É comummente aceite que a Comunidade tem um papel importante na evangelização. Para isso, uma comunidade concreta tem de ser verdadeira “epifania” da eklesia (da Igreja una).
Uma comunidade, para ser comunidade evangelizadora, precisa de viver a comunhão que é dom, ao mesmo tempo, visível e invisível, vertical e horizontal (cf. C. Notio, 3-4). Essa comunhão tem como referência principal a própria Trindade Santa, nas suas relações de reciprocidade e circularidade (pericorese).
Atendamos a algumas afirmações significativas, a este respeito, dos últimos Papas.
S. João Paulo II explicava que é preciso promover uma espiritualidade de comunhão e que essa consiste, antes de mais, em “ter o olhar do coração voltado para o mistério da Trindade, que habita em nós e cuja luz há de ser percebida também no rosto dos irmãos que estão ao nosso redor”(NMI 43).
No mesmo sentido e de modo algo inesperado, Bento XVI, ao tratar das questões sociais, em “Caritas in Veritate” chega a dizer que “Deus quer-nos associar também a esta realidade de comunhão: «para que sejam um como Nós somos um» (Jo 17, 22). A Igreja é sinal e instrumento desta unidade. As próprias relações entre os homens, ao longo da história, só podem ganhar com a referência a este Modelo divino”(54).
Já o Papa Francisco apresentou a chamada “mística do nós”, também chamada “fraternidade mística”, afirmando concretamente que “cada vez que nos encontramos com um ser humano no amor ficamos capazes de descobrir algo de novo sobre Deus” (cf. EG 272).
O Papa atual, Leão XIV, em 18 de maio de 2025, iniciou o seu ministério proclamando solenemente: “Esta é a hora do amor”! E quase a terminar a homilia exortava: “Construamos uma Igreja fundada no amor de Deus e sinal de unidade, uma Igreja missionária, que abre os braços ao mundo”. Não estará aqui o fermento da sinodalidade?
Vendo com atenção, compreendemos que uma comunidade que vive a comunhão manifestada na ágape, ou seja, no amor recíproco, é o ambiente ideal para o anúncio do Evangelho.
Vendo com mais atenção, descobrimos ainda que a comunidade tem uma função indispensável no processo de evangelização, havendo uma ligação inseparável entre evangelização e comunidade construída na comunhão.
Por último, somos convidados a descobrir que a comunidade, quando é construída por relações fortes de amor fraterno, torna-se ela mesma lugar hermenêutico de descoberta do próprio mistério. Com as palavras do Novo Diretório da Catequese (2020), “uma comunidade cristã que, mesmo na fragilidade dos seus membros e na exiguidade dos seus recursos, vive esta fraternidade mística, torna-se ela própria o primeiro e natural anúncio da fé”(nº 303 a).
Em suma, a comunidade quando é fraterna e marcada pela comunhão é ambiente e condição para a evangelização. Mas, mais ainda, ela é já verdadeiramente comunidade evangelizadora.
José Cardoso Almeida