SÃO TEOTÓNIO
Padroeiro da cidade e da Diocese de Viseu
Nota histórica
São Teotónio nasceu em 1082, em Ganfei, concelho de Valença. Aos dez anos foi para Coimbra onde aprendeu a prática eclesiástica da leitura e do canto. Em 1098, veio para Viseu, onde deu continuidade aos estudos e foi ordenado sacerdote, dando sempre mostras evidentes de grande progresso no caminho de perfeição e santidade. Por volta de 1110 assumiu o cargo de Prior da Sé de Viseu, do qual abdicou para ir em peregrinação à Terra Santa. Em 1131, integrou o grupo dos 12 monges que fundaram o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, do qual foi o primeiro prior. Partiu para a Casa do Pai em 1162, tendo sido canonizado um ano após a sua morte, é o primeiro Santo português. Assumiu especial protagonismo no contexto dos alvores da nacionalidade portuguesa, pela proximidade ao Rei fundador, D. Afonso Henriques, de quem foi conselheiro no período de fundação de Portugal. São várias as virtudes que caracterizaram a vida prodigiosa de São Teotónio: a inteligência, o espírito de obediência, a humildade, a simplicidade de vida, a bondade, o serviço aos humildes e o auxílio ao próximo, a dinâmica missionária e ação evangelizadora, em paralelo com uma existência dominada pela oração e rigor.
Por volta de 1602 o bispo D. João de Bragança instituiu São Teotónio como padroeiro da diocese de Viseu. Posteriormente vieram do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra as relíquias do Santo, duas canas do braço, que foram colocadas na Catedral de Viseu, num relicário de prata.
Virtudes
1ª Oração, Contemplação e Ação
Teotónio é um contemplativo. Porém, a sua vida apresenta uma atividade reconhecida como decisiva na condução das tarefas da Sociedade e da Igreja de então. Mostra – de forma perfeita – que oração e contemplação não são contrárias à ação nem são impedimento, mas ajudam a ponderar a ação e a rejeitar o ativismo… Como contemplativo, buscava a meditação e a oração, no silêncio e na clausura, sendo importante na reforma e na purificação da vida religiosa. Porém, o recurso à oração e à contemplação ajudava-o a ser profundo, ponderado e consistente nas escolhas, nas propostas e na realização das decisões tomadas, quando e porque necessárias. Em S. Teotónio, o amor pelo silêncio e pela contemplação levou-o a procurar a peregrinação à Terra Santa, tendo feito, por 2 vezes, esta experiência. Quando, mais tarde, quis fixar-se definitivamente em Jerusalém e ali morrer, as insistências do seu educador D. Telo e de outros amigos levaram-no a alterar esse desejo e a aceitar ficar e promover todas as reformas que marcaram a sua ação na vida religiosa.
Surge, neste novo capítulo da sua vida e depois de deixar Viseu, Igreja à qual doou um terço dos seus haveres, o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra que fundou com mais 11 amigos e do qual, por escolha de todos, foi o seu 1º Prior. Aqui morreu em 18 de Fevereiro de 1162 e ali foi sepultado e tem o seu túmulo.
A sua vida em Coimbra, como já em Viseu, atesta a sua capacidade de ação, mas, também, o seu rigoroso critério de seleção dessa mesma ação. Em Viseu, refere-se o seu zelo e unção espiritual nas celebrações de toda a vida própria do priorado: zelo pastoral na celebração da Eucaristia, na disponibilidade para a reconciliação, nas visitas e proximidade com os doentes, na caridade pastoral para com todos, na disponibilidade para o acolhimento, para a formação e para os sacramentos e na generosidade para com os pobres e necessitados. No Mosteiro de Coimbra e, para além do governo da Casa e da formação dos seus membros, era a atenção ao acompanhamento da vida do Reino que nascia e da proximidade com o Rei D. Afonso Henriques.
2ª Ação Evangelizadora e Formativa
«Exercitava admiravelmente o Ofício da sua Ordem, catequizando e instruindo na doutrina e mistérios da fé; ele os batizava e instruídos nas obrigações de cristãos os incorporava na Igreja Santa».
Esta referência à ação evangelizadora diz-nos da forma como S. Teotónio exercia o ministério sacerdotal em Viseu. Não era uma ação de manutenção ou sacramentalista, no sentido negativo das expressões. Jesus, quando enviou os Seus Apóstolos, pediu-lhes que anunciassem a Boa Nova e que fizessem discípulos e, aqueles que aderissem, fossem batizados. A sua ação era evangelizadora e catequizadora, começando por iniciar no conhecimento de Jesus e das Suas propostas evangélicas para, depois, aceitar ao Batismo e integrar na Comunidade. Ficou conhecido como um dos mais ilustres pregadores do Evangelho em Portugal, não porque se conheçam sermões importantes, mas porque punha o Evangelho como base da sua vida pessoal, do seu testemunho e do seu ministério.
