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Cimeira inédita, que vai decorrer entre os próximos dias 21 e 24, reúne 190 participantes, sublinhando necessidade de «responsabilidade» e «transparência».

O porta-voz do Vaticano agradeceu hoje, em conferência de imprensa, a “coragem” das vítimas de abusos sexuais, cometidos por membros do clero ou em instituições religiosas, e o trabalho dos jornalistas que contaram as suas histórias.

“É preciso o compromisso de todos para olhar este monstro nos olhos, se o queremos derrotar”, disse Alessandro Gisotti, diretor interino da sala de imprensa da Santa Sé, na apresentação da inédita cimeira que o Papa convocou e 21 a 24 de fevereiro, sobre a proteção de menores na Igreja Católica, reunindo presidentes das conferências episcopais de todo o mundo.

O responsável destacou o papel dos media, “neste caminho doloroso”, e “coragem” das vítimas, que souberam “quebrar o silêncio”.

“O seu sofrimento exige, por nós, pelos meus filhos, pelos vossos filhos, que façamos todos os possíveis, cada um no seu próprio papel, pequeno ou grande, na Igreja, para que esta seja cada vez mais uma casa segura” para as crianças e os mais frágeis, acrescentou.

A cimeira vai reunir 190 pessoas, incluindo 114 presidentes de conferências episcopais, os chefes das Igrejas católicas orientais, os superiores da Secretaria de Estado do Vaticano, os prefeitos de várias congregações e dicastérios da Cúria Romana (Doutrina da Fé, Igrejas Orientais, Bispos, Evangelização dos Povos, Clero, Institutos de Vida Consagrada; Leigos, Família e Vida) e representantes dos institutos religiosos, além dos membros do conselho consultivo de Cardeais e membros da organização do evento.

A comissão de organizadores vai reunir-se, antes do encontro, com um grupo de representantes de vítimas de vários países e diversas associações, de forma privada.

O cardeal Blase J. Cupich, arcebispo de Chicago (EUA) e membro da comissão organizadora, disse aos jornalistas que foi “a coragem das vítimas” que fez este projeto avançar e que “a única preparação que o Papa foi “que os bispos se encontrassem com elas”, para conhecer o “sofrimento” que carregam, “todos os dias”.

“Há uma nova fase, em termos de transparência”, sustentou o responsável, que falou num tempo de “viragem”.

Questionado sobre a eventual relação entre abusos sexuais e homossexualidade no clero católico, o cardeal Cupich sublinhou que esta, “por si só, não é uma causa”, sendo necessário avaliar todos os “fatores de risco” em candidatos ao sacerdócio.

“É muito claro que tivemos, pelos menos nos EUA, uma descida muito significativa nos casos”, em particular desde 2002, acrescentou.

Com os jornalistas esteve D. Charles J. Scicluna, arcebispo de Malta e secretário-adjunto da Congregação para a Doutrina da Fé (Santa Sé), que destacou a necessidade de trabalhar na prevenção de abusos e na salvaguarda dos menores, para tornar a Igreja Católica “o lugar seguro que deve ser”.

Os três dias de trabalho, adiantou um dos mais diretos colaboradores do Papa neste campo, vão abordar, sucessivamente, um tema específico: responsabilidade, accountability (prestação de contas) e transparência.

O arcebispo maltês também agradeceu o papel da imprensa, pela sua investigação, “trazendo à luz do dia as histórias de tantas vítimas”.

O silêncio não é uma opção”.

 Para o arcebispo escolhido pelo Papa para liderar várias investigações, existe a necessidade de “quebrar qualquer código de silêncio”, de “negação” ou de “encobrimento”, porque “não há lugar no sacerdócio e na vida consagrada” para quem abusa de menores.

Já o padre Hans Zollner, presidente do Centro para a Proteção de Menores da Universidade Pontifícia Gregoriana, indicado como “referente” desta comissão, pelo Papa, apresentou o questionário prévio enviada às conferências episcopais, com 89% de respostas.

Aos bispos de todo o mundo foi pedido uma descrição da situação atual nas suas Igrejas, a identificação de “fatores de riscos” e de “fatores culturais para a falta de uma resposta adequada da Igreja”, bem com das “medidas de prevenção mais eficazes já adotadas”.

O programa da cimeira foi apresentado pelo padre Federico Lombardi, moderador do encontro.

Os participantes vão ouvir testemunhos de vítimas, discursos do Papa, relatórios e reflexões de bispos e religiosas dos cinco continentes, bem como de uma vaticanista mexicana, sobre a comunicação nestes casos.

O encontro encerra-se na tarde de sábado, na sala régia do Palácio Apostólico do Vaticano, cim uma celebração penitencial, onde também é celebrada a Missa conclusiva, no domingo.

Os principais momentos da cimeira vão ser transmitidos através dos canais do Vaticano no Youtube e redes sociais, tendo sido criada um portal de informações sobre o evento, em http://pbc2019.org/

O programa inclui momentos de oração, com testemunhos de vítimas, representadas também na Liturgia Penitencial de sábado.

No domingo, o Papa fará um discurso final, após a Eucaristia e antes do ângelus.

A comissão organizadora inclui o cardeal Blase J. Cupich; o cardeal Oswald Gracias, de Bombaim (Índia); D. Charles Scicluna; o padre Padre Hans Zollner; Gabriella Gambino e Linda Ghisoni, do Dicastério para os Leigos, Família e Vida (Santa Sé).

Estes responsáveis permanecerão em Roma, após a conclusão dos trabalhos, para dar seguimento aos mesmos.

Francisco tem repetido a necessidade de “tolerância zero” para os casos de abusos sexuais e o seu encobrimento.

O Papa destacou este domingo, no Vaticano, a importância da inédita cimeira sobre abusos sexuais e proteção de menores.

“Convido a rezar por este encontro, que quis convocar como ato de forte responsabilidade pastoral, diante de um desafio urgente do nosso tempo”, disse, desde a janela do apartamento pontifício.

G.I./Ecclesia:OC

 

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