Questão vai estar em debate esta quarta-feira na Universidade Católica, em Lisboa, com a presença de dois membros da Comissão criada pelo Papa Francisco.
Phyllis Zagano, co-autora do livro «Mulheres diáconos – Passado, presente, futuro», afirma que a restauração do diaconado feminino é a oportunidade de a Igreja dizer que “acredita no que ensina”.
“Esta é a oportunidade de a Igreja dizer que acredita no que ensina e a mulher é imagem e semelhança de Deus. Isso é que é importante”, explica à Agência ECCLESIA a professora e investigadora em Teologia nos Estados Unidos da América e membro da Comissão Pontifícia para o Diaconado Feminino, constituída pelo Papa Francisco em 2016 para refletir sobre este tema.
O CITER – Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião, da Faculdade de Teologia da Universidade Católica promove a apresentação do livro e uma conferência «O diaconado feminino – Uma questão em aberto», agendado para esta quarta-feira, às 18h00, na sede da UCP, em Lisboa, onde se dá eco à investigação e reflexão que reconhece o serviço de mulheres diáconos durante os primeiros 12 séculos da Igreja.
“Aconteceu realmente durante muitos séculos a existência das diaconisas, não se pode negar. E toda a gente o sabia, é um passado muito bem conhecido. A história da Igreja assim avança e esquecemos o que aconteceu no passado”, acrescenta à Agência ECCLESIA o jesuíta Bernard Pottier, membro da referida Comissão.
A reforma gregoriana e a separação da Igreja em 1054, entre Oriente e Ocidente, conduziu Roma a uma “organização racional das leis e do direito canónico”, “excluindo o passado”.
A restauração do diaconado permanente, depois do Concílio Vaticano II foi, para o jesuíta, “uma grande inovação na história da Igreja”, que poderia avançar também “na mesma linha”, para o diaconado feminino.
“O que impede, na realidade, não há muitas coisas que impeçam; depende do que vamos pretender fazer: se é ministério leigo, como uma bênção simples ou se é uma ordenação, como o sacramento da ordem. Essa é a grande questão. Mas restaurar não seria difícil”, dá conta o padre Pottier.
A Comissão Pontifícia para o Diaconado Feminino entregou ao papa Francisco um relatório sobre a reflexão dos seis homens e seis mulheres que constituíram o grupo de trabalho.
Phyllis Zagano não adianta o conteúdo da reflexão mas sublinha que o objetivo não seria fazer recomendações a Francisco sobre o tema em reflexão: “O Papa recebeu o relatório e eu não sou o Santo Padre, nem o Espírito Santo, o que ele faz, ele faz. Não sei”.
Mas ambos os membros da Comissão indicam a forma de governo da Igreja que Francisco tem seguido.
“Eu acredito que seria melhor ele falar com as conferências episcopais sobre o assunto. Ver se isto é algo que pertence à cultura. Se for o caso, então … os EUA poderiam dizer que sim, mas dentro do país temos 194 dioceses e cada bispo decidiria o que fazer”, avança Phyllis Zagano.
Durante a sua investigação, a professora residiu na Casa de Santa Marta e contactou com bispos e cardeais de todo o mundo, que lhe deram diferentes visões da mulher.
“A visão sobre a mulher muda, mas a visão de Cristo é a mesma”, indica a co-autora que gostaria de ver mulheres diaconisas como “um sinal para todo o mundo”.
“Não preciso tornar o mundo todo cristão, mas gostaria de mostrar ao mundo que as mulheres são valiosas. Em particular para os crentes em Deus, que as mulheres são valiosas, são preciosas, não são um bem para possuir, não servem apenas para cozinhar e limpar. É muito importante fazer estas coisas mas as mulheres têm um cérebro. E as mulheres são pessoas, humanas, totalmente humanas”, enfatiza a autora.
G.I./Ecclesia:LS