1. “A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva, de hoje em diante me chamaram Bem-Aventurada todas as gerações” (Lc 1, 46-48).
Parabéns à Abadessa e a todas as Irmãs que vivem neste Conventos de Santa Beatriz da Silva no Viso, nesta cidade de Viseu. Parabéns à Abadessa e às irmãs que vieram do Convento de Campo Maior, terra natal de Santa Beatriz. Parabéns à Abadessa e irmãs que vieram da comunidade do Estoril, cuja fundação se deve ao empenho de fé desta comunidade.
Obrigado a Deus, Trindade Santíssima, por este dia e Ano Jubilar da celebração festiva do Cinquentenário da presença das Irmãs da Ordem da Imaculada Conceição na Diocese de Viseu.
Parabéns! Muito Obrigado pela vossa presença. O meu coração de Pastor exulta e rejubila convosco em Deus, dizendo: “A minha alma glorífica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador”.
Estes foram os sentimentos que brotaram do coração da Bem-Aventurada Virgem Maria, a Imaculada Conceição, aquela que iluminou a vida de Santa Beatriz com o dom da mais elevada contemplação.
Quero como Maria louvar o Senhor neste dia de Festa Jubilar, Bodas de Ouro da Fundação da primeira Comunidade da Ordem das Irmãs Concepcionistas da Imaculada Conceição na Diocese de Viseu.
O acolhimento caloroso e festivo feito às Irmãs em Tourigo, concelho de Tondela, e a ereção canónica da nova comunidade aconteceram há cinquenta anos. Depois de terem peregrinado por vários lugares da diocese, nasceu, como dom da Divina Providência, o Convento de Santa Beatriz. Ao celebrarmos hoje aqui a Solenidade de Pentecostes com esta Eucaristia de Ação de Graças em Ano Jubilar, agradecemos a Deus o dom da vida contemplativa, que neste convento entrega a Deus pelas mãos de Maria, orações, preces, súplicas e ações de graças.
A fundadora da Congregação destas Monjas de Clausura, Santa Beatriz, marcou profundamente as primeiras irmãs que vieram para o centro do país na Diocese de Viseu e inspirou-as com o dom profético. Aqui continuam a viver o seu carisma com fidelidade à oração e à contemplação, dando origem ao aparecimento de novas vocações para a Congregação e a Igreja. Através da sua vocação, missão e testemunho, temos recebido graça sobre graça.
Agradeço a Deus e à Virgem Imaculada o dom de ter inspirado o Reverendíssimo Senhor D. José Pedro da Silva, Bispo da Diocese de Viseu, para dar os primeiros passos para acolher as irmãs vindas do Convento de Campo Maior na Diocese de Viseu, com a finalidade de uma nova fundação. Ele próprio se deslocou ao Convento de Campo Maior para dialogar com a Madre Abadessa e a sua comunidade, em vista de dar os primeiros passos para a fundação do novo Convento em terras de Viseu.
O primeiro grupo de Irmãs a constituir a nova comunidade passou por vários lugares até chegar à cidade de Viseu. Durante este meio século, a comunidade floresceu e cresceu, e de Viseu partiu um grupo de irmãs para fazer nascer uma nova fundação, dando origem à nova comunidade sediada no Estoril. Como é maravilhoso o Senhor! Como são grandes as suas obras, sinal de que o Seu Espírito enche de alegria e de vida a terra inteira!
2. Agradeço a Deus, à Virgem Imaculada e a Santa Beatriz a graça de termos na sede episcopal um Convento de Monjas Contemplativas, as Irmãs Concepcionistas da Imaculada Conceição, que fazem deste lugar um oásis de oração, de contemplação, de silêncio e de louvor a Deus, tornando este convento um para-raios de graças espirituais para a nossa Diocese.
As monjas rezam, pedem e suplicam a Deus graças para todos nós, imploram o dom da fortaleza ao Espírito Santo e com a proteção da Virgem Imaculada atraem do céu as graças sobrenaturais que a nossa diocese tanto necessita. Em nome da Igreja diocesana, quero agradecer a Deus o dom da vossa vocação contemplativa e imploro para cada uma o dom da contemplação, da santidade e da fidelidade na vocação. Que Deus, por intermédio da vossa oração, conceda às famílias, aos jovens e aos cristãos da nossa diocese um grande sentido daquilo que significa ser Igreja e também a graça de termos com abundância mais vocações de consagração.
Agradeço a Deus o dom desta fundação, na pátria de Santa Beatriz da Silva; um obrigado sincero a todas as fundadoras, bispos, sacerdotes e aos vossos benfeitores; a todos os que acolheram as irmãs e beneficiaram do dom da vossa vocação. No momento presente, distribuídas por três comunidades constituis os Conventos que a Ordem tem em Portugal. O número simbólico de três comunidades, evoca na memória agradecida na oração, no louvor e na contemplação, glorificando sem cessar a Santíssima Trindade.
Hoje, é para nós um dia de alegria, uma celebração festiva e de esperança, pela qual damos graças a Deus juntos em Igreja pela fase de desconfinamento social que estamos a fazer para vencer os efeitos nefastos de tão grave pandemia.
