«Quando os poderes externos deixarem o país, viveremos muito felizes» – Jo Hatem.
A comunidade cristã do Líbano celebra os 75 anos da independência do país com a esperança de um futuro livre da guerra e da interferência estrangeira, rumo a uma maior independência e autonomia.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, Jo Hatem, responsável pela EDC – Associação de Gestores e Empresários Cristãos do Líbano, realça o contexto incerto de “um país que está em guerra, quer queira admiti-lo ou não” e onde o maior desafio é “sobreviver”.
“Aqui os problemas não estão entre cristãos e muçulmanos, mas sim na instrumentalização que os poderes externos fazem das duas partes”, frisa Jo Hatem, que aponta o dedo a quem tira dividendos deste clima de conflito permanente na região.
“Estamos a travar guerras que não são as nossas, são os americanos contra os russos, são os sauditas contra os iranianos, mas não são certamente os libaneses contra os libaneses”, salienta o diretor da EDC.
Quando os poderes externos deixarem o Líbano, quando levarem os seus conflitos para outro lado, confiem em mim, nós viveremos muito felizes”.
No meio da instabilidade social e política que marca o Líbano, muitos cristãos têm deixado o país rumo a outras paragens, em busca de um futuro melhor.
Em 1910, os cristãos representavam 77,5 por cento da população do Líbano, uma parcela que atualmente se cifra nos 30,4 por cento.
Para Jo Hatem, esta situação deve tocar a comunidade internacional, e em especial os líderes cristãos de todo o mundo, no sentido de trabalharem a favor da “manutenção do cristianismo no Líbano”.
“Nós estamos no berço do cristianismo, foi aqui que ele começou e durante os últimos 2 mil anos nunca mais parou. Se perdemos as nossas raízes, perdemos tudo”, alertou o empresário cristão, que recordou também a importância deste baluarte para o equilíbrio religioso do Médio Oriente.
“Eu olho para os cristãos do Líbano como um farol do cristianismo, para os cristãos do Egito, do Iraque, da Síria e da Palestina. E todos sabemos que quando um farol é destruído os barcos perdem-se no mar, perdem a confiança e a fé e acabam por naufragar”, completou.
A EDC – Associação de Gestores e Empresários Cristãos do Líbano dedica-se a encontrar soluções que vão ao encontro das necessidades sociais e económicas das populações.
Mais recentemente, este organismo avançou para a criação de um outro organismo, o MA’AM, que junta líderes empresariais cristãos e muçulmanos em prol do desenvolvimento do país.
“O Líbano deve ser um dos poucos países, se não mesmo o único país, que não tem uma maioria cristã tolerante aos muçulmanos ou vice-versa, aqui cristãos e muçulmanos são iguais perante a lei, têm os mesmos direitos, a mesma cidadania. Somos diferentes, olhamos para Deus de diferentes pontos de vista, é verdade, mas não temos problemas entre nós”, explica Jo Hatem, que sublinha um trabalho feito em “contexto de liberdade e de compreensão mútua”.
“Nós temos encontros, refletimos sobre a melhor forma de aplicarmos na prática os valores da nossa fé comum, daquilo que nos une, aos nossos negócios e às nossas comunidades”, acrescenta o diretor da EDC, que explicita que o que está em causa “não é apenas dar dinheiro aos mais pobres”, é “encorajar” a uma atitude diferente perante os negócios e a vida.
“A coisa mais importante a fazer é encontrar alguém que pensa da mesma forma que tu e que te agarra pelo braço e te diz mantém-te firme, não deixes de acreditar. E quando estiveres no teu posto, como gestor, terás muito mais coragem para tomar decisões que vão neste sentido. É isto que nós fazemos, e se conseguirmos fazer isto, será suficiente”, concluiu.
A independência do Líbano foi oficializada a 22 de novembro de 1943, quando esta nação cortou os laços formais com a França.
Considerada a nação mais ocidentalizada do Médio Oriente, o Líbano mantém diversos traços da influência francesa, nomeadamente na capital Beirute.
G.I./Ecclesia:JCP