Em Semana de Oração pelas Vocações, apresentamos mais um testemunho de alguém que respondeu positivamente à vocação de consagração, o da Irmã Teresa Lázaro Ernesto do Instituto Jesus Maria José.
J.B.: O que a levou a seguir o caminho da vida consagrada?
Irmã Teresa: – A minha motivação começou desde criança, já queria ser uma irmã. Olhando para Moçambique, um país pobre quase em tudo, questionava-me: que apoio posso dar para estas pessoas, para estas crianças que vivem na rua? Fui vendo o que havia no país, mas não fornecia nada, e então eu decidi que quando crescesse seria uma religiosa. Procurei uma congregação com que me identificasse e encontrei o Instituto Jesus Maria José: apoiam a família, as crianças nas creches e escolas, os jovens. É um trabalho com toda a comunidade, dão formação e há frutos porque esses membros casam pela Igreja. Sou a primeira moçambicana do Instituto, fiz os votos em 2011, e sinto-me feliz.
J.B.: É difícil ser freira em Moçambique?
Irmã Teresa: – Em Moçambique, por enquanto, há liberdade e respeitam as irmãs. Até agora temos vocações com jovens que querem ingressar, só que às vezes a pobreza não deixa realizar os nossos objetivos. No meu caso não foi fácil localizar onde estavam as irmãs [Instituto Jesus Maria José]. Estavam a mais de 140 quilómetros de onde vivia.
J.B.: Imagino que foi uma aventura chegar lá…
Irmã Teresa: – Para sair da minha freguesia [cidade e distrito de Gurué, província da Zambézia] foi difícil, porque os transportes são poucos e não havia dinheiro. O meu pai pediu à Igreja uma bicicleta emprestada e arrisquei sozinha porque era muito perigoso irem duas pessoas naquela viagem, até ao encontro das irmãs. Tinha 14 anos. A minha mãe arranjou-me uma merenda para eu levar, uma mandioca cozida, que eu pus no saco e fui para a Zambézia, onde estavam as irmãs. Quando cheguei lá perguntaram-me o que eu estava à procura, e eu respondi que queria ser irmã. Estava lá uma irmã brasileira e ela riu-se. Ser irmã? Acha que é fácil assim, logo? disseram-me. Eu, se calhar, deveria ter dito outra coisa, que queria estar com as irmãs, mas aquela foi a resposta que dei.
J.B.: Ficou logo lá?
Irmã Teresa: – Conversei com as irmãs para ingressar no Instituto e disseram-me que se era mesmo aquilo que eu queria, elas iam ajudar-me. Quiseram saber se os meus pais tinham autorizado, eu disse que sim porque sabiam que tinha sido Deus a chamar-me. Voltei para casa e depois regressei ao Instituto fazer uma experiência de quinze dias para conhecer as regras. Em 2004 entrei como formanda, depois fui para Angola [para formação] e regressei a Moçambique. Como fui a primeira irmã moçambicana, as irmãs acharam que eu podia ser uma motivação para outras jovens, e fiz encontros em Moçambique.
J.B.: Sei que está a fazer um curso de Educação Básica, na Escola Superior de Educação de Viseu. Esse é um projeto que visa ajudar essas pessoas em Moçambique?
Irmã Teresa: – Cheguei a Portugal em 5 de março de 2016, e estou a fazer a licenciatura em Educação Básica, no Politécnico de Viseu. Este curso é uma aposta para Moçambique. As irmãs pediram-me para vir tirar este curso porque o nosso Instituto está mais ligado à educação. Como em Portugal o ensino tem mais qualidade do que em Moçambique… Depois voltarei para Moçambique para exercer lá o curso porque as crianças precisam do nosso apoio. Esse foi um objetivo da nossa fundadora, a Madre Rita, de ajudar as famílias e as crianças.
J.B.: Vai de hábito para a escola?
Irmã Teresa: – Vou assim vestida, com o hábito, o véu. No início, elas [colegas de curso] perguntavam porque é que eu estava ali, e diziam que estava a perder o meu tempo. Nos primeiros dias eu até ficava admirada. Questionava se aqui não se podia viver assim. E algumas até me diziam para tirar isto [o véu]. Isso foi no ano passado. E eu respondia que foi uma opção que fiz, livre e consciente, porque ninguém me obrigou. Já fiz os meus votos e este é o meu compromisso.
J.B.: Vê nessas atitudes um reflexo do mundo atual, onde o afastamento dos jovens da Igreja é cada vez maior?
Irmã Teresa: – É o tempo em que estamos, verem assim uma jovem na vida consagrada não lhes faz muito sentido. Os jovens estão muito afastados da Igreja, e às vezes tento dar o meu testemunho e agora algumas colegas já entendem.
J.B.: O que representa para si ser um membro da Igreja?
Irmã Teresa: Para mim é ser alguém que pode dar o seu contributo, mesmo não sendo freira, mas procurando ser fiel ao que a Igreja nos propõe.
J.B.: Qual o trabalho que desenvolve na Diocese de Viseu?
Irmã Teresa: – Para além do curso também tenho algumas atividades aqui [Lar-Escola Santo António]. Apoio na rouparia, sou sacristã e salmista. Apoio segundo as minhas competências.
J.B.: Sei que quer deixar um apelo final…
Irmã Teresa: – Sim, primeiro quero agradecer a oportunidade que o Instituto me deu para estar aqui, na terra onde nasceu e viveu a nossa fundadora [Madre Rita]. Sendo a primeira moçambicana estou aqui a procurar beber das fontes. Eu lia os livros, mas agora que posso estar nos sítios onde ela andou, o caminho que ela pisou, é uma alegria. Já estive muitas vezes na Casa Memorial da Madre Rita [Casalmendinho, Ribafeita], e tenho a história desta Igreja [de Santo António], onde ela sempre veio para fazer as suas orações. Também quero deixar um apelo aos jovens que nunca desistam dos seus objetivos, porque o Senhor chama todos os dias. Que eles escutem essa Luz que chama porque hoje a seara é grande e os trabalhadores são poucos. O Senhor precisa destes jovens. Deixem de escutar o barulho do mundo e oiçam também essa voz.
G.I./J.B.:PBA