Está descrito, nestas palavras do cronista, um verdadeiro itinerário de Iniciação Cristã, hoje indispensável e que o Sínodo nos deve ajudar a preparar, a instituir e a regularizar. Não podemos continuar a batizar crianças quando temos a certeza que lhes não vai ser feita nenhuma evangelização e nenhuma iniciação à fé e à vida cristã. Por outro lado, não podemos aceitar ao Sacramento da Confirmação quem não está iniciado na prática de vida cristã e quem não assumiu o Baptismo como inserção e integração na Comunidade cristã.
3ª Virtudes que adornam a Igreja de Viseu no tempo de S. Teotónio
«A devoção e piedade que o santo Sacerdote fomentava nesta cidade com seus exemplos e doutrina, fizeram aí florescer o espírito da Igreja primitiva. Cheios seus moradores de caridade e doçura com os próximos, faziam seus bens aos necessitados» (Vida de S. Teotónio, p. 26).
Ele próprio, no dizer de um seu biógrafo, «visitava os doentes, falava a todos – ricos e pobres, tornando-se próximo de todos – celebrava pelos defuntos e distribuía, pelos pobres, os bens de que era destinatário… Todos, junto dele, melhoravam a saúde – do corpo e da alma… Em Viseu, à sua casa davam o nome de seio de Abraão», pela abertura e acolhimento aos desconhecidos que passavam.
São interessantes estas 2 referências, tão ligadas ao espírito da Igreja dos primeiros tempos que o Concílio quis recuperar e que nós, neste Sínodo, queremos destacar e fazer renascer: doutrina e exemplos no testemunho de vida (assíduos na escuta da Palavra e na vivência do amor fraterno) e cuidado pelos pobres, doentes e necessitados em geral.
4ª A Igreja acolhe e abraça o mundo
Queixamo-nos hoje das circunstâncias difíceis para a nossa vivência e prática da Fé: valores, família, ambiente, crises, juventude… S. Teotónio não viveu circunstâncias mais fáceis, num tempo de construção do Reino, sem paz, sem formação, sem ritmos cristãos de vida, sem condições mínimas de ação, sem organização… Tudo ia nascendo ao ritmo do coração do Pastor. S. Teotónio ia construindo a Igreja mas não descurava a construção da Sociedade e dos ambientes onde as pessoas, cristãs ou não, precisavam de respostas e de apoios.
Ele não se escondeu, não fugiu nem evitou dificuldades para fazer compromissos. Por vezes, é mais fácil um certo comodismo de evitar campos ou situações difíceis, de fronteira, sobretudo na ação dos leigos e no compromisso com o mundo. Porque não está a Igreja presente em muitas áreas culturais, sociais e políticas? Melhor: porque não estão presentes os valores humanos e cristãos e os princípios da Doutrina Social da Igreja? Não será por comodismo, medo, falta de competência e de espírito de risco e de aventura?
Onde a sua ação se nota decisiva é no apoio social e na capacidade de intervenção pública, numa relação respeitosa mas marcante com as autoridades, incluindo com o Rei e com os nobres. Apesar desta relação, primava pela autonomia e independência e dava prioridade à verdade e aos valores que estivessem em causa… Não confundia campos nem buscava privilégios ou favores…
Era nestas diversas formas de atuar e nas diferentes dimensões da sua intervenção – privada e pública, religiosa, política e social – que vinha ao de cima a sua grande capacidade de leitura da realidade, de liderança humana e de construção da comunhão, sempre no respeito pelos grandes valores e pelas grandes causas.
Tudo vivia e tudo fazia num grande rigor com a sua missão e com as regras que o regiam, salvaguardando a disciplina do seu estilo de vida. Privilegiava, sempre, a humildade e rejeitava todos os títulos. Era avesso a quaisquer privilégios e implacável na defesa dos mais pobres, dos mais frágeis e dos mais desprotegidos, fosse em frente do Rei ou de quem quer que estivesse em causa.
Retirado de: LEANDRO, D. Ilídio Pinto, Conferência Quaresmal: São Teotónio, mestre de comunhão na Igreja Sinodal. In São Teotónio, patrono da diocese e da cidade de Viseu. 1162-2012. Catálogo de Exposição. Viseu: Diocese de Viseu, CMV, 2013.
Oração a São Teotónio
Celeste Padroeiro e nosso especial Protetor,
Confiamos-te a nossa Diocese de Viseu,
agora em projeto de renovação sinodal.
Pede, para ela, as Bênçãos do Senhor, nosso Deus e nosso Pai.
Olha para nós com a solicitude com que governaste a tua e a nossa Igreja,
à frente da qual foste modelo de zelo, de atenção e de santidade.
Inspira, em nós, os valores da Humildade, da Oração, da Confiança e do Amor a todos,
especialmente aos mais pobres, aos mais doentes e aos mais sós da Comunidade.
Cria, em nós, o fervor missionário que nos leve a viver, a anunciar
e a testemunhar a Boa Nova do Evangelho,
com a qual nos comprometemos no Sacramento da Crisma.
Concede-nos – do Senhor nosso Deus e de Maria, Senhora do Altar-Mor –
a Fé, a Esperança e a Caridade
para sermos, hoje e sempre, testemunhas de Jesus Cristo Nosso Senhor
que vive na unidade do Espírito Santo.
Ámen.
D. Ilídio Leandro