Discurso anual ao Corpo Diplomático na Santa Sé sublinha importância do diálogo entre religiões.
O Papa condenou hoje a “loucura homicida” dos fundamentalistas, visível em recentes atentados, e disse aos membros do Corpo Diplomático acreditados na Santa Sé que é necessário dialogar com as religiões.
No seu discurso anual aos representantes de mais de 180 nações e organizações, Francisco desafiou as autoridades religiosas a manter-se unidas para afirmar que “nunca se pode matar em nome de Deus”.
“Trata-se duma loucura homicida que, na tentativa de afirmar uma vontade de predomínio e poder, abusa do nome de Deus para semear morte”, denunciou.
O Papa admitiu que, “infelizmente”, a experiência religiosa tem sido usada como pretexto de “ marginalizações e violências”, referindo-se particularmente ao “terrorismo de matriz fundamentalista”.
O discurso recordou as vítimas de atentados no Afeganistão, Bangladesh, Bélgica, Burquina Faso, Egito, França, Alemanha, Jordânia, Iraque, Nigéria, Paquistão, Estados Unidos da América, Tunísia e Turquia.
“São gestos vis, que usam as crianças para matar, como na Nigéria; tomam de mira quem reza, como na catedral copta do Cairo, quem viaja ou trabalha como em Bruxelas, quem passeia pelas ruas da cidade, como em Nice e Berlim, ou simplesmente quem festeja a chegada do Ano Novo, como em Istambul”, lamentou.
O Papa sustentou que o terrorismo fundamentalista é fruto duma “grave miséria espiritual”, que muitas vezes aparece associada também à “pobreza social”.
“Isto só poderá ser plenamente vencido apenas com a colaboração conjunta dos líderes religiosos e dos líderes políticos”, assinalou.
Francisco evocou a Jornada Mundial de Oração pela Paz, realizada em Assis no último mês de setembro, durante a qual se encontraram os representantes das diferentes religiões para “dar voz em conjunto a quantos sofrem, a quantos se encontram sem voz e sem escuta”.
“Sabemos que não têm faltado violências por motivação religiosa, a começar precisamente pela Europa, onde históricas divisões entre os cristãos já perduram há demasiado tempo”, acrescentou.
O Papa falou do caminho ecuménico como um “diálogo possível e necessário, já visível no trabalho conjunto, “por vezes mesmo com o sacrifício dos mártires”, em áreas como a educação e a assistência sanitária, “especialmente nas regiões mais desfavorecidas e nos cenários de conflito”.
A intervenção aludiu ainda à iniciativa do Conselho da Europa sobre a dimensão religiosa do diálogo intercultural, que em 2016 se debruçou sobre o papel da educação na prevenção da radicalização que conduz ao terrorismo e ao extremismo violento.
“Trata-se duma oportunidade para aprofundar a contribuição do fenómeno religioso e o papel da educação para uma verdadeira pacificação do tecido social, necessária para a convivência numa sociedade multicultural”, afirmou Francisco.
O encontro decorreu na Sala Régia do Palácio Apostólico do Vaticano e começou com uma saudação do decano do corpo diplomático, Armindo Fernandes do Espírito Santo Vieira, embaixador de Angola.
G.I./Ecclesia:OC