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O apocaliptismo judaico-cristão

Esta corrente tem por base o pressuposto das várias intervenções de Deus na história do Povo e nas coisas terrenas. Foi elaborado um pensamento teológico assente nesse pressuposto (Aliança), em que Deus seria a sua Providência e o Povo, o cumpridor dos Seus Ensinamentos. A experiência histórica – sucessivas invasões, deportações e exílios – criava dificuldades a esta reflexão teológica. Os mensageiros de Deus, especialmente os Profetas, procuravam demonstrar que estas situações tão dramáticas eram consequências diretas da falta do cumprimento dos Mandatos Divinos.

A verdade é que, mesmo quando o Povo seguia os Preceitos Divinos, o sofrimento continuava presente e os Profetas não tinham resposta para tal. Começou, então, a delinear-se uma tentativa de explicação: o apocaliptismo.

A conceção judaica, desta visão apocalíptica, difere da cristã. Para o cristão ninguém é ‘justo’ diante de Deus, por isso nunca poderá cumprir plenamente a Sua vontade, daí o sofrimento. Para o pensamento apocalíptico judaico, Deus revelaria (do grego – Apocalypsis significa ‘revelar’, ‘desvelar’) às pessoas justas que sofrem, as razões do sofrimento, o que lhes trazia a capacidade de o aceitar e de se resignar. Ou seja, não seria Deus a origem do sofrimento, mas provinha dos Seus ‘inimigos cósmicos’. Estes ‘inimigos de Deus’ desferiam castigos e sofrimento sobre a humanidade precisamente por esta seguir e cumprir as Leis de Deus. Estavam convencidos que o poder de Deus não iria tolerar esta situação e a Sua intervenção estava iminente.

Nos Evangelhos existem alguns destes vestígios desta visão apocalíptica do mundo: “Em verdade vos digo que estão aqui presentes alguns dos que não provarão a morte até que vejam o Reino de Deus chegar com poder.” (Mc 9, 1). Alguns autores incluem Jesus nesta perspetiva apocalíptica (cf. John Meier. A Marginal Jew: Rethinking the Historical Jesus; cf. E. P. Sanders. The Historical Figure of Jesus; cf. Bart D. Ehrman, Jesus. Apocapyptic Prophet of the New Millennium).

Esta corrente surgiu por volta dos meados de século II, na chamada revolta dos Macabeus.

Após a morte de Alexandre, o império grego é distribuído pelos seus generais. A parte de Israel ficou sob o domínio egípcio e depois dominada pelo sírio Antíoco IV ou Epifanes (‘manifestação de Deus’). Este rei pretendia impor a cultura grega nos seus territórios, e as normas judaicas não se ajustavam minimamente à cultura grega. A perseguição foi atroz, para que Antíoco impusesse a hegemonia grega. O Primeiro Livro dos Macabeus (=martelador) narra esta luta, liderado por esta família, contra a imposição dos costumes gregos à fé judaica. Também se pode assinalar que alguns judeus queriam assimilar esta cultura. A revolta impôs um ‘Estado de Israel’, que durou apenas um século, até à invasão do império romano em 63 a. C., através de Pompeu.

A visão da existência do mal começou a ganhar outra direção: o apocaliptismo, expressa num livro escrito na época dos Macabeus: o chamado livro do Profeta Daniel, que iremos resumir na próxima abordagem.

(continua…)

Pe. Virgílio Marques Rodrigues

 

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