«É mais que justo que as pessoas estejam nesta inquietude de ver reconstruída a casa que lhes foi roubada pelos fogos», diz Eugénio Fonseca.
A Cáritas Portuguesa continua no terreno junto das populações mais afetadas pelos incêndios que, entre junho e outubro, provocaram mais de 100 mortos, deixaram centenas de casas e empresas destruídas e arrasaram 442 mil hectares de floresta.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o presidente da Cáritas Portuguesa reconhece que o processo de apoio “está a ser lento relativamente à ansiedade em que as pessoas se encontram” e ao sofrimento “indiscritível” por que passaram.
“É mais que justo que as pessoas estejam nesta inquietude de quererem ver reconstruída a casa que, sem culpa própria, lhes foi roubada pelos fogos”, realça Eugénio Fonseca.
Aquele responsável destaca sobretudo a preocupação com as pessoas que perderam entes queridos para as chamas, e que têm que ser devidamente acompanhadas.
“Depois da casa entregue, mobilada, eu quero saber quem é que vai fazer companhia a essas pessoas, algumas muito idosas, que já não têm fotografias para ver dos seus antepassados, arderam… Que já não têm recordações à mão. Quem vai estar com essas pessoas para as confortar?”, questiona Eugénio Fonseca, que recorda a importância de um trabalho de vizinhança.
“Eu gostava muito que os vizinhos se preparassem e se pudessem aproximar e ser esse conforto nas horas de maior solidão, de recordações mais difíceis”, exorta o presidente da Cáritas Portuguesa.
A situação dos incêndios foi um dos temas centrais do último Conselho Geral da Cáritas Portuguesa, que teve lugar nos últimos dias em Fátima.
O Governo identificou recentemente 900 casas de primeira habitação destruídas pelas chamas, para as quais vai destinar um investimento de 30 milhões de euros.
Paralelamente deu conta da existência de 500 empresas que deixaram de ter meios para funcionar, devido aos incêndios, e para as quais foi atribuída uma verba de 100 milhões de euros, a fundo perdido, e outro tanto numa linha de crédito.
Entre os distritos mais afetados pelos fogos de junho e de outubro estão as regiões de Viseu, Coimbra e Castelo Branco.
As preocupações neste momento estendem-se também às pessoas que dependiam da agricultura para comporem os seus rendimentos e assegurarem a sua sobrevivência.
O presidente da Cáritas Diocesana de Coimbra, um dos territórios mais afetados pelas chamas, recorda o exemplo das famílias que dependiam “da agricultura, da pequena agropecuária para completar a sua subsistência”.
“Era esse extra que elas podiam ter e que agora deixou de existir. E isso para nós é uma preocupação porque permitia que a situação de pobreza não se agravasse e pudesse ser alavancada. As necessidades que ainda mantemos junto do povo português serão para apoiar estas situações”, aponta o padre Luís Costa.
Apoios para a compra de animais e para a sua alimentação, para a replantação dos terrenos, para a reconstrução de cercas, todas estas questões estão a ser também contabilizadas e têm de ser atendidas.
“Só no Concelho de Tondela tenho cerca de 1500 famílias que precisam destes pequenos apoios”, adianta o presidente da Cáritas Diocesana de Viseu, Monteiro Marques.
Já o presidente da Cáritas Diocesana de Coimbra sublinha o caso do Concelho de Oleiros, onde são necessárias pelo menos “200 cabeças de gado e 380 colmeias que arderam e que eram uma fonte de rendimento” para as pessoas, em grande parte mais idosas e com pequenas reformas.
“Mas não basta adquirir os animais e entregá-los às famílias. É preciso também ver os alojamentos dos animais, que precisam de ser recuperados porque arderam também. Essa é outra intervenção que teremos de fazer”, diz Ebicídio Bilé.
G.I./Ecclesia:JCP