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Que neste tempo da Quaresma saibamos sempre escutar o Filho muito amado de Deus.

A Quaresma, sendo este tempo de peregrinação que nos prepara para viver a Páscoa, ajuda-nos à luz da Palavra de Deus, do jejum, da abstinência e da caridade a transformar o nosso coração com a luz divina, que se revelou no monte alto, onde à luz de Deus, se transfigurou o coração de Pedro, Tiago e João, onde se sentiram envolvidos na brancura das vestes de Jesus, que é a graça santificante. Também nós à luz da Palavra de Deus, que escutámos devemos deixar-nos transfigurar pelo mistério da paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Desta experiência de deserto a subir ao monte Tabor, há de nascer a vida nova em Cristo Ressuscitado.

O Papa Francisco, diz-nos na sua mensagem para a Quaresma, que este “caminho” deve ser de renovação da “fé, esperança e caridade” seguindo a Cristo, que “se fez obediente até à morte e morte de cruz” (Filp 2,8).

Devemos deixar tudo para seguir o chamamento de Deus e fazer a sua vontade, só assim imitando a fé de Abraão, o amigo de Deus, no sacrifício e na provação, que é a entrega do seu próprio filho.

No final Abraão sente-se abençoado e nele vê ser abençoada toda a terra. Muitas vezes, irmãos e irmãs, o sacrifício e a provação que estamos a viver, também fruto desta pandemia tem um paralelo com o sacrifício e a provação pedida por Deus a Abraão. Esta atitude é para nós um desafio, não para sacrificar o próprio Filho de Deus, mas para nos sacrificarmos a nós e assim recebermos de modo salvífico o Filho de Deus. Por isso, a Quaresma é “o tempo da conversão”, vivido por quem tem esperança, para voltar a dirigir o seu olhar para a paciência de Deus, que continua a

cuidar da sua Criação, não obstante nós a maltratarmos com frequência (cf. Enc. Laudato Si, no 32-33.43-44).

Na Quaresma que estamos a viver, queremos estar mais atentos e “dizer palavras de incentivo, que reconfortam, consolam, fortalecem, estimulam, em vez de palavras que humilham, angustiam, irritam, desprezam” (cf. FT, 223). Às vezes para dar esperança basta ser “uma pessoa amável, que deixa de lado o azedume, as preocupações, tem urgência em prestar atenção ao outro, oferecer um sorriso, dizer uma palavra de estímulo, possibilitar um espaço de escuta e de diálogo no meio de tanta indiferença” ( cf. FT, 224).

Sendo este o tempo favorável da salvação, deve ajudar-nos a crescer na escuta da palavra de Deus, na oração, na reconciliação, na busca dos sacramentos, no cuidado, no serviço, na caridade e na atenção aos outros. Não podemos deixar passar despercebido o início da Semana da Cáritas, com o lema “É o Amor que transforma”.

A Transfiguração de Jesus é uma revelação daquilo que Ele será, o Cristo glorioso. Do monte Tabor é preciso subir ao monte Calvário, ao monte das Oliveiras onde Jesus se elevou ao Céu para nos abrir a porta fundamental que dá sentido à nossa vida. Se a nuvem simboliza a presença de Deus, que está presente ao longo da história da salvação, no Antigo Testamento a figura de Moisés e Elias destacam a grande missão daqueles que estiveram ao serviço do Povo de Israel. Na verdade Moisés é o líder zeloso e transmissor da Lei de Deus. Elias é o grande profeta, que interpretava e transmitia a vontade de Deus.

É preciso neste tempo de Quaresma, Domingo da Transfiguração, deixarmos a planície da mediocridade, para subir ao monte da graça onde se realiza a comunhão, a unidade, a fraternidade e a amabilidade. Vamos com alegria ao monte da salvação. Não deixemos que este tempo de pandemia e provação nos roube a esperança de passar da planície das dificuldades e da prova, para subirmos com fé ao monte da Revelação Divina, onde encontraremos o Senhor e guardaremos as suas palavras no nosso coração.

Que o tempo que estamos a viver e a celebrar seja uma oportunidade e uma possibilidade para ouvirmos sempre e com fé as palavras de Jesus e escutá-las.

“Se alguém quiser seguir-Me, tome a sua cruz e siga-Me todos os dias”, depois virá a vossa glória, isto é que é a Transfiguração. Mas antes eles têm que percorrer o caminho da Cruz. São Paulo na Carta aos Romanos diz-nos: “Se Deus está por nós, quem estará contra nós. Deus não poupou o Seu próprio Filho, mas entregou-o por nós” (Rom 8, 31b).

São João afirma, que: “Deus amou tanto o mundo que lhe deu o Seu próprio Filho, para que todo o que n`Ele acredita não pereça, mas tenha a vida eterna” (cf. Jo 3,16).

Cristo sofreu, como nós também sofremos, morreu como nós havemos de morrer, ressuscitou para nós acreditarmos, que se também nós fizermos a sua vontade ressuscitaremos e subiremos ao Céu onde Ele se encontra sentado, à direita do Pai.

Rezemos, para que termine bem depressa este confinamento, a pandemia seja controlada e possamos celebrar comunitariamente a Eucaristia.

Deixemo-nos transfigurar pela graça de Deus, morto e ressuscitado. Saibamos dizer, como ouvimos tantas vezes no tempo Quaresmal, “o Senhor salvou-me, porque me tem amor. Não há maior prova de amor, do que dar a vida pelos amigos”. Senhor, quando éramos pecadores, tu amaste-nos primeiro.

Ao terminarmos o mês de fevereiro e ao iniciarmos o mês dedicado a Nossa Senhora e a São José, ao iniciarmos também o Ano da “Família Amoris Laetitiae”, deixemos transfigurar o nosso coração com a ajuda de Nossa Senhora, para transformarmos a Igreja e o mundo. Ámen.

 

Viseu, 28 de fevereiro de 2021

 

† António Luciano dos Santos Costa,
Bispo de Viseu
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