José Carlos Seabra Pereira fala em obra «eticamente norteada e esteticamente criativa».
O diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC), organismo da Igreja Católica em Portugal, evocou hoje a escritora Agustina Bessa Luís (1922-2019) pela sua “singularidade genial, eticamente norteada e esteticamente criativa”.
“O universo romanesco de Agustina é atravessado pela volúpia ante o sentido trágico da vida, mas também por um sentido de orgulho perante o insondável abismo da morte”, escreve José Carlos Seabra Pereira, professor associado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, num texto divulgado pelo SNPC, assinalando o falecimento da vencedora do Prémio Camões em 2004.
O responsável destaca referências a figuras como Santo António ou Santo Inácio de Loiola, bem como uma “aura de predestinação e sortilégio com conotação bíblica ou mítica”.
“Essa é a componente profética, sibilina, do discurso de Agustina: de facto, não é a tia Quina a verdadeira Sibila, mas sim a escrita agustiniana, configurada como vindo do acesso a (ou conhecimento de) uma verdade superior, que depois lhe cabe cifrar para os leitores”, sublinha o diretor do SNPC.
Como diria António José Saraiva, para muitos leitores e críticos Agustina Bessa-Luís é, depois de Fernando Pessoa, o segundo milagre do século XX português e, a par do brasileiro Guimarães Rosa, a mais original das contribuições da prosa portuguesa para a literatura mundial”.
Já o diretor do semanário da Diocese do Porto, ‘Voz Portucalense’, assina um texto de homenagem à falecida escritora, que considera “um nome cimeiro da literatura portuguesa”.
“Agustina de Bessa-Luís é uma figura tutelar do nosso universo cultural. Ela soube estar em cima ou ao lado, de todos os dramas humanos, com o mais profundo sentido das nossas limitações. Pela sua escrita passam as generosidades e as dúvidas, as transgressões e as fraquezas humanas”, escreve Manuel Correia Fernandes.
O bispo do Porto vai presidir esta terça-feira às exéquias de Agustina Bessa-Luís, escritora que faleceu esta segunda-feira aos 96 anos de idade.
Agustina Bessa-Luís, natural de Vila Meã, no Concelho de Amarante, recebeu em 2004 o ‘Prémio Camões’, cujo júri destacou uma obra que “traduz a criação de um universo romanesco de riqueza incomparável, contribuindo para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum”.
Em comunicado, o presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, presta homenagem á figura de “criadora” e “cidadã”, como “retrato da força telúrica de um povo”.
O Governo, por indicação do primeiro-ministro, António Costa, decretou um dia de luto nacional para terça-feira.
G.I./Ecclesia:OC