O amor e a vida de Deus Pai foram-nos dados em plenitude no seio de Maria. “O Verbo fez-se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que lhe vem do Pai como Filho Unigénito, cheio de graça e verdade” […]. “Na verdade, foi da sua plenitude que todos nós recebemos graça sobre graça” (Jo 1,14-16).
O Sacramento do Batismo faz dos cristãos, templos do Espírito Santo, participantes da graça divina, fazendo de cada um de nós, verdadeiramente, filhos de Deus.
O prólogo do Evangelho de São João, que acabámos de escutar, é um hino, que nos convida a abrir o coração ao mistério da salvação revelado pelo “Verbo de Deus”, que irrompeu na história humana como nova criação. “No princípio”, isto é, antes da criação na eternidade, “era o Verbo”, a Palavra, e esta Palavra estava voltada para Deus, numa atitude de escuta e colóquio íntimo. A Palavra de Deus é a fonte de tudo o que foi criado. Esta Palavra era a vida e a luz para toda a Humanidade. “A luz brilha nas trevas, e as trevas não se apoderaram dela” (cf. Jo 1, 1-18). Eis a revelação da economia da salvação a toda a humanidade.
A Palavra de Deus veio ao mundo como luz na pessoa do Filho de Deus, que encarnou no seio de Maria para salvar o seu povo. O Verbo que se fez carne é verdadeiramente o Filho de Deus. Esta é a grandeza do mistério do Natal e a fonte de toda a esperança.
Na Liturgia da Palavra da Missa da meia noite, da aurora do dia de Natal, São Lucas coloca diante de nós a humanidade e a divindade de Jesus, que se uniram no mistério da Encarnação do Verbo, para nos dar a vida em abundância.
Na noite de Natal, não havendo lugar na hospedaria, o Menino Jesus nasceu num estábulo de animais, e “sua Mãe envolve-O em panos e deitou-O numa manjedoura” (Lc 2,7).
Então, veio uma multidão de anjos que louvava Deus, dizendo: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados” (Lc 2,13).
Na Eucaristia da aurora, o Evangelho de São Lucas dá a notícia dos pastores, que disseram uns aos outros: “Vamos a Belém, para vermos o que aconteceu e que o senhor nos deu a conhecer”. Apressadamente, dirigiram-se à gruta de Belém para adorar o Menino que nasceu e “encontraram Maria e José e o Menino deitado na manjedoura, e ofereceram-Lhe os seus presentes. “Maria conservava todas estas palavras, editando-as em seu coração” (Lc 2,19).
Belém, a casa do pão, é o lugar onde o impossível acontece, tudo recomeça de novo. Ali a Estrela brilhou na noite escura como luz de Deus, que veio ao mundo para destruir as trevas do erro e do pecado.
Ao olhar para o nosso mundo dilacerado e marcado por tantas guerras, injustiças, situações negativas de vida e mesmo experiências de mortes inocentes, proclamemos o valor e a dignidade da vida humana desde o momento da conceção até à morte natural. O respeito pela vida humana ao longo do percurso da nossa vida como um valor inviolável e sagrado deve ser promovido e anunciado no Evangelho da Vida.
Vivamos este Natal valorizando o essencial na nossa vida, dando primazia aos valores humanos, éticos e espirituais, dando menos espaço ao consumismo e ao materialismo, cultivando um caminho de mais proximidade com Deus e com os irmãos.
O verdadeiro Natal é sempre uma festa de fé, de esperança e de caridade, centrada na pessoa de Jesus, o Salvador do mundo.
Jesus nasceu numa noite fria e escura, envolvido num mistério de luz e de salvação, para mostrar ao mundo o valor da vida em pobreza, humildade e simplicidade. O nascimento de Jesus recorda-nos o nascimento de cada um de nós, a graça recebida no batismo, que nos fez filhos de Deus e irmãos de Jesus Cristo.
A celebração do Natal convida-nos a partilhar a vida com palavras novas, gestos de esperança e de solidariedade, na prática da justiça, da verdade e no respeito pelos nossos irmãos. Jesus apresentou-se na vida de uma criança humilde e pobre, para se revelar como Salvador do mundo.
A grandeza e a beleza de Deus reveladas no mistério do Natal é Jesus, o Verbo Encarnado, que assumiu a nossa natureza humana para nos conceder a graça divina.
O Natal é a festa da vida e do amor: “Eu vim ao mundo para que todos tenham vida em abundância”. Por isso, àqueles que O receberam, concedeu-lhes a graça de se tornarem filhos de Deus.
Neste Natal vivamos esta filiação divina na proximidade com Deus e com os irmãos, principalmente as crianças, os jovens, os pobres, os doentes, os presos, os excluídos, os vulneráveis, os sem abrigo, os perseguidos, os refugiados e os migrantes.
Vamos todos a Belém, porque “Jesus nasceu para nós, um Filho nos foi dado”. Como Igreja peregrina adoremos o Menino Jesus no presépio, contemplemos a Virgem Maria e São José, no silêncio e na oração, para colher a bondade e a ternura de Deus oferecida a toda a humanidade.
Precisamos de construir o presépio no coração de cada pessoa humana, nas nossas famílias, na Igreja e no mundo, com sentimentos renovados e gestos proféticos.
Edifiquemos pontes de diálogo na proximidade, criando novas relações fraternas e solidárias com os nossos irmãos. Partilhemos os presentes com os nossos irmãos mais desfavorecidos, o pão com os pobres e o serviço na missão que a Igreja nos confiou, porque Jesus nasceu pobre para nos enriquecer a todos com a sua pobreza.
Adoremos Jesus presente na sua Palavra, na Eucaristia, nos Sacramentos, na Igreja e nos pobres. Anunciemos o seu nascimento e tornemo-nos “Protagonistas da Mudança” nas nossas comunidades, anunciando ao mundo a vida de Jesus.
Convido os cristãos e pessoas de boa vontade para o encerramento solene do Ano Santo Jubilar da Esperança, na Eucaristia do próximo domingo, dia 28 de dezembro de 2025, às 15,30 horas, na nossa Catedral, e aí celebrarmos a festa da Sagrada Família.
Vamos rezar pela paz no mundo e pelo fim da guerra em tantas nações. Imploremos do “Príncipe da Paz” o amor verdadeiro e a ternura dos afetos capazes de construírem a “comunhão, a participação e a missão”. Sejamos Protagonistas da Mudança, servidores da Esperança e construtores da Paz anunciada pelo Anjo aos pastores.
Desejo a todos vós, às vossas famílias, a todas as comunidades e pessoas de boa vontade votos de Santas Festas de Natal e um final do Ano Santo Jubilar da Esperança abençoado por Deus e entregue à proteção da Sagrada Família de Jesus, Maria e José. Ámen!
Viseu, 25 de dezembro de 2025
+ António Luciano, Bispo de Viseu