OBSERVATÓRIO PASTORAL
Durante este tempo de pandemia, a Igreja vive a tensão entre, por um lado, cumprir rigorosamente as normas emanadas pela DGS, visando a proteção da saúde e o contágio e, por outro lado, cumprir a sua missão de anunciar, celebrar e testemunhar o Evangelho no mundo onde está inserida, de ser uma Igreja em saída. Esta tensão tem sido vivida com muitas dores e angústias, pois não podemos desistir de ajudar as pessoas a crescerem na fé e a participarem na vida das comunidades, tendo bem presente a necessidade de não colocar em risco a saúde de ninguém. No meio desta tensão, estamos preocupados, não só por saber como (ou quando) poderemos retomar a normalidade (que não será a mesma), mas também atentos às consequências e aos desafios que esta pandemia nos coloca.
Um primeiro desafio, que já o era antes, mas agora reveste-se de maior urgência, é de sermos verdadeiramente uma Igreja em saída e de portas abertas que é desafiada pela “doença, a tribulação, o medo, o isolamento e interpelada pela pobreza de quem morre sozinho, de quem está abandonado a si mesmo, de quem perde o emprego e o salário, de quem não tem abrigo e comida”, como nos diz o Papa Francisco, é altura para combater a “globalização da indiferença” e o “vírus do egoísmo”, com os “anticorpos da justiça, da caridade e da solidariedade” e desconfinando a fé, lutar contra “outras epidemias”, como a fome, a pobreza, a solidão, o desespero, o desemprego. … e muitas outras.
Um segundo desafio, consiste em recuperar o sentido de pertença e participação na vida comunitária, uma característica que não pode ser esquecida sobre o risco da perda de um dos elementos essenciais dos cristãos. A comunidade cristã, que se reúne em assembleia celebrativa e orante, que já vinha a sofrer algumas debilidades, vê-se agora fortemente abalada e terá de ser (re)construída. Trata-se de não nos lamentarmos pela pandemia, mas olhar para a pandemia como uma oportunidade de missão e de evangelização. Como nos diz o Cardeal Tolentino “não podemos abandonar a pandemia, mas devemos tornar a pandemia terra de missão: o aqui e o agora são sempre os lugares onde Deus fala e age”.
Um terceiro desafio, que a pandemia veio colocar a toda a Igreja, é a necessidade de abandonarmos lógicas e práticas pastorais individuais. A pandemia pôs a descoberto a necessidade de um trabalho em rede e colaborativo que ultrapasse a tentação do isolamento e do egoísmo. Nesta pandemia experimentamos a fragilidade e a desorientação, mas na pós-pandemia podemos descobrir a possibilidade de remarmos juntos e nos encorajar mutuamente. Não podemos viver por conta própria os desafios da história, só os podemos viver juntos.
Trata-se de perceber que estamos todos na mesma barca e que Jesus vai ao leme. Tantas vezes andamos em barquinhos, outros em barcaças e em jangadas e não temos consciência de que estamos de facto na mesma barca, que é a Igreja, e que devemos remar juntos para o mesmo lado.
Por último, sob estes desafios, uma palavra de esperança, que nos vem do Novo Diretório para a Catequese, nº 38: “O nosso tempo é complexo, atravessado por alterações profundas e marcado por fenómenos de afastamento da experiência de fé e da experiência eclesial. O próprio caminho eclesial fica marcado por dificuldades e por exigências de renovação espiritual, moral, pastoral. Ainda assim, o Espírito Santo continua a suscitar nos homens a sede de Deus e, na Igreja, um novo fervor, novos métodos e novas expressões para o anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo.”