Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

“Muitos cristãos têm sido mortos por se empenharem na denúncia das violências que ocorrem no Congo”.

O Padre Claudino Ferreira Gomes, missionário comboniano, parte no próximo dia 6 de fevereiro em missão para o nordeste da República Democrática do Congo, para Butembo, junto ao Parque Nacional de Virunga, a menos de 100 quilómetros da fronteira com o Uganda. O país atravessa desde há décadas uma guerra ora evidente ora latente, mas em que a posição da Igreja Católica se mantém como uma voz ativa na denúncia de casos diversos que assolam este território, que em tempos foi chamado de Zaire.

                Esta vai ser a terceira vez que o Padre Claudino vai em missão para aquele país africano. Profundo conhecedor da realidade congolesa, o Padre Claudino terá como missão ajudar a formar futuros missionários num país em mudança política. Em entrevista ao Jornal da Beira, o Padre Claudino traçou um retrato da missão que vai executar e do país que conhece como poucos.

Vai ajudar na formação dos candidatos a irmãos missionários. Os irmãos precisam, primeiro, de dois anos para aperfeiçoar mais a sua língua, para poderem  fazer os estudos de filosofia. Depois, os que decidirem ser irmãos missionários vão ter estudos mais técnicos. Estes, antes da fase fundamental que é o noviciado, vão ter dois anos de postulantado. O Padre Caludino vai “dar uma mão” na formação destes rapazes, nomeadamente na direção espiritual.

Os missionários combonianos fazem trabalho de animação com esses jovens, nomeadamente nos grupos missionários que lá são muito numerosos, aplicando um modelo usado em Portugal e em outros sítios – os cenáculos missionários. As pessoas juntam-se na casa de alguém, em pequenos grupos, para a leitura e a partilha da Bíblia, analisando uma situação que interpela o Evangelho hoje, quer localmente quer de fora. Essa leitura missionária faz com que as pessoas se sintam mais empenhadas no seu compromisso eclesial.

A cidade de Butembo, para onde irá o Padre Claudino, tem para cima de 400 mil habitantes, por causa da grande insegurança vivida nas zonas agrícolas, onde há agressões muito violentas, particularmente de ruandeses e de outros grupos congoleses, mas que estão aliados aos ruandeses. Eles provocam um grande terror e os agricultores fogem dos campos e das zonas de floresta. Estas pessoas são acolhidas pelas Nações Unidas em enormes aldeias de tendas brancas ou nas cidades. São centenas de milhares de famílias que fogem das zonas rurais.

Quando o Padre Claudino esteve no Congo, numa primeira fase, entre 1980-85, produziam-se camiões de feijão, de batatas, alimentos que lá no alto da montanha, na região do Kivu Norte, se produzem em quantidades enormes. Agora, esses campos estão praticamente improdutivos, por causa da fuga à violência que acontece nas zonas rurais.

Há muitas crianças abandonadas à sua sorte, nas ruas, pois muitos pais não têm dinheiro para pagar a mensalidade das escolas, que é perto de 20 euros, para os filhos estudarem. Então eles são expulsos e ficam nas ruas, e isso é um perigo, pois há muitíssimos grupos armados, lembra o Padre Claudino. Na região do Ituri há mais de 100 grupos armados, uns manipulados pelo Uganda, outros pelo Ruanda, outros pelo próprio Congo, mas todos contra o Estado. Estes grupos armados vão à procura dessas crianças e adolescentes, dão-lhes treino militar e transformam-nas em crianças-soldado e em máquinas de terror, afirma o Padre Claudino.

O sacerdote considera que, no Congo, não há propriamente guerra religiosa. Há denúncias de que grupos da al-Shabaab, do Islão mais radical, provindo da Somália, procuram instaurar ali núcleos. Mas eles são poucos e, neste momento, não há guerra religiosa no Congo. No entanto, pode ser que alguns dos ataques sejam promovidos por esses islâmicos radicais, esclarece. Agora, muitos cristãos e sobretudo padres locais (religiosos e diocesanos) têm sido mortos não por causa da religião, mas pelo empenho deles em denunciar as violências que ocorrem. Denunciam através da Internet, para que sejam do conhecimento da comunidade internacional.

O Padre Claudino afirma que Igreja Católica tem acompanhado e ajudado a metamorfose política do Congo. Quando esteve a primeira vez no Congo, no tempo do Mobutu, da ditadura pura e dura, a Igreja Católica, como ainda hoje, está sempre na linha da promoção e defesa da democracia. Opôs-se sistematicamente, e de forma muito inteligente, à ditadura de Mobutu. Depois veio a guerra de 1996-97, e mais uma vez a Igreja esteve atenta ao marxismo trazido por Laurent-Désiré Kabila, na defesa da dignidade da pessoa humana. O próprio Padre Claudino participou inteiramente num grande projeto que foi lançado em 1996, para dez anos, mas que ainda está a decorrer – um programa de educação cívica e eleitoral.

Consiste em dar um sentido cívico às pessoas  e um empenho para a participação democrática, para melhorar a vida social. Claro que as forças ditatoriais e as forças que mais jogam com a mentira e com a ignorância atacam, de facto, a Igreja, não por motivos religiosos (muitos desses atacantes são cristãos), mas porque há interesses vários  em não ver denunciadas situações de escravidão das crianças e dos adultos, e a pressão da força armada desses grupos sobre essas pessoas.

G.I./J.B.:PBA

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