Vogal da Comissão Nacional Justiça e Paz critica ação de instituições sociais que não promovem a pessoa.
As respostas sociais da Igreja católica devem dar “um salto qualitativo” para um acolhimento “transformador” que quebre o ciclo de pobreza das pessoas mais fragilizadas, afirma Teresa Vasconcelos, da Comissão Nacional Justiça e Paz.
“Em que medida (as instituições da Igreja, ndr) estão a fazer apenas um remedeio temporário ou estão a ajudar os pobres a serem donos do seu próprio destino, dando-lhes meios, educação, trabalho, para que o ciclo da pobreza seja interrompido”, questiona a vogal do organismo laical da Conferência Episcopal Portuguesa, numa análise à Agência ECCLESIA sobre a mensagem do Papa Francisco para o I Dia Mundial dos Pobres.
A vogal daquele organismo sublinha o “grande trabalho a fazer” nas Instituições Particulares de Solidariedade Social, “muitas dependentes da Igreja” para uma “verdadeira atitude de compaixão e de misericórdia”.
Teresa Vasconcelos reconhece que a Igreja tem mantido uma “linha coerente” sobre o lugar dos mais desprotegidos na mensagem evangélica, mas indica na presente mensagem de Francisco um “patamar superior” na ação caritativa.
“O apelo não é apenas à «caridadezinha», e é fundamental na situação de crise providenciar aquilo que é urgente e necessário, mas que nos debrucemos realmente sobre as estruturas injustas das sociedades em que vivemos para encontrarmos meios de trabalhar para uma maior justiça social”.
Teresa Vasconcelos afirma que a desigualdade em Portugal atinge “os piores níveis na Europa” e o quadro de “estabilidade” que se vive não faz desaparecer as diferenças comprovadas por estatísticas que indicam que “situações de exploração e subemprego pioraram”.
“A prova é que encontramos cada vez mais pessoas que escolhem ir viver para a rua ou que são empurradas para isso, famílias que vivem muitas vezes uma pobreza escondida”.
A responsável reconhece, em entrevista publicada na mais recente edição do Semanário ECCLESIA, que a desigualdade mina a coesão social e afasta as pessoas da participação cívica.
“O primeiro passo da cidadania é a consciência de que se pode participar e que a participação de cada um tem impacto. Caso contrário as pessoas desistem e conformam-se”.
O Papa Francisco, no encerramento do Jubileu da Misericórdia, decidiu convocar para a Solenidade do Cristo-Rei o Dia Mundial dos Pobres, que se celebra no domingo anterior ao início do tempo litúrgico do Advento.
Nesta primeira mensagem Francisco evoca o exemplo de São Francisco de Assis que assumiu um caminho conjunto ao lado dos mais desfavorecidos, encontrando neste trajeto a via para o seu relacionamento com Deus.
“Se levarmos a sério a profundidade desta questão, «como é que Cristo faria no meu lugar?» a Igreja Católica e o mundo, em geral, serão muito mais justos e solidários. Tenho a convicção absoluta de que foi para isso que Cristo viveu entre nós”, enfatiza Teresa Vasconcelos.
A vogal da CNJP espera que perante “o absurdo da sociedade” os cristãos possam divulgar “sinais de esperança”.
“É preciso que a Igreja e os cristãos divulguem este tipo de ações. Sermos companheiros de viagem é, a meu ver, a essência desta carta e o chamamento que Deus, através de Jesus Cristo, nos faz”.
G.I./Ecclesia:LS