Documento conclusivo de reunião inédita, inaugurada pelo Papa, foi apresentado pelo Vaticano.
A inédita reunião que levou ao Vaticano mais de 300 jovens de todo o mundo, crentes e não-crentes, para falar da sua situação, chegou hoje ao fim com apelos a assumir as mudanças da era dos ‘social media’.
“Desejamos uma Igreja acessível através das redes sociais e dos vários espaços sociais”, assinala o documento conclusivo dos trabalhos, divulgado pela sala de imprensa da Santa Sé.
Ao contrário do que é habitual, o texto original é a versão em inglês e não a italiana.
“O impacto dos ‘social media’ na vida dos jovens não pode ser subestimado, as redes sociais são uma parte significativa da identidade e do modo de vida dos jovens; os ambientes digitais têm um grande potencial para unir pessoas por cima de distâncias geográficas, como nunca antes”, pode ler-se.
Os jovens participantes, incluindo três portugueses, admitem que a tecnologia pode potenciar, no entanto, situações de isolamento e “aborrecimento”, limitando os contactos a quem pensa da mesma forma.
“Faltam espaços e oportunidades para encontrar-se com a diferença”, assinala o texto.
Os participantes deixam uma nota sobre o “desacordo” que existe entre muitos jovens em relação a ensinamentos da Igreja Católica nas áreas mais “controversas”, como a contraceção, aborto, homossexualidade ou o casamento.
“Os jovens podem querer que a Igreja mude o seu ensinamento ou, pelo menos, ter acesso a uma melhor explicação e a mais formação sobre estas questões”, observam.
Nesse sentido, sublinham que os jovens “em conflito” com o ensinamento oficial querem “continuar a ser parte da Igreja” e que muitos outros aceitam estes ensinamentos como “fonte de alegria”.
O documento convida os católicos a ir ao encontro das pessoas nos locais onde elas socializam, nos bares, cafés, estádios ou espaços culturais, além de locais onde se vivem dificuldades, como “orfanatos, hospitais, periferias, zonas de guerra, prisões, comunidades de recuperação e bairros de luz vermelha”.
Os trabalhos inaugurados pelo Papa na segunda-feira, em Roma, foram acompanhados por mais 15 mil jovens, através de seis grupos linguísticos no Facebook, incluindo o português, com contributos incluídos no documento conclusivo.
A reunião foi convocada por Francisco para preparar a próxima reunião do Sínodo dos Bispos, que em outubro vai debater, no Vaticano, o tema ‘Os jovens, a fé e o discernimento vocacional’.
Ao longo de 14 páginas, a síntese dos vários contributos recolhidos esta semana manifesta o desejo de uma “Igreja autêntica, uma comunidade transparente, honesta, convidativa, comunicadora, acessível, alegre e interativa”.
O documento está dividido em três partes: os desafios e oportunidades dos jovens no mundo de hoje; a fé e a vocação, discernimento e acompanhamento; ação educativa e pastoral da Igreja.
Os jovens oferecem a sua visão como “instrumento de navegação” para uma maior compreensão da sua realidade, por parte da hierarquia católica.
O documento vai ser entregue este domingo ao Papa Francisco por um jovem do Panamá, cujo país irá acolher a próxima edição internacional da Jornada Mundial da Juventude, em janeiro de 2019.
Face a uma imagem de Igreja demasiado severa ou moralista, os jovens esperam “uma Igreja acolhedora e misericordiosa”, que ama todos.
As preocupações apresentadas passam por temas como a sexualidade, a toxicodependência, os casamentos falhados, as famílias desagregadas, os problemas sociais, a criminalidade organizada, o tráfico de seres humanos, a violência, a corrupção, o feminicídio, as perseguições e a degradação ambiental.
“Inclusão, acolhimento, misericórdia e ternura” são palavras-chaves nas propostas do mundo juvenil à Igreja Católica, a que se somam desafios para o mundo, como a paz, a “ecologia integral” ou uma “economia global sustentável”.
Os participantes denunciam a “chaga da pornografia”, incluindo os abusos de menores, e o “cyberbullyng”.
Em relação ao anúncio da mensagem cristã, os jovens esperam “testemunhas autênticas” de fé, que saibam transmiti-la com paixão, e propõem um “regresso às Escrituras”, à Bíblia, para aprofundar o conhecimento da “pessoa de Cristo”.
Esta sexta-feira, os jovens que participaram na assembleia pré-sinodal foram convidados a participar numa Via Sacra na Basílica de São João de Latrão, em Roma presidida pelo cardeal Kevin Farrell, presidente do Dicastério da Família, Leigos e Vida.
Ao logo das 14 estações, a leitura da Bíblia foi acompanhada pela leitura de um testemunho de um jovem que já tinha morrido, ou que tinha passado por dificuldades.
G.I./Ecclesia:OC