Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

Sede santos, porque o Senhor nosso Deus é Santo

 

1. Celebramos com alegria, com o coração em festa a Solenidade de todos os Santos. Lembramos as palavras de Jesus: “Sede santos, porque eu o Senhor vosso Deus sou Santo”. Este convite à santidade, é um convite de cada momento, de cada hora, para todos e em todas as circunstâncias e estados de vida. Por isso nos lembrava o Evangelho das Bem-Aventuranças: “Alegrai-vos e exultai, porque o vosso nome está escrito nos céus” (Mt 5,12).

Caríssimos irmãos e irmãs, caríssimos cónegos, quando nós cumprimos o nosso dever com grande amor a Deus e ao próximo, nós estamos a trilhar caminhos de santidade. Quando cuidamos dos doentes, quando sentimos a dor da separação pelo luto e pela morte de um ente querido, quer seja por Covid-19, ou de outra forma, quando na escola adquirimos novos conhecimentos, na família comunicamos valores, quando acolheis ao vosso colo os filhos, estou a lembrar-me dos pais e estou a ver essa bonita imagem, olhai que é aí que vos santificais. É no cumprimento do dever.

A Igreja honra e celebra nesta Solenidade a memória, a vida e a glória de todos os Santos. Na Igreja todos somos chamados à santidade, todos os fiéis, pastores, consagrados e leigos. Os santos viveram a sua fé como nós, celebraram a Eucaristia, receberam os Sacramentos e rezaram como nós.

“Todos os fiéis, cristãos, de qualquer condição e estado, fortalecidos com tantos e tão poderosos meios de salvação, são chamados pelo Senhor, cada um pelo seu caminho, à perfeição daquela santidade pela qual o próprio Pai é perfeito” (LG 11).

Por isso, São João na Primeira Carta, lembra-nos com afeto e amor, a verdadeira fonte da santidade: “Caríssimos: Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamar filhos de Deus. E somo-lo de facto” (1 Jo 3,1-3). Deus chama-nos a sermos seus filhos, a sermos santos “enamorados de Cristo” (Cristo Vive nº 175).

 

2. O caminho da santidade vivido com fé, esperança e caridade, que estamos a procurar viver, prepara-nos para vermos o Senhor tal como Ele é, o santíssimo, o todo puro, o inefável, prepara-nos para sermos puros como Ele. “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8), tal como Ele é um Deus de amor, de santidade, de graça, de misericórdia, de justiça e de paz. “Todos nós crentes devemos reconhecer isto: em primeiro lugar está o amor, o amor nunca deve ser colocado em risco, o maior perigo é não amar” (Fratelli Tutti nº 92). Somos chamados à plenitude da vida, ao amor, à Ressurreição, à Vida Eterna.

 

3. Nós somos chamados a este caminho de santidade. O itinerário da santidade é o caminho das Bem-Aventuranças, que nós vamos procurando viver nestes tempos difíceis, que vivemos na Igreja e no mundo. Consequência desta terrível pandemia Covid-19, que se abateu sobre a humanidade, que infetou milhões de pessoas e provocou milhares e milhares de mortos em todo mundo e em Portugal, só ontem tínhamos mais de 4.007 infetados e de 39 mortos. É o mistério da vida, o caminho da santidade, mas também o mistério da morte e para muitos um enigma. Por isso, o Papa Francisco na Carta “Fratelli Tutti”, no segundo capítulo, fala-nos do bom Samaritano e do seu agir (cf. nº 56 a 86). Com palavras e gestos queremos remar contra a maré e caminhar na santidade.

 

É preciso viver o caminho das Bem-Aventuranças e ver quem vem ao nosso encontro hoje. Por isso, como o bom Samaritano queremos encher o nosso coração de compaixão para servir os irmãos, principalmente os doentes e os pobres com resiliência, proximidade num cuidado integral da pessoa humana, à maneira e ao jeito de Jesus Cristo. Este é o caminho da santidade.

Se as consequências da economia enfraquecida, o aumento do número de pobres e de doentes não nos deixa desanimar perante as dificuldades, queremos unir-nos como cantávamos ao Senhor o todo Santo, porque nós somos também “a geração dos que procuram o Senhor” (Sl 23 (24).

Por isso, como cristãos precisamos de fazer crescer em nós uma espiritualidade de compromisso, de santidade de vida em todos os batizados.

No tempo da provação não nos abandoneis Senhor, mas ajudai-nos e ensinai-nos a viver este tempo com fecundidade espiritual no encontro convosco e no serviço de proximidade com os nossos irmãos.

 

4. Todos somos chamados à santidade na diversidade do estado de vida e no exercício da vocação e da profissão, somos chamados a viver na Igreja e no mundo estes tempos difíceis, que são de Deus e para nós são também caminho de santidade.