A alegria da fé, a oportunidade de podermos celebrar em comunidade, de forma presencial, a Eucaristia é um dom de Deus concedido à Igreja, que eu quero também agradecer por intercessão da Imaculada Conceição e de Santa Beatriz da Silva.
3. O tempo da Páscoa, que celebrámos desde a Ressurreição de Jesus até ao Pentecostes animados com a graça e a presença do Espírito Santo que está no meio de nós, completados cinquenta dias, chega hoje seu ao termo. Celebramos a memória gradecida do solene dia de Pentecostes em que o Espírito Santo desceu sobre Maria e os Apóstolos que estavam reunidos no Cenáculo em oração, dando origem ao nascimento oficial da Igreja perante o mundo, quando o amor de Deus derramou o Espírito Santo no coração de todos os seus fiéis.
Jesus disse aos discípulos: “O Espírito Santo virá sobre vós”. O mesmo Espírito também desceu sobre Santa Beatriz para que ela levasse ao mundo inteiro, através das suas filhas espirituais, o dom da beleza da oração e da contemplação sobrenatural. Sobre a fundação deste Convento também o Espírito Santo desceu em abundância, tornou-se um dom para aquelas que aqui vivem, a experiência de um novo Pentecostes, à semelhança do que aconteceu no Cenáculo de Jerusalém.
Muitos cristãos batizados e vós, membros destas comunidades contemplativas espalhadas pelo mundo inteiro, recebestes o dom da vocação pela graça do Espírito Santo, o Senhor que dá a Vida, para edificação da própria Igreja na diversidade e unidade dos seus carismas e dons.
As monjas de Santa Beatriz, imitando Maria, iluminadas pelas suas virtudes na docilidade ao Espírito Santo, experimentam através da vida contemplativa, da oração contínua, do silêncio interior, o dom do Espírito Santo, que faz delas verdadeiras esposas de Cristo.
No amor, na vida fraterna em comunidade, na graça, na oração, no silêncio, no perdão, na misericórdia, na paz, na comunhão, na unidade, na pobreza, na castidade, na obediência, na união, na fraternidade, na relação, na confiança, na esperança, no serviço gratuito, na amabilidade e na construção do bem, tornam-se instrumentos de salvação na Igreja e no mundo. Fazendo crescer a santidade nas suas vidas e na responsabilidade perante a construção do bem comum, o Espírito Santo vem em auxílio da nossa fraqueza e ensina-nos a rezar dizendo: Abbá, ó Pai.
4. A importância da docilidade ao Espírito Santo e da oração em comunidade, faz da nossa vida cristã algo que caracterizava a vida das primeiras comunidades eclesiais. É através da oração, do dom da contemplação e do silêncio interior que o Espírito Santo vem em auxílio da nossa fraqueza, enche o nosso coração de graça, de beleza, de fortaleza e dos seus sete dons. Este foi o caminho percorrido pelos santos e que Santa Beatriz da Silva também viveu e testemunhou de modo singular, num grau elevado de contemplação, virtude heroica que nela se tornou um verdadeiro testemunho de vida. Dócil à ação do Espírito Santo, Santa Beatriz viveu a sua vocação contemplativa e exercitou o seu carisma de fundadora num caminho de grande fidelidade à Igreja no dom da vocação e da santidade.
Quando nos sentimos e andamos tristes, abatidos, com medo, inseguros, rodeados de sinais de morte e de pandemia, aproximemo-nos do Espírito Santo, concretizando no dia a dia a nossa relação com Deus pela fé, pela oração e pelo testemunho de vida, pedindo-lhe com fé e confiança e Ele virá em auxílio das nossas fragilidades.
O Espírito Santo não é uma energia apenas positiva, o Espírito Santo é o Deus da comunhão, Uno e Trino, que vem em auxílio da nossa fraqueza e enche-nos de dons espirituais para produzirmos frutos novos de caridade para a vida do mundo.
O Espírito Santo é o Senhor da vida, o Senhor que nos dá a Vida Divina em plenitude e em abundância. Para sermos santos precisamos de ser marianos e beber da fonte de água viva que é Jesus Cristo.
Que Jesus e Maria nos ensinem a rezar juntos para pedirmos ao Espírito Santo que desça sobre nós. Jesus pede ao Pai que nos envie o Espírito Santo, o Paráclito, o Consolador, para que desça sobre nós, sobre a Igreja e sobre o nosso mundo, concedendo a cada um os seus próprios dons.
O próprio Espírito é “o dom de Deus” por excelência (cf Jo 4,10), o presente de Deus oferecido a quantos o acolhem. A Igreja identifica estes sete dons, número que simbolicamente significa plenitude e totalidade.
