Dia da Misericórdia com um grito ao combate à pobreza.
O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Viseu, Adelino Costa, alertou que o setor social “corre sérios riscos de colapso” caso o Estado não altere as regras dos acordos de cooperação protocolados com as Misericórdias e as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS). Adelino Costa falava na cerimónia do Dia da Misericórdia, que se celebrou no passado domingo, 18 de novembro, tendo-se mostrado preocupado com a sustentabilidade do terceiro setor.
“Se o setor social e solidário é considerado um importante pilar do Estado social, corre sérios riscos de colapso, porque o Estado não está a corresponder às expectativas criadas aquando da celebração do Pacto de Cooperação para a Solidariedade Social (em dezembro de 1996), em que se consagrava a autonomia das Instituições e se apontava uma comparticipação estatal não inferior a 50%”, referiu o provedor da Misericórdia de Viseu.
“Sabemos que os recursos do país são limitados, mas também consideramos que o setor social não tem sido olhado com a atenção que merece, fundamentalmente, porque grande parte dos serviços que as Misericórdias e IPSS prestam são funções da responsabilidade do Estado e que este delega. Os estudos comprovam que o rácio dos valores transferidos do Estado têm diminuído gradualmente ao ponto de colocar em causa a sobrevivência das instituições”, acrescentou o responsável.
A estas preocupações acresce a previsão do aumento do salário mínimo em janeiro de 2019 para 600 euros que, adiantou “sem questionar a justeza da atualização”, vai implicar um ainda maior encargo global.
A reflexão sobre os dias difíceis que, na sua opinião, vivem as instituições sociais vinha a propósito do tema escolhido para destaque das comemorações deste ano. No domingo assinalou-se o Dia Mundial dos Pobres, tendo a Santa Casa fixado a data no ano passado para celebrar o aniversário da instituição, motivada pela escolha do Papa Francisco para comemorar o Dia Nacional dos Pobres (terceiro domingo de novembro).
“A Misericórdia de Viseu continua a estar atenta a esses desafios. Na medida das suas disponibilidades, responderá com prontidão, qualidade e responsabilidade social, sendo estas as orientações que procuramos incutir internamente, no cumprimento da nossa missão”, garantiu Adelino Costa, juntando-se às palavras do Papa ao longo do seu discurso: “Tal como refere na mensagem alusiva a este dia, estamos rodeados por muitas formas de pobreza, devendo compreender ‘quem são os verdadeiros pobres para os quais somos chamados a dirigir o olhar, a fim de escutar o seu clamor e reconhecer as suas necessidades’”.
Integrado na programação do Dia da Misericórdia foi lançado o estudo ‘No Arquivo da Assistência – As Tipologias Hospitalares Patrocinadas pela Misericórdia de Viseu (séculos XVI-XX)’, de autoria da historiadora Vera Magalhães. Trata-se de um estudo que cobre um amplo leque cronológico e evidencia o papel social assumido pela Irmandade, sobretudo na área da saúde e da assistência.
Na Brochura que apresenta dados inéditos, Vera Magalhães aprofunda a análise documental sobre a história da Irmandade e enfatiza “não só a matriz assistencial, bem como, de forma avançada para a época, a sua capacidade de gestão hospitalar”, cumprida ao longo de cerca de cinco séculos, destacou a autora.
O Dia da Santa Casa da Misericórdia de Viseu contou ainda com uma missa solene celebrada pelo Bispo da Diocese D. António Luciano e cantada pelo Coral Lopes Morago, seguida do tradicional almoço dos irmãos, na Residência Rainha Dona Leonor.
G.I./J.B.:EA