Deixemo-nos iluminar pela Palavra de Deus que escutámos de São João no relato Apocalipse, que nos diz que viu um Anjo do Deus vivo a clamar em alta voz: “Não causeis dano à terra, nem ao mar, nem às árvores, até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus”. Nós fomos marcados, aqueles que partiram deste mundo foram marcados com a graça do Senhor, por isso, lembra São João: “Vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro, vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão. E clamavam em alta voz: “A salvação ao nosso Deus, que está sentado no trono e ao Cordeiro” (cf. Ap 7, 2, 9-12). Este louvor e esta honra e glória queremos dá-la ao Senhor e com Ele em todos os Santos. Lembra-nos o Apóstolo estes: “São os que vieram da grande tribulação, os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14).  Lembra o nosso Papa, que os santos vieram da grande tribulação, a Igreja é chamada a encarnar em todas as situações mais terríveis que possamos viver na nossa vida o testemunho da santidade. É aí que nos identificamos com a Igreja una, santa e católica, nesta – barca de Pedro – a Igreja pode nesta experiência de graça e pecado, compreender a beleza do convite ao amor universal (cf. Fratelli Tutti nº 278). Este é o convite à santidade, é o caminho da felicidade.

 

5. Por isso, chamados a viver a vocação cristã em espírito de Bem-Aventurança, todos os anos nesta Solenidade fazemos memória de todos os Santos. É bom lembrar aqueles que foram da nossa família e viveram ao nosso lado, como nossos irmãos. Por isso, o Papa Francisco lhes chama os santos nossos vizinhos, da nossa casa e da nossa porta (Cf. Alegrai-vos e Exultai nº 6 e 7).

Ao ver as multidões Jesus subiu ao monte e sentou-se, rodearam-nos os discípulos e Ele começou a ensiná-los: Bem-Aventurados os pobres, os humildes, os que choram, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz, os que vislumbram o reino de Deus (Cf. Mt 5,1-12).

Bem-Aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. O Papa Francisco lembra-nos que: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida” (Fratelli Tutti nº 215).

Por isso acolhemos as Bem-Aventuranças como a Carta Magna do Reino, as palavras de Jesus que nos convidam a ser santos. Caminhai todos neste caminho de graça e de santidade.

 

6. Lembro S. Maximiliano Kolbe que afirmava: “É falsa a ideia bastante difundida de que os santos não foram semelhantes a nós”. Os santos foram como nós, viveram como nós. De facto, temos alguma tendência para achar que os santos foram pessoas especialmente eleitas de entre as outras e que, portanto, estavam mais capacitadas para mostrar o caminho da santidade aos demais. Mentira. Deus chama-nos, a cada um especialmente e de maneira única, para sermos imagem de Cristo no dia a dia.

A todos os que nos encontramos aqui, os pequeninos e pequeninas, os adolescentes e jovens aqui presentes digo-vos algumas palavras acerca do Beato Carlo Acutis, que entendeu esta mensagem de maneira clara e simples, sendo ainda uma criança quando decidiu, por vontade própria, seguir os passos de Jesus de uma maneira espetacularmente atual. Ele próprio foi evangelizador da sua família e de tantos outros que Deus colocou no seu caminho (Cf. Não eu, mas Deus, biografia espiritual, p.42 a 46).

O Papa Francisco convida-nos a imitar o exemplo dos santos vizinhos de “ao pé da porta” e a viver sobretudo a santidade na vida de fé e de caridade na “fraternidade e amizade social”.

 

7. O Beato Carlo Acutis aceitou o desafio da santidade e experimentou a felicidade do amor a Deus e ao próximo na sua vida. Também ele “nos ensinou a olhar para os santos como uma caixa de ferramentas que nos ajuda a construir o caminho de Jesus, usemos o exemplo da sua vida como uma ferramenta que nos provoque vontade e coragem de caminhar na santidade” (Cf. Não eu, mas Deus, p.10). Seguindo nós hoje o exemplo e o testemunho jubiloso de Todos os Santos, celebramos solenemente esta Eucaristia e recordando que a vida de Deus também é para nós sabermos pedir a sua proteção e intercessão. Carlo Acutis dizia “o meu sonho é estar com Jesus”, era fazer tudo para ir para o céu. “A Eucaristia é a autoestrada que me leva ao céu” (Carlo Acutis).

 

8. A minha oração e o meu pensamento neste momento a partir da Sé de Viseu, Igreja Mãe da nossa Diocese, onde foram sepultados os nossos primeiros pastores, quero dirigir ao nosso bom Deus, Trindade Santíssima, Pai, Filho e Espírito Santo a minha prece e as orações de todos os cristãos espalhados pelas paróquias e comunidades da nossa Diocese, uma oração de sufrágio por todos os defuntos, os nossos familiares, os que o Senhor chamou para si neste ano de modo especial as vítimas de Covid-19 da nossa Diocese. Espiritualmente o meu coração de Bispo e a minha oração que brota deste lugar sagrado e é expressão da nossa fé. Que a partir da terra santa dos cemitérios da nossa Diocese, rezemos pelos nossos defuntos, façamos sacrifícios pelo seu eterno descanso, lembrando a sua memória agradecida saibamos olhar para o céu como a nossa Pátria definitiva.

 

“Senhor e Pai da humanidade, que criastes todos os   seres humanos com a mesma dignidade, infundi em nossos corações um espírito de irmãos, inspirai-nos o sonho de um novo encontro” (Fratelli Tutti nº 287), com Deus viveremos o amor, isto é a Santidade.

Que a Bem-Aventurada Virgem Maria e todos os Santos intercedam por nós. Ámen!

 

Solenidade de Todos os Santos,1 de novembro de 2020

† António Luciano,

Bispo de Viseu

CategoryBispo, Diocese

© 2016 Diocese de Viseu. Todos os direitos reservados.
Desenvolvimento: scpdpi.com

Siga-nos: