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Viver o Natal é viver em família

O Natal visto em família – que partilhamos neste artigo numa conversa com Hélio Domingues, até há pouco tempo responsável pelo Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar – surgiu da mensagem de D. António Luciano que, a viver o tempo de Natal pela primeira vez como  chefe da Igreja Católica viseense, dedica grande parte do texto exatamente à família: “A Diocese de Viseu está a refletir e a trabalhar a nível pastoral o tema da família”.

 Quando se fala em Natal, uma das palavras que vem ao decima é a família. Mas será que os chamados exageros comerciais à volta deste tempo de festa têm vindo a distorcer a realidade de uma família? Uma família reunida em ambiente de festa, à mesa, junto ao presépio, com a alegria a celebrar o nascimento de uma criança há 2018 anos para um cristão o “Príncipe da Paz”.

Hélio Domingues faz a pergunta de outra forma: “Como é que eu posso viver o Natal em família?”. A resposta é só uma: “Natal em família é estar… estar com os pais, estar com os filhos, estar com os irmãos, estar com os avós, estar à mesa, no fundo, estarem juntos, conviverem uns com os outros, na alegria e no aconchego”. Para uma família cristã, acrescenta, “o centro do Natal é muito mais do que os presentes e as iguarias, mas ambos fazem parte. Dar presentes é algo bíblico, motiva alegria, motiva surpresa”.

“A família é berço de tudo”

Fica claro nas palavras do diácono permanente da Diocese de Viseu que o Natal é um apelo à família, porque “a família é berço de tudo”. E não se pense que a realidade dos novos tempos, em que o número de divórcios tem disparado em Portugal, impede que um filho deixe de ter Natal. Hélio Domingues responde então à pergunta se os filhos de casais separados podem ter essa “família feliz” no Natal: “Claro que sim, a família feliz é a família que os acolhe, seja em casa do pai, seja em casa da mãe – não vamos dizer que a família de Nazaré era a família feliz – até pode ser uma madrasta ou um padrasto desde que lhe transmitam a alegria e o amor que o Natal nos permite”, respondeu servindo a resposta para o acolhimento de um filho adotado em que citou um exemplo de uma família que acompanha e é hoje mais feliz depois de, não conseguindo um filho biológica, ter avançado para a adoção não de uma, mas de duas crianças adotadas.

“O Natal não existe sem Presépio”

Hélio Domingues, conhecedor da realidade da Diocese sobre a problemática das famílias diz que leva oração à mesa de Natal “dando graças por ser presenteado” com a família que tem da qual as duas filhas são as mais novas do “aconchego”. Mas entre o “amor”, o “acolhimento”, os presentes e as iguarias, o diácono aconselha a focar a atenção das famílias no Presépio, no decorrer da noite de Natal.

“O Natal não existe sem Presépio, porque estamos a falar do que é central para um cristão: o menino Jesus, Nossa Senhora e S. José”, sublinhou o Diácono acrescentando que, tal como representa o Presépio, ao nascimento de Jesus juntaram-se depois mais elementos em família e os próprios Reis Magos com os presentes. Para o especialista em Pastoral Familiar “a simplicidade do Presépio onde se respira acolhimento” transmite valores como o saber aceitar e dar de S. José ou o amor de Maria por um filho.

Um defensor da nova linha de orientação do Papa Francisco em defesa da família, Hélio Domingues avança que “o Papa está a ajudar a um novo olhar para as famílias” coisa que, assume, nem sempre aconteceu com a Igreja. “A Igreja, às vezes, quase que fechava a porta a uma família com amarguras da vida”, sublinha o Diácono que deixa uma mensagem para dentro da Diocese: “A Diocese deve apostar na proximidade, no acolhimento, no saber explicar, no saber olhar com Misericórdia. Somos muito bons a colocar um rótulo, mas temos de desfazer isso e tentar olhar a partir do Presépio”, remata.

“Não há receitas fáceis”

“As famílias estão hoje fragilizadas”, reconhece Hélio Domingues embora ao longo da conversa em tempo de Natal tenha deixado um discurso de otimismo e esperança. E, na sua opinião, não havendo receitas fáceis para manter a família unida, “uma família que se sente família deve transmitir esse testemunho aos outros” não apenas no Natal, mas ao longo do ano.

Hélio Teixeira relata que dos últimos projetos que acompanhou na Diocese de Viseu como presidente do Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar, foi angariar famílias que dessem o seu testemunho a outras, tal como propôs o Bispo Emérito, Ilídio Leandro. “Foi fantástico, mais do que dar palestras, o testemunho de uma família cristã contagia e leva a que outras se interroguem se é na família que podem encontrar os valores do amor, da vida e da fé”, repete e dá outro exemplo: “eu sou professor e vejo muitas crianças na escola que refletem muitas dificuldades e problemas, porque faltou o chamado berço”.

“A Igreja tem de seguir ao lado da família”

O Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar deverá ser para Hélio Teixeira uma experiência de dar aos outros. Em sintonia com a Pastoral Familiar Nacional, a atividade daquele órgão da Diocese de Viseu passa por promover Jornadas, encontros, apresenta linhas de orientação de trabalho, em defesa da família. “Nestes últimos anos, com a exortação do Papa a Alegria do Amor procurámos levar essa exortação aos vários arciprestados, às várias comunidades, porque é uma carta por excelência que o Papa escreve às famílias”, acrescenta.

Para o Diácono é fulcral continuar o trabalho que está a ser feito na Diocese de “convidar vários casais para darem testemunho a outras casais” que se afastaram da Igreja, mas terão de ser “as próprias comunidades a realizar esse trabalho, com um acompanhamento da Igreja”. “A igreja tem de estar sempre ao lado da família. Às vezes, os párocos não conseguem corresponder a tudo e tivemos dificuldade em formar pequenas comunidades organizadas, mas é um trabalho que deve ser continuado”, alerta.

Hélio Domingues mostra-se preocupado com “famílias muito boas” que se “afastaram da Igreja de Deus” e com “a frieza relativamente à vida da Igreja”. Na opinião do Diácono “é preciso fazer um trabalho de acolhimento, não só acompanhar, mas acolher. A Igreja é uma mãe, por isso, é contraditório se nós nos queremos sentir irmãos, mas depois não acolhemos e vemos outros a passar ao lado. (…) o tempo de, se está divorciado nem sequer poder entrar dentro da Igreja, tem de acabar”, conclui.

G.I./Ecclesia:EA

 

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