Ricardo Araújo Pereira quer um «cartão de leitor da biblioteca» da Santa Sé.
A Capela do Rato recebeu homenagem de poesia ao seu antigo capelão, D. José Tolentino Mendonça, que a 1 de setembro inicia funções como arquivista e bibliotecário da Santa Sé, e recordou o serviço, a palavra e a amizade.
“Sempre fiquei encantado com o modo que consegue cruzar a cultura, a ideia de Deus e juntar a isso uma tolerância a incréus como eu”, disse Ricardo Araújo Pereira, que teve “a sorte” de conhecer D. José Tolentino Mendonça ainda na universidade, quando o sacerdote madeirense era o capelão.
Em declarações à Agência ECCLESIA e ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, o humorista e comentador disse que o novo arcebispo é “uma presença que tranquiliza”: “Estou ao pé dele e sinto-me um bocado mais calmo. Não sei se emite uma vibração qualquer, não sei exatamente o que ele faz”.
D. José Tolentino Mendonça vai dedicar-se a novas funções em Roma, como arquivista e bibliotecário da Santa Sé, e Ricardo Araújo Pereira revela que quer saber como consegue “arranjar cartão de leitor da biblioteca que ele vai dirigir”.
“Não sei se consigo meter uma cunha, mas vou tentar”, acrescentou o humorista.
“Desejo-lhe toda a sorte do mundo”, disse por sua vez a atriz Maria Rueff.
“Já lhe prometi que irei a Roma para rezarmos a São Felipe Neri (padroeiro dos humoristas). Cada vez é mais preciso alegria, a leveza, e isso também faz como poeta ajudar-nos a todos a ganhar leveza e alegria, mesmo com o sofrimento”, adiantou.
Neste contexto, o jornalista António Marujo destaca uma forma de expressão “capaz de arrancar sentidos escondidos ou ocultos”.
“Sentidos que não somos capazes de ver à primeira vista do texto bíblico, das experiências do quotidiano e de muitas expressões artísticas – literatura, poesia, pintura. Essa é uma das grandes marcas que fica do seu trabalho um pouco por todo o lado onde foi passando”, contextualizou o especialista na temática religiosa.
Já o escritor Pedro Mexia destacou que esta é uma personalidade que, em qualquer evento, “chega a pessoas muito diferentes”.
Segundo o critico literário, a escrita do sacerdote português “tem a ver com uma grande curiosidade e disponibilidade e vontade de diálogo” com os vários campos da cultura, do saber, e “da experiência humana” e realça da sua poesia ou crónicas palavras como “escuta, segredo, enigma”.
“Uma espécie de conhecimento das pessoas que se faz do contacto mesmo atento nas suas complexidades, contradições, e com áreas, como é a da cultura, onde a sua atenção é maior do que aquela que estamos habituados”, desenvolveu, revelando que, “por mais pena que tenha que vá embora”, a sua nomeação não “causa estranheza ou apreensão”.
Para Luísa Ribeiro Ferreira, com o padre Tolentino Mendonça a Capela do Rato “tornou-se uma comunidade” onde as pessoas “deixaram de ser só rostos” que se conheciam para passarem “a ser amigos e amigas”.
A filósofa, que frequenta a capela histórica desde o tempo do padre Alberto Neto (anos 60 e 70 do século XX), organizou cursos relacionados com a sua área do saber que “não eram necessariamente ligados com a religião”.
D. José Tolentino Mendonça espera que aquilo que a comunidade continue o diálogo entre a fé e a cultura, “entre as artes contemporâneas e o sagrado, entre a beleza e a liturgia”.
“Esta comunidade tem sido, de facto, um pequenino laboratório de experiências, de tentativas, de escuta, de novos caminhos e parece-me que, à nossa pequenina escala, é muito significativa”, desenvolveu, aos jornalistas no final do serão de ‘Poesia e Oração’.
A ordenação episcopal de D. José Tolentino Mendonça decorre este sábado, a partir das 16h00, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa; o início de funções, no Vaticano, está marcado para o dia 1 de setembro.
G.I./Ecclesia:CB/OC