Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

Memórias dos bons “Peras”.

Decorria o ano de 1950 quando conheci os Missionários Combonianos do Coração de Jesus, que tinham vindo de Itália e haviam escolhido a diocese de Viseu, para sede da sua Ordem, em 23 de Abril 1947.

Os meus primeiros contatos com eles, aos meus 11 anos, tiveram lugar em Repeses nas Eucaristias dominicais. O então meu Pároco, P.e Amadeu Lopes Gonçalves, entregara-lhes a capelania de Repeses a troco das aulas de português que dava no Seminário das Missões. Desde cedo comecei a ajudar à Missa aos bons «peras» (nome que era dado aos Combonianos dado usarem ou farta barba ou «cavanhaque»).

Com eles, nas Eucaristias dominicais, os cristãos passaram a ouvir um jovem a ler, em português, as partes que o celebrante, baixando a voz, lia em latim. E estávamos longe do Concílio Vaticano II.

Inicialmente nas suas bicicletas e, mais tarde, nas suas «Cociolo» aí estavam eles, pontualmente, para as Eucaristias dominicais (às 8 horas da manhã) ou semanais (por volta das 6).

Os cristãos praticantes de Repeses, a que se juntavam, em maior quantidade, os de Paradinha, tinham pelos «peras» grande respeito e admiração. De igual modo, eram muito queridos pelo povo cigano, que, nessa altura, ainda nómada, acampava ao abrigo da capelinha de Santa Eulália. A prova desse respeito está nas dezenas dos que, quando o P.e Ângelo de La Salandra, com o seu «Cociolo», teve um desastre na curva de Fail ao regressar de um ato litúrgico em Canas de Santa Maria, enchiam a enfermaria do Hospital onde ele ficara internado.

Eu, que sempre os admirei, aproveitava os meus tempos livres para os ir visitar ao Seminário das Missões. Ali vi o trabalho dos Irmãos a tratar das galinhas «ligorne» e de coelhos de raça, que eu nunca vira, e o cuidado numa agricultura aprimorada. Vi também o primeiro trator, a plantação do pomar e da vinha. Nesses trabalhos mais duros, trabalharam alguns sacerdotes.

No Seminário das Missões, os sacerdotes eram, diariamente, procurados para confessarem, já que os cristãos viseenses os encontravam mais disponíveis. Alguns jovens das escolas viseenses (Colégio da Via Sacra, Escola do Magistério Primário, Liceu Nacional de Viseu, Colégio de Santo Agostinho, Colégio Português, Escola Industrial e Comercial de Viseu e os seminaristas do Seminário Maior) também gostavam de aí se confessar.

A porta do Seminário das Missões estava sempre aberta. Depois de aprenderem melhor a língua portuguesa, muitos desses missionários eram solicitados para pregadores nas festas em diversas paróquias da diocese.

Visitei, desde muito jovem, e por várias vezes, a construção do novo Seminário e a sua capela. Foi lá que conheci os Irmãos Eligio Locatelli e Igino Antoniazzi, mestres pedreiro e carpinteiro, respetivamente. O primeiro acabou por ir para as missões no Brasil; o segundo, encontrei-o em Carapira (Moçambique), já com quase 90 anos, deslocando-se diariamente para a carpintaria da Missão na sua já velha motorizada.

As técnicas por eles usadas na construção do Casa e Seminário, nos anos 48, eram mais aperfeiçoadas que as usadas em Viseu.

A primorosa pintura do retábulo do altar-mor da atual Capela do Seminário foi da autoria do P.e Alfredo Bellini.

No Natal, os Combonianos construíam um gigantesco presépio animado, que motivava excursões em autocarro para o verem.

G.I./J.B.:Valente da Cruz

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