A nova legislação refere que os lares devem ser chamados ‘residências’, mas há muito que o Lar-Escola de Santo António, em Viseu ,funciona não apenas como uma ‘residência’ mas como uma família. Por ali já passaram centenas de crianças e jovens que se fizeram homens. E muitos são os que, já crescidos, ali regressam para uma visita.
“É rara a semana que não passem por aqui rapazes que aqui estiveram. E agradecem”, refere o Cónego Arménio Lourenço, que dirige a instituição há várias décadas. Este clérigo e ‘pai’ “porque somos como que pais para eles”, conhece como poucos a realidade que se vive por detrás das paredes daquela casa que fica no largo Mouzinho de Albuquerque, paredes-meias com a Igreja de Santo António.
Por isso as críticas que o sacerdote faz ao sistema são fundadas com exemplos que, por respeito às crianças e jovens, preferiu ver retirada da conversa que teve com o Jornal da Beira. Ainda assim, aponta o dedo. “Os serviços, conforme estão organizados, não propiciam segurança a essas crianças. Os serviços estão desarticulados. A situação é esta: a família é afetada e não tem condições. O Estado, através dos serviços públicos, diz que se a família não é capaz, ele [o Estado] assume a responsabilidade, e os rapazes são colocados numa instituição – que é a última medida de proteção”.
O Sacerdote lembra ainda o dramatismo que, em muitos casos, ocorre essa separação da família. “Um técnico da Segurança Social vai ao tribunal solicitar que é necessário tirar uma criança ou jovem à família. O tribunal decide que a criança ou jovem vai ter que deixar a família e tantas vezes sem lhes explicar porquê. A criança ou o jovem é acompanhado pela Polícia ou pela GNR que aparecem aqui com eles. Quem não está dentro disso fica completamente desvairado, mas ainda se faz hoje”.
O lado feminino de um lar de rapazes
Aquela é uma situação que ainda ‘mexe’ com a Irmã Belém, do Instituto Jesus Maria José (IJMJ), apesar de já não ser como dantes. “Agora já vivo isso com mais naturalidade”, confirma, mas “marcaram-me muito certas situações. Lembro-me de um jovem que quando aqui chegou deitava-se no chão e não descansou até falar com a mãe. É marcante”, garante.
A Irmã Belém desempenha, conjuntamente com as outras Religiosas presentes no Lar-Escola de Santo António, um outro papel. Um papel que os homens não o conseguem desempenhar: o papel de mãe. Como as ações realizadas pelo Cónego Arménio – e na figura dele todos os ‘homens’ dirigentes da instituição – as ações da Irmã Belém e das outras Irmãs do IJMJ provam diariamente as Obras de Misericórdia, não apenas as corporais, mas também as espirituais. A Irmã Belém diz que fazem tudo, “desde o vestir, o escolher a roupa que mais gostam (Vestir os Nus). Vão a um armazém que nós temos, dá-se o banho, ensina-lhe o quarto, apresenta-se a casa”. Mas também se “ouvem as histórias deles e fala-se com eles (Dar Bons Conselhos)”.
Depois de ganhar a sua confiança, muitos rapazes “começam a gostar de nós, porque os acolhemos bem” refere a Irmã que não tem dúvidas em afirmar que sente que é “uma mãe para eles”. E o lado feminino deste lar de rapazes ganha certamente um outro tato, uma outra sensibilidade, uma outra cor.
G.I./J.B.:PBA