– O dom da Sabedoria
Não se trata simplesmente da sabedoria humana, que é fruto do conhecimento e da experiência. A Bíblia narra o momento da coroação de Salomão como rei de Israel; momento em que ele tinha pedido ao Senhor o dom da Sabedoria (cf 1Rs 3,9). A sapiência consiste precisamente nisto: é a graça de poder ver tudo com olhos de Deus. As vezes nós vemos as coisas e as realidades segundo o nosso prazer ou em conformidade com a situação do nosso coração, com amor ou com ódio, com inveja. Peçamos à Virgem Santa Maria, que é a Sede da Sabedoria, esta graça.
– O dom do Entendimento
Aqui não se trata da inteligência humana, da capacidade intelectual de que podemos ser mais ou menos dotados. Ao contrário, é uma graça que só o Espírito Santo pode infundir e que suscita no cristão a capacidade de ir além do aspeto externo da realidade e perscrutar as profundidades do pensamento de Deus e do seu desígnio de salvação. “Nem os olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem jamais passou pelo pensamento do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam”. É o dom com que o Espírito Santo nos introduz na intimidade de Deus. O dom do entendimento está intimamente ligado à fé.
– O dom do Conselho
“Bendigo o Senhor por me ter aconselhado, até de noite me inspira interiormente” (Sl 16, 7). Sabemos como é importante, nos momentos mais delicados, poder contar com sugestões de pessoas sabias e que nos amam. Através do conselho é o próprio Deus, com o seu Espírito, que ilumina o nosso coração, fazendo com que compreendamos o modo justo de falar e de nos comportarmos, e o caminho que devemos seguir. O Espírito Santo torna-se nosso Hóspede. O espírito ajuda-nos a crescer e a viver em comunidade. A condição essencial para conservar este dom é a oração. Senhor, ajudai-me, aconselhai-me e dizei-me o que devo fazer agora!
– O dom da Fortaleza
Ele vem sempre para nos apoiar nas nossas debilidades e fá-lo com um dom especial: o dom da fortaleza. Com o dom da fortaleza, o Espírito Santo liberta o terreno do nosso coração (parábola do Semeador). Liberta-o do entorpecimento, das incertezas e de todos os temores que podem detê-lo, de modo que a Palavra do Senhor seja posta em prática, de forma autêntica e jubilosa. Este dom da fortaleza é uma verdadeira ajuda; dá-nos força, liberta-nos também de tantos impedimentos. Tudo posso naquele que me fortalece!
– O dom da Ciência
Quando se fala de ciência, o pensamento humano dirige-se imediatamente para a capacidade que o homem tem de conhecer cada vez melhor a realidade que o circunda e de descobrir as leis que regulam a natureza e o universo. A ciência é um dom especial, que nos leva a entender, através da criação, a grandeza e o amor de Deus e a sua profunda relação com cada criatura. “descobrir como tudo nos fala d`Ele e do seu amor”. O dom da ciência põe-nos em profunda sintonia com o seu Criador.
– O dom da Piedade
Este dom refere-se ao cerne da nossa identidade e da nossa vida cristã. O dom da piedade, muitas vezes, é mal entendido ou considerado de modo superficial. Este dom não se identifica pela compaixão por alguém, a piedade pelo próximo, mas indica a nossa pertença a Deus e o nosso vínculo profundo com Ele; um elo que dá sentido a toda a nossa vida e que nos mantém firmes, em comunhão com Ele, até nos momentos mais difíceis e atormentados. Trata-se de uma relação vivida com o coração: “é a nossa amizade com Deus que nos foi concedida por Jesus (…) que nos enche de entusiasmo e alegria”. Este é o motivo e o sentido mais autêntico do nosso culto e da nossa adoração. Ajuda-nos a derramar este amor sobre os outros e a reconhecê-los como irmãos.
– O dom do Temor de Deus
Não significa ter medo de Deus: sabemos que Deus é Pai e nos ama, quer a nossa salvação e nos perdoa sempre; por isso não há motivo para ter medo dele! Pelo contrário, devemos confiar no Senhor e cumprir a sua santíssima vontade. Mostra-nos que somos pequenos diante de Deus e do seu amor e que o nosso bem está no nosso abandono com humildade respeito e confiança nas suas mãos. O abandono à bondade do nosso Pai, que nos ama imensamente.
Os cristãos precisam de coragem e confiança para, sem desanimo continuarem o caminho da Igreja. Somos homens e mulheres feitos de um barro frágil, que só o sopro do Espírito Santo recria e renova. A nossa senha é a oração. Contagiarmos os outros pela esperança e pela oração cheia de confiança. A nossa vida cristã assenta na vida de Cristo, morto e Ressuscitado, que nos enviou o Espírito Santo, o Senhor que dá a vida.
Por intercessão da Virgem Maria, a Imaculada Conceição, de Santa Beatriz da Silva e de todos os Santos, digamos com alegria: Vinde Espírito Santo, Senhor que dá a Vida! Descei sobre cada uma destas monjas, sobre este Convento em celebração de Bodas de Ouro, sobre toda a Congregação, sobre esta cidade e concedei-nos muitas e santas vocações! Renovai com o vosso amor a face da terra. Ámen!
Viseu, Solenidade de Pentecostes, 31 de maio de 2020
+ António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu