Teria completado 100 anos em 5 de junho passado se fosse vivo. Nasceu em Viseu e morreu em dezembro de 2002 com 86 anos, na sua terra Natal. Monsenhor Luís Barreiros foi homenageado no passado sábado, 16 de julho, durante uma sessão solene evocativa que encheu a Igreja do Seminário Maior de amigos, familiares, padres, religiosas e leigos.
“Estamos numa homenagem a um homem sábio, bom e simples”, destacou o Bispo da Diocese de Viseu, D. Ilídio Leandro ao encerrar a cerimónia dirigida pelo Cónego Jorge Alberto Seixas e que contou a participação de várias personalidades, com apontamentos musicais, canto e poesia dos alunos do Colégio da Via Sacra, uma exposição da Ordem terceira do Carmo e um momento vivido com especial emoção, quando uma jovem declamou o poema ‘Meu Filho’ escrito por sua mãe Julieta Barreiros (poetisa). Mas quem foi Monsenhor Barreiros? O que fez? Porque marcou as vidas da Diocese e da cidade de Viseu? Monsenhor Luís Barreiros foi um homem com perfil invulgar traçado na cerimónia de forma notável por Monsenhor Sílvio Henriques, companheiro de residência e não só ao longo dos tempos: “Convivi muito de perto com Monsenhor e quem vê de perto vê melhor, mas as suas qualidades eram tantas e tão notáveis que se viam mesmo ao longe”. A afirmação serviu de arranque para um discurso que, embora escrito, foi apresentado como que de improviso se tratasse tal era a emoção que transmitia em cada palavra. Monsenhor Sílvio chamou-lhe um homem “multifacetado”, “bondoso”, “desprendido até ao limite”, “trabalhador incansável”, “de uma cultura invulgar”, “atualizado e aberto, com um coração de bom pastor”. Após ter sido ordenado Padre em 1939, ao longo da sua vida de sacerdote, Monsenhor Barreiros foi secretário particular de D. José da Cruz Moreira Pinto, foi professor, diretor espiritual e vice-reitor do Seminário Maior, foi diretor do Colégio da Via Sacra, foi reitor da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, foi o primeiro assistente diocesano da Cáritas após a segunda Guerra Mundial e foi Vigário Episcopal entre muitas outras funções. No seminário, Monsenhor Sílvio acrescentou às qualidades que lhe são reconhecidas o jeito para a enfermagem: “Quando nos vinha a gripe e a febre lá estava ele e rapidamente nos punha nas aulas”. Mas destacou o seu papel inovador na igreja, nomeadamente na catequese. “Nunca foi pássaro de gaiola, cedo se encarregou da catequese na vila de Fornos de Algodres. Aí sentiu a necessidade de novos métodos e de novos textos para a catequese. Servia-se de tudo para fazer cópias dos seus escritos que ia distribuindo”, revelou lembrando que “para ele evangelizar era tudo, simultaneamente o seu trabalho e o seu descanso”, porque “o seu ideal era ser pároco”. Enquanto assistente diocesano da Cáritas de Viseu, Monsenhor Barreiros destacou-se no trabalho desenvolvido em tempos difíceis no final da II Guerra Mundial, em que angariou toneladas de roupa, de alimentos e incentivou dezenas de famílias de Viseu que se tornaram de acolhimento para muitas vítimas da guerra. A metáfora usada por Monsenhor Sílvio deixou a imagem do seu papel messa época: “A Casa Paroquial era o supermercado onde os pobres se abasteciam”. Monsenhor Sílvio revelou-o assim como “um dos sacerdotes mais cultos da Diocese” que “privilegiava a informação escrita” deixando inclusiva “apreciados artigos no Jornal da Beira”. E no Colégio da Via Sacra enquanto diretor envolveu-se no grande projeto de ampliação do edifício, mas assumiu igualmente o papel de professor de mente aberta ao preparar os alunos para a vida, nas aulas e fora delas: “até organizava bailes no colégio”. A cerimónia de homenagem ao que todos reconhecem ser uma figura determinante na vida da diocese e da cidade, contou com outros testemunhos. Fernando Barreiros Cardoso, o elemento mais velho da família lembrou-o como um homem que “não olhou nunca à condição social” e, “desinteressado dos bens materiais”, foi “um cristão de verdade que amava a cidade de Viseu” e vivia “sempre com a esperança num mundo melhor”, talvez daí viesse a sua “veia poética” que também herdou da mãe poetisa. António Moreira, na qualidade de antigo aluno do Seminário homenageou-o na amizade explorando os seis gestos que considera mais nobres na sua personalidade. “Estou aqui a prestar homenagem a uma figura que foi marcante para a nossa cidade, alguém que teve um papel determinante e um exemplo para todos nós”, reconheceu o presidente da Câmara, Almeida Henriques. O autarca, que confessou conhecer melhor o seu papel de relevo na educação, perfilhou Monsenhor Luís Barreiros como “uma das figuras que marcou Viseu” com uma obra alargada. D. Ilídio Leandro fez referência a Monsenhor Barreiros como “uma figura central da Igreja de Viseu que marcou e marca a vida da Diocese”. O Bispo recordou a “memória” (um monumento) que Viseu irá erguer, junto à Igreja do Carmo, num memorial que dignifique e honre o passado de Monsenhor Barreiros, que “tinha uma relação muito carinhosa, muito próxima e muito amiga de todos”, refletindo sempre o que “sentia ser a Igreja”. Um concerto Jubilar, integrado nas comemorações dos 500 Anos da Dedicação da Catedral prolongou esta homenagem, que integrou também a celebração festiva de Nossa Senhora do Carmo, na Igreja do Carmo. G.I./J.B.:EA