todos, veio para mudar o rumo da história da humanidade. Para fazer de todos uma só família, cuja norma de vida é o amor.
O nascimento de Jesus constitui, portanto, motivo de festa continuada, porque n’Ele Deus vem caminhar connosco, connosco assume as alegria e tristezas de cada dia, os projectos e anseios, a situação de um mundo que teima em não vislumbrar um rumo, onde seja mais apetecível viver, onde cada ser humano seja irmão e não adversário a abater ou desprezar…Deus faz história connosco.
Temos que fazer festa, extravasando o dia calendarizado, com sentimentos e efeitos concretos, se quisermos, nas vidas, por vezes pouco natalícias do quotidiano. Se acreditamos nisto e se temos o coração aberto poderá, e deverá, ser Natal Permanente, porque o Menino, nascido de Maria, continua actuante no meio de nós.
Padre José Henrique