Padre Franco Martellozzo acompanha populações no Chade, promovendo «anúncio de esperança» e trabalho com os mais frágeis.
O sacerdote jesuíta italiano Franco Martellozzo, missionário em África há mais de 50 anos, desenvolveu um banco de cereais para ajudar a população do Chade a ultrapassar a fome durante os meses de seca e escasso cultivo.
Neste país do centro-norte africano é praticada a agricultura de subsistência, que acontece essencialmente de abril a setembro, altura em que a chuva é suficiente e pode ser cultivado milho, milho-miúdo, sorgo (espécie de cana de açúcar) e amendoim.
“Em setembro e outubro é feita a colheita, depois conservada até ao ano seguinte”, esclarece o jesuíta à Agência Fides, do Vaticano; a maioria dos agricultores “vende parte de seu milho justamente na época da colheita, para obter algum dinheiro para as suas necessidades mais básicas”.
Mas todos vendem simultaneamente diminuindo o valor dos produtos, indica o jesuíta.
Nessa altura, os comerciantes “compram, armazenam e esperam que as reservas de milho e sorgo dos camponeses comecem a escassear”, mas os preços aumentam, “chegando a atingir três vezes mais o valor pelo qual foi vendido pelos camponeses aos comerciantes”.
A construção de um “depósito para armazenar uma reserva de milho, que seria depois emprestado durante a entre-safra” quebra o período de escassez, pobreza e dependência durante os meses em que não se cultiva.
“Quem não tem dinheiro vende os instrumentos de lavoura ou o gado e, se isso não for suficiente, acaba a trabalhar para os grandes comerciantes, provocando um círculo vicioso de dívidas e créditos que leva muitos agricultores a um estado de semiescravidão”, relembra o padre Franco Martellozzo, após décadas no Chade.
O Banco vem cortar com o ciclo de pobreza e aproveitamento no cultivo e venda de cereais.
“Os agricultores recebem em empréstimo de um ou mais sacos de cereais que estão armazenados no banco e comprometem-se a repor o saco, após a colheita, com outros 20 quilos de milho”, explica.
Até agora foram criados 313 bancos em diferentes aldeias, permitindo assim chegar a 35 mil chefes de família e a 350 mil pessoas.
“A federação dos bancos chega a 350 mil pessoas e muitas outras aldeias estão na lista de espera, têm planos ou estão em fase de implementação. A consequência mais importante é a quase eliminação das usuras. Agora cada agricultor trabalha a própria terra e mantém a sua liberdade”, garante o jesuíta.
O Chade encontra-se geograficamente numa região instável, que teve que lidar com a crise sudanesa, para além de nos últimos anos assistir ao tráfico de imigrantes no norte do continente, onde se sentem as tensões na Líbia.
O fundamentalismo islâmico é também preocupante, com o grupo Boko Haram, regista o padre Franco Martellozzo à Fides.
“Numa situação de crise, a comunidade católica é um anúncio de esperança, disponibilizando recursos humanos, espirituais e materiais para satisfazer as necessidades das pessoas, especialmente as mais frágeis e necessitadas, na perspetiva do bem-comum”, refere o sacerdote jesuíta.
G.I./Ecclesia